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ID
1263202
Banca
IDECAN
Órgão
Colégio Pedro II
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              A complicada arte de ver


      Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
      Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver”.
      William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

                               (Rubem Alves. Disponível em: http://www.releituras.com/i_airon_rubemalves.asp. Acesso em: 05/2014.)


“O autor narra os acontecimentos a partir de um ponto de vista, o foco narrativo. Deste modo, é correto afirmar que, no texto, observa-se o foco narrativo em _________________, sendo a visão dos fatos ________________.” Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente a afirmação anterior.

Alternativas
Comentários
  • É uma narrativa de primeira pessoa (subjetiva), pois o autor faz parte da história, é um dos personagens. A visão dos fatos são trechos de descrição subjetiva. A mulher e o poeta vêem a cebola de um modo diferente, particular. O narrador e sua antiga vizinha também tem uma visão particular do ipê.

  • O tipo de narrador é o Narrador Personagem, no qual, a história é narrada em 1º pessoa e o narrador é um personagem e participa da história.


  • "É importante observar que, nas narrações em primeira pessoa, nem tudo o que é afirmado pelo narrador corresponde à "verdade", pois, como ele participa dos acontecimentos, tem deles uma visão própria, individual e, portanto, parcial. A principal característica desse foco é, então, a visão subjetiva que o narrador tem dos fatos: ele narra apenas o que vê, observa e sente, ou seja, os fatos passam pelo filtro de sua emoção e percepção."

    http://www.brasilescola.com/redacao/gramatica-da-narracao.htm

  • Foco narrativo em primeira pessoa, mais claramente observado em trechos como: "Eu fiquei em silêncio"; "Eu me levantei". 

    Consequentemente, a visão dos fatos é subjetiva. O narrador participa dos acontecimentos, tem uma visão individual, parcial, subjetiva.

  • Resposta E - 1ª pessoa (narrador personagem) / subjetiva

  • Primeira Pessoa/Subjetividade:

    ''Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura.''

    ''eu olhei para ela e tive um susto''


  • Gabarito: e

    A narrativa pode estar em primeira ou terceira pessoa, dependendo do papel que o narrador assuma em relação à história. A narrativa pode ser objetiva ou subjetiva. NARRATIVA OBJETIVA - apenas informa os fatos, sem se deixar envolver emocionalmente com o que está noticiado. É de cunho impessoal e direto. NARRATIVA SUBJETIVA - leva-se em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. São ressaltados os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens.