SóProvas


ID
1333372
Banca
FCC
Órgão
TRT - 13ª Região (PB)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Hoje, aos 88 anos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman é considerado um dos pensadores mais eminentes do declínio da civilização. Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta explicar a Luís A. Giron as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da informação. 

L.A.G. − De acordo com sua análise, as pessoas vivem um senso de desorientação. Perdemos a fé em nós mesmos? 

Zygmunt Bauman − Ainda que a proclamação do “fim da história” de Francis Fukuyama não faça sentido, podemos falar legitimamente do “fim do futuro”. Durante toda a era moderna, nossos ancestrais avaliaram a virtude de suas realizações pela crescente (genuína ou suposta) proximidade de uma linha final, o modelo da sociedade que queriam estabelecer. A visão do futuro guiava o presente. Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro, de modo que estamos mais descuidados, ignorantes e negligentes quanto ao que virá. Fomos repelidos pelos atalhos do dia de hoje. 

L.A.G. − As redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede?

Bauman − As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que experimentamos quando estamos no mundo on-line da internet. 

L.A.G. − Como o senhor vê a nova onda de protestos no Oriente Médio, nos Estados Unidos e na América Latina, que aumentou nos últimos anos? 

Bauman − Se Marx e Engels escrevessem o Manifesto Comunista hoje, teriam de substituir a célebre frase inicial – “Um espectro ronda a Europa − o espectro do comunismo” − pela seguinte: “Um espectro ronda o planeta − o espectro da indignação”. Esse novo espectro comprova a novidade de nossa situação em relação ao ano de 1848, quando Marx e Engels publicaram o Manifesto. Faltam-nos precedentes históricos para aprender com os protestos de massa e seguir adiante. Ainda estamos tateando no escuro.

L.A.G. − O senhor afirma que as elites adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude? 

Bauman − Em relação ao domínio das escolhas culturais, a resposta é que não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites renunciaram às ambições passadas de empreender uma missão iluminadora da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar tudo. 

L.A.G. − Como diz o crítico George Steiner, os produtos culturais hoje visam ao máximo impacto e à obsolescência instantânea. Há uma saída para salvar a arte como uma experiência humana importante? 

Bauman − Esses produtos se comportam como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas na sociedade dos consumidores. Uma vez que a busca pelo lucro continua a ser o motor mais importante da economia, há pouca oportunidade para que os objetos de arte cessem de obedecer à sentença de Steiner. 

L.A.G. − Seus livros parecem pessimistas, talvez porque abram demais os olhos dos leitores. O senhor é pessimista? 

Bauman − A meu ver, os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos... Mas acredito que essa classificação binária de atitudes não é exaustiva. Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria.

(Adaptado da entrevista de: GIRON, Luís Antônio, publicada na revista Época. 19/02/2014. Disponível em http://epoca.globo.com




Depreende-se corretamente do texto:

Alternativas
Comentários
  • Gab: letra E

    Não entendi esse gabarito, alguém explica?

  • A partir da afirmação de que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos..., infere-se que os chamados “pessimistas” desejam um mundo melhor do que o que se apresenta à humanidade hoje.

    Último parágrafo: EXISTE UMA TERCEIRA CATEGORIA: PESSOAS COM ESPERANÇA. EU ME COLOCO NESSA TERCEIRA CATEGORIA. 

    GABARITO: E

  • Eu discordo que o último parágrafo seja o fator decisivo para  o gabarito.
    Ora, a suspeita por parte dos otimistas que os pessimistas possam estar certos não necessariamente implica que eles (pessimistas) desejam um mundo melhor. Mais coerente é dizer que uma terceira categoria, pessoas com esperança, estas sim, desejam um mundo melhor.

    Maas...na velha prática de marcar a "mais acertada" a letra E é a favorita.

  • Os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos, ou seja, infelizmente, este é o melhor mundo que podemos ter. Gostariam de um mundo melhor, mas não acreditam na possibilidade de sua concretização. O pessimista não quer um mundo ruim, senão esse mundo ruim para ele seria um mundo bom, então ele seria um otimista. Já os otimistas estão contentes com este mundo. Viajei um pouco, mas é isso.

  • Questão complicada, sem pé e sem cabeça! kkkkk Até agora não entendi! Alguém por favor, consegue compreender o gabarito?

  • Quebrei a cabeça, mas consegui acertar a questão. Sem pé nem cabeça, concordo...rezar pra não aparecer uma dessas na hora da prova pois na hora do nervosismo ler um texto desse tamanho, todo confuso, pra acabar...

  • a)Para Bauman, o consumode produtos na sociedadedeve ser diferenciado da fruição de obras artísticas, pois a função engrandecedora da arte e seu valor intrínseco mantiveram-se intactos, mesmo diante do impacto da sociedade de consumo.

    Isso não é verdade. Veja: Linha 57 “hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar tudo”. Ora, a globalização mudou o mundo, bem como o jeito de comprar e adquirir as coisas. Em relação a primeira parte, veja (linha 54): “...é que não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais...”. Ou seja, os valores são outros. Ademais, segundo a linha 18, “...estamos mais descuidados, ignorantes...”

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    b)Bauman embasa a afirmação de que podemosfalar legitimamente do “fim do futuro” no fato de que perdemos a fé em nós mesmos, razão pela qual é considerado “pessimista”, pelo entrevistador.

