(...) Na obra "Concepção Dialética da História" ou originalmente publicada com o título em italiano Il Materialismo Storico e La Filosofia Di Benedetto Croce, é recorrente ao pensamento gramsciano no que se refere a sua concepção de história. Para Gramsci (1987), o materialismo histórico não pode ser desvinculado do projeto filosófico da práxis. Para isso, é necessário compreendermos esse conceito de filosofia da práxis.
Gramsci afirma: “não há filosofia, ou seja, concepção de mundo sem nossa consciência de historicidade...” (p. 13). Portanto, ele continua: “na realidade, não existe filosofia em geral: existem diversas filosofias ou concepções do mundo e sempre se faz uma escolha entre elas... A escolha e a crítica de uma concepção do mundo são, também, fatos políticos” (p. 14-15).
A filosofia na compreensão de Gramsci é visão de mundo, assim, uma condição política. Como, então, entendê-la a partir da práxis? Para Gramsci (1987), a filosofia da práxis é uma atitude crítica de superação da antiga maneira de pensar, tendo como elemento importante o pensamento concreto existente (universo cultural existente). A filosofia da práxis busca a superação do senso comum e propõe elevar a condição cultural da massa e dos indivíduos. Por que esta é uma visão “enriquecedora” do materialismo histórico dialético?
A práxis, entendida como uma unidade dialética entre teoria e prática, não é um fator meramente mecânico e sim o construto do devinir o histórico. Esse devir histórico deve ser também entendido na lógica do ser humano (ou sua natureza) como a expressão da coletividade e suas ações transformadoras de si e dos outros, cujas relações são de natureza social e histórica.
Essa unidade entre teoria e ação é uma relação dialética que postula o ser histórico como político, ampliando a visão de filosofia e política como dados totalizantes, sendo a “filosofia” a história em ato, a própria condição existencial (GRAMSCI, 1987). Para Lincoln Secco (CULT-141), a filosofia da práxis de Gramsci “avançou em uma nova seara do marxismo” (p. 60), pois apresentou uma superação do materialismo vulgar de Bukharin, pois esta estabelece uma relação mecânica entre estrutura e superestrutura (forças produtivas e política, cultura, arte). Isso tolera o aspecto da liberdade dos sujeitos, políticos na história, devido aos condicionantes deterministas.