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ID
1334806
Banca
PR-4 UFRJ
Órgão
UFRJ
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO - PAZ GLOBAL IMPOSSÍVEL
Umberto Eco


Perto do final de dezembro, a Academia Universal das Culturas discutiu em Paris o tema de como se pode imaginar a paz nos dias de hoje. Não definir ou desejar, mas imaginar. Logo, a paz parece ainda ser não apenas uma meta distante, mas um objeto desconhecido. Os teólogos a definiram como a “tranquillita ordinis".


A tranquilidade de que ordem? Somos todos vítimas de um mito original: havia uma condição edênica, depois essa tranquilidade foi violada pelo primeiro ato de violência. Mas Heráclito nos preveniu de que “a luta é a regra do mundo, e a guerra é geradora comum e senhora de todas as coisas". No início houve a guerra, e a evolução implica uma luta pela vida.


As grandes pazes que conhecemos na História, como a paz romana, ou, em nosso tempo, a paz americana (mas também já houve paz soviética, paz otomana, paz chinesa), foram resultados de uma conquista e uma pressão militar contínua através das quais se mantinha uma certa ordem e se reduzia o grau de conflitos no centro, à custa de algumas tantas pequenas, porém sangrentas, guerras periféricas. A coisa pode agradar a quem está no olho do furacão, mas quem está na periferia sofre a violência que serve para conservar o equilíbrio do sistema. “Nossa" paz se obtém sempre ao preço da guerra que sofrem os outros.


Isso deveria nos levar a uma conclusão cínica, porém realista: se queres a paz (para ti), prepara a guerra (contra os outros). Entretanto, nas últimas décadas, a guerra se transformou em algo tão complexo que não costuma mais chegar ao fim com uma situação de paz, nem que seja apenas provisória. Ao longo dos séculos, a finalidade da guerra tem sido a de derrotar o inimigo em seu próprio território, mantendo-o no desconhecimento quanto a nossos movimentos para poder pegá-lo de surpresa, conseguindo forte solidariedade na frente interna. Hoje, depois das guerras do Golfo e de Kosovo, temos visto não apenas jornalistas ocidentais falando das cidades inimigas bombardeadas, como também os representantes dos países adversários expressando-se livremente em nossas telas de televisão. Os meios de comunicação informavam ao inimigo sobre as posições e os movimentos dos “nossos", como se Mata Hari tivesse se transformado em diretora da televisão local. Os chamados do inimigo dentro de nossa própria casa e a prova visual insuportável da destruição provocada pela guerra levaram a que se dissesse que não se deveriam assassinar os inimigos (ou mostrar que eram assassinados por engano),e, por outro lado, parecia insustentável a idéia de que um dos nossos pudesse morrer. Dá para se fazer uma guerra nessas condições?



“Dá para se fazer uma guerra nessas condições?” A marca da guerra moderna que mais acentuadamente provocou a reação do autor do texto, contida na frase destacada, é:

Alternativas
Comentários
  • “Dá para se fazer uma guerra nessas condições?” A marca da guerra moderna que mais acentuadamente provocou a reação do autor do texto, contida na frase destacada.

    Compreendo que o "nessas condições" refere-se ao periodo mencionado anteriormente:

     

    "Os chamados do inimigo dentro de nossa própria casa e a prova visual insuportável da destruição provocada pela guerra levaram a que se dissesse que não se deveriam assassinar os inimigos (ou mostrar que eram assassinados por engano),e, por outro lado, parecia insustentável a idéia de que um dos nossos pudesse morrer."

     

    Alguém pode explicar o motivo da banca considerar a letra D como gabarito certo?

  • Indiquei essa questão para o comentário do professor, pois creio que haja duas respostas corretas: a D e a E

  • Dá para se fazer uma guerra nessas condições? Que condições?

    Fiz por exclusão das alternativas. Fiquei entre D e E

    B) e C) - “Os chamados do inimigo dentro de nossa própria casa” e “a prova visual insuportável da destruição” são ideias que se somam. Não podem ser a resposta. Têm o mesmo valor.

    D) "...levaram a que se dissesse não se deveriam assassinar os inimigos" - é a consequencia de B) e C).

    A) “mostrar que eram assassinados apenas por engano” - Atenuação da ideia-forte em D): em vez de dizermos aquilo, diremos isso.

    E) "parecia insustentável a idéia de que um dos nossos pudesse morrer" - É uma ideia que se adiciona como contraponto à principal: por um lado o inimigo não pode morrer, por outro lado "os nossos" também não podem. É uma ideia mais fraca.

    A D resume todo paradoxo do texto: “não se deveriam assassinar os inimigos”. 

    Guerras são inevitáveis. A destruição do inimigo em seu território era a regra... Hoje, depois das Guerras do Golfo... a informação, a propaganda do inimigo... e chegamos à (absurda) conclusão de que não deve matar os inimigos ... também não podemos morrer. Como fazer guerra assim?

  • Comentários do professor urgente!!!

  • a alternativa D e E se complementam. duas corretas.

  • essa nao dá pra compreender mesmo

  • Pra mim se refere ao período inteiro, PR-4 se achando FGV era só o que faltava!