Saindo da caixinha.
Uma das qualidades do bom redator, ser conciso não significa escrever pouco, mas evitar redundâncias e cortar o excesso sem comprometer a eficácia da comunicação.
Para especialistas, no entanto, a fórmula "menos é mais" nem sempre é válida em qualquer circunstância quando o assunto é redigir um texto de qualidade. A concisão depende do contexto, não deve ser vista como cláusula pétrea da escrita: “A concisão não pode ser vista como algo absoluto, deve ser relativizada - afirma Maria Helena de Moura Neves, professora de letras do Mackenzie e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara.”
Em 1957, o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) batizou o fenômeno de "superstição de estilo" no livro Discussão (Bertrand Brasil, 1994: 15). A expressão traduz a crença de que toda concisão é sempre virtude, mas toma por conciso "quem se demora em dez frases breves e não quem maneje uma frase longa", escreve Borges.
Ser conciso significa evitar a repetição de ideias e palavras, e cortar informações desnecessárias num dado contexto, mas não é preciso escrever pouco para atingir este objetivo: “ Concisão não significa texto curto, ainda que seja um recurso para se conseguir reduzir a extensão de um texto - afirma Carlos Minchillo, professor de português e doutorando em literatura brasileira na USP.”
- Às vezes é preciso reincorporar o que foi alterado - afirma o professor.
- A questão é a expressão do texto e não seu tamanho - diz.
- No dia a dia, as publicações impressas têm de ser mais objetivas porque competem com a agilidade da informação on-line, mas é possível aprofundar discussões em outros momentos - diz Marcelino Freire.
A própria internet tornou-se, paradoxalmente, o espaço para o texto longo. Nada impede que um breve sumário sobre um assunto dê acesso, num clique, a um caudaloso texto escrito com as palavras necessárias, não mais do que as necessárias. Que texto longo não é sinônimo de verborragia. Nem concisão tem resultado confiável em qualquer circunstância.