Um vocábulo é clítico quando não tem uma forma tónica e se sujeita, foneticamente, a uma palavra a que se liga. Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa, 1999, página 89, identifica as classes de palavras que podem surgir como clíticos, considerando mesmo que algumas palavras tónicas na estrutura frásica perdem a autonomia fonética, digamos assim. Dá como exemplos o artigo em «o rei», /urrey/ e «deve estar», /devistar/, que em Portugal se realizam foneticamente como [u’rɐy] e [devɨʃ’tar]. Repare-se que nestes conjuntos, ou sequências fonéticas, parece ocorrer um só acento tónico que vai assinalado, por mim, com (ˈ).
Bechara, na mesma página, separa as palavras clíticas que ocorrem antes da palavra foneticamente dominante, ou seja, em posição proclítica, das que surgem depois dessa palavra, em posição enclítica. As classes de palavras que identifica como proclíticas pertencem às seguintes classes:
a) artigos
b) alguns numerais, como um, três, cem
c) pronomes adjuntos antepostos (ou determinantes): demonstrativos, possessivos, indefinidos…
d) pronomes pessoais antepostos
e) pronomes relativos
f) verbos auxiliares
g) certos advérbios: já (já vi), não (não posso)
h) certas preposições: a, de, em, com, por, sem, sob, para
i) certas conjunções: e, nem, ou, mas, que, se, como, etc.
Como enclíticos, refere os pronomes pessoais átonos.
O critério que se adopta para identificar uma palavra clítica é o da análise do seu comportamento fonético em contexto, ou seja, em sequências fonéticas.
Independentemente do que se diz atrás — e que é relevante para percebermos o que significa clítico —, tradicionalmente, quando falamos de clíticos, pensamos, sobretudo, nos pronomes pessoais átonos.