SóProvas


ID
1339063
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-PE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas criações que, salvo idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis das lendas populares ou as personagens das velhas farsas de mamulengos.
     Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas erradas.
      Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe.
      Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito.
      O vestuário da personagem - fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha - também se fixou pelo consenso do público.
      Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito.
      Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco.
      Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humor que são O garoto, Em busca do ouro e O circo.
      Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário discernimento psicológico. Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.
      Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas.


(Adaptado de: Manuel Bandeira. “O heroísmo de Carlito”.Crônicas da província do Brasil. 2. ed. São Paulo, Cosac Naify, 2006, p. 219-20)

Ao refletir sobre a arte de Chaplin, Manuel Bandeira estabelece uma distinção entre o que é

Alternativas
Comentários
  • Alguém sabe em que frase encontro a resposta da questão?

  • Amigo...talvez seja útil a você, contudo , não sei absolutamente em que frase está a resposta.
    Acredito que estão em períodos do texto...abraço...

       Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas erradas. 
     Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe. 
     Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito. 
     O vestuário da personagem - fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha - também se fixou pelo consenso do público. 
     Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. 
     Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco. 
     Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humor que são O garoto

  • Está nesse aqui, Thiago: Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.

  • LETRA A.  Essas questoes são mais chatas que a da CESPE. No 9º e 10º paragrafo tem a resposta, veja:  Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário discernimento psicológico. Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público. 
     Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia.

  • A resposta para a questão está no entendimento do texto como um todo. A leitura das alternativas, por si só, já elimina algumas pela discordância com o texto.  

  • a-popular num sentido superior, quando o artista sensível, a partir das reações do público, descobre em si mesmo o que é mais típico do ser humano, e o que é vulgar, quando o artista medíocre apenas transige com o gosto predominante.

    A resposta se dá pela análise do texto de onde se consegue retirar certas passagens referente a letra "a" como:Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe; Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público (sendo aqui uma das citações que me fez responder a questão quando Manuel Bandeira faz a comparação entre ele e outros artistas em suas formas de atuar) e Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas.

  • Colegas, tive um pouco de dificuldade para definir por qual razão a assertiva C estaria errada. Conclui que teria havido extrapolação do texto, embora ache que, dependendo da interpretação que se dê a expressão "e o que é mais sério e profundo", a assertiva poderia ser considerada correta.

    A) CERTA. Primeiro o autor afirma que “Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitvo da cabeça de Chaplin. Foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas erradas”. Em seguida, afirma que “Chaplin observada sobre o público o efeito de cada detalhe”.  Em outro trecho, afirma “Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização do personagem Carlito”. Quanto se reporta