    Existe uma alteração de afirmações, veja (linha 11): “perdemos a fé em nós mesmos?” é uma pergunta direta, realizada pelo entrevistador. O Baumam utiliza-se de outros fundamentos. Veja (linhas 13,14,15,16): “...a visão do futuro guiava o presente”. Segundo o escritor, hoje não é mais assim (linha 18). Ademais, não podemos cravar que o autor seja pessimista. O entrevistador disse “Seus livros parecem pessimistas, ...”. Isto é, seus “livros” parecem! Não é certo que ele seja. Além disto, ele menciona que faz parte da terceira categoria (linha 77).

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    c)Anovidade de nossa situação em relação ao ano de 1848refere-se ao fato de que, na atualidade, a tecnologia permite e facilita mobilizações em massa com velocidade jamais vista na história da humanidade.

    Não há ligação alguma. Não se fala em velocidade de conexão no texto, muito menos que essa velocidade jamais foi vista. Esta alternativa extrapola o texto.

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    d)Bauman relaciona o fato de queas elites renunciaram às ambições (...) de empreender uma missão iluminadora da culturaà baixa qualidade dos produtos artísticos atualmente consumidos pela maioria.

    Não é isso que ele quis dizer. Linha 54 e 55: “...não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco (íntimo) das ofertas culturais disponíveis.”. A alternativa fala em baixa qualidade (extrapola o texto). Outrossim, Baumam fala em elites e não em maioria consumidora.

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    e)A partir da afirmação de queos pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos..., infere-se que os chamados “pessimistas” desejam um mundo melhor do que o que se apresenta à humanidade hoje.

    Sim. Veja o comando da questão: “A partir da afirmação de queos pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos..., infere-se que...” .Ou seja, a partir desse comando. Raciocínio lógico: Se para os otimistas o mundo está ótimo, para os pessimistas os mundo não está tão ótimo assim. Porém, como os pessimistas “suspeitam” que os otimistas podem estar certo, eles acreditam que o mundo de amanhã pode ser melhor que o mundo de hoje ou de ontem.

  • Gabarito: E.


    a) Para Bauman, o consumo de produtos na sociedade deve ser diferenciado da fruição de obras artísticas, pois a função engrandecedora da arte e seu valor intrínseco mantiveram-se intactos, mesmo diante do impacto da sociedade de consumo. ERRADO.


    A questão está errada, pois a função engrandecedora da arte e seu valor intrínseco NÃO se mantiveram intactos.


    Linha 60 a 69.


    b) Bauman embasa a afirmação de que podemos falar legitimamente do “fim do futuro” no fato de que perdemos a fé em nós mesmos, razão pela qual é considerado “pessimista”, pelo entrevistador. ERRADO.


    Ele não é considerado pessimista, mas sim esperançoso.


    Linhas 70 a 78.


    c) novidade de nossa situação em relação ao ano de 1848 refere-se ao fato de que, na atualidade, a tecnologia permite e facilita mobilizações em massa com velocidade jamais vista na história da humanidade. ERRADO.


    A novidade decorre do novo espectro, o da INDIGNAÇÃO.


    Linhas 43 a 47.


     d) Bauman relaciona o fato de que as elites renunciaram às ambições (...) de empreender uma missão iluminadora da cultura à baixa qualidade dos produtos artísticos atualmente consumidos pela maioria. ERRADO.


    As elites estão preocupadas com o consumismo, pois elas medem sua superioridade cultural pela capacidade de “devorar tudo”.


    Linhas 58 a 30.


    e) A partir da afirmação de que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos..., infere-se que os chamados “pessimistas” desejam um mundo melhor do que o que se apresenta à humanidade hoje. CORRETO.

  • Não concordo com esse gabarito, embora entenda que a alternativa E seja a menos errada. 

    Quando Bauman diz que os otimistas acreditam ser esse mundo o melhor para viver e os pessimistas suspeitam que os otimistas estejam certos, eu entendi que eles suspeitam que realmente este mundo seja o melhor, e que quem deseja que este se torne o melhor é a terceira categoria - os esperançosos.
    Fazer o quê, brigar com a banca é bobagem, o jeito é se conformar.
  • Não dá para concluir que o gabarito correto seja a letra E.  Pessoalmente, entendo que o examinador está forçando a barra e impondo isso goela abaixo.  O último trecho  há uma observação do  entrevistado indicando uma terceira categoria e desde quando isso significa que pessimistas” desejam um mundo melhor do que o que se apresenta à humanidade hoje."



  • Nunca que no último parágrafo se tem que os pessimistas desejam um mundo melhor, mas sim o que os otimistas acreditam que seja: um melhor mundo possível.

    Temos que aceitar e calado... pqp. 

  • com certeza quando fala "DEPREENDE-SE do texto" nao é oque o texto fala nele proprio,mais sim oque ele leva a concluir,ou seja,esta alem do texto...temos que abrir os olhos.... SABER DIFERENCIAR INTERPRETAÇÃO DE COMPREENSAO DE TEXTO...
    fcc é muito ruim nesse tema,mas quem quer passar tem q batalhar.
  • até acertei a questão mas levei 8 minutos pra responder, onde em média terei 3 minutos para tal. tensooo

  • Concordo plenamente com o Marcos Andreico em relação a alternativa E, minha linha de raciocínio foi a mesma. 
    Respondi letra B  pois Bauman se considera esperançoso, e deduzi que o entrevistador o considerou pessimista baseado em seus livros, por isso o questiona.