SóProvas


ID
1275136
Banca
FCC
Órgão
AL-PE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.


                Vitalino


        A mãe de Vitalino era louceira. E foi vendo-a moldar os tourinhos de cachaço crivado de furos para neles se espetarem os palitos de dentes, que Vitalino sentiu aos seis anos vontade de plasmar* aqueles outros bichos, como os via no terreiro da casa – galos, cachorros, calangos. Depois feras – onças, jacarés. Depois gente ... 

        Também a arte de Vitalino veio se complicando. Já não se limita ele aos simples bichinhos de plástica* tão ingenuamente pura. Atira-se a composições de grupos, com meio metro de comprido e uns vinte centímetros de altura. Cenas da terra: casamentos, confissões na igreja, o soldado pegando o ladrão de galinhas ou o bêbado, a moenda, a casa de farinha etc. 

        Aliás, nesse delicioso ainda que humilde gênero de escultura, Vitalino não está sozinho, não. Outras cidadezinhas do interior de Pernambuco (em todo o Nordeste, creio eu, não sou entendido no assunto, esta crônica devia ter sido encomendada à mestra Cecília Meireles) têm o seu Vitalino. Por exemplo, Sirinhaém tem o seu Severino. Naturalmente, quando se trata de saber quem entre os dois é o tal, os colecionadores se dividem. E, naturalmente, também os [irmãos] Condé torcem para o Vitalino, que é de Caruaru.

        Já tive muitas dessas figurinhas em minha casa. Não sei se alguma era de Vitalino ou de Severino. Sei que eram realmente obras de arte, especialmente certo papagaiozinho naquela atitude jururu de quem (quem papagaio) está bolando para acertar uma digna do anedotário da espécie. Acabei dando o meu papagaio. Sempre acabo dando os meus calungas de barro. Não há coisa quese dê com mais prazer. 

        Mesmo porque, quando não se dá, elas se quebram. Se quebram com a maior facilidade. E isso, na minha idade, é de uma melancolia que me põe doente. Não quero mais saber de coisas efêmeras*. Deus me livre de ganhar afeição a passarinho: eles morrem à toa. Flor mesmo dei para só gostar de ver onde nasceu, a rosa na roseira etc. Uma flor que murcha num vaso está acima de minhas forças


*plasmar = moldar, modelar 

*plástica = arte de plasmar; forma do corpo 

*efêmero = que dura um dia; passageiro, temporário, transitório 

(Adaptado de: BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. único, 1993, p. 479-481) 


A afirmativa correta, de acordo com o texto, é:

Alternativas
Comentários
  •  No último parágrafo, o autor se mostra desiludido perante as circunstâncias da vida, usando como elemento de comparação a fragilidade das figurinhas esculpidas em barro.

  • Resposta letra D

    Questão dava para ser respondida por eliminação. Percebemos que as alternativas, excluindo a D, extrapolam à ideia do texto ou muito restringem tornando-as equivocadas.

    Dica ao interpretar procure elementos no texto que apoiam a resposta e que viciam as demais.


    Força, fé e perseverança!!

  • Alguém poderia me ajudar, pois achei que a letra "C" estivesse certa. Obrigada!

  • Natália, a letra C está errada. A explicação está no segundo parágrafo do texto. Veja:

    "Também a arte de Vitalino veio se complicando. Já não se limita ele aos simples bichinhos de plástica* tão ingenuamente pura. Atira-se a composições de grupos, com meio metro de comprido e uns vinte centímetros de altura. Cenas da terra: casamentos, confissões na igreja, o soldado pegando o ladrão de galinhas ou o bêbado, a moenda, a casa de farinha etc. "

    Logo, não há constatação de extrema simplicidade e de ingenuidade que identifique o artesanato nordestino.


  • Dica para interpretação:

    Sempre quando ele pedir a idéia geral, afirmativa correta, etc, antes de perder tempo lendo todo o texto, vá para as alternativas.Se tiver alguma citando algum parágrafo específico, é 80% de chances que esta é a alternativa correta. Logo, leia primeiro este parágrafo e caso realmente não seja aí vá para o texto.

    Eles fazem isso por causa do tempo de prova.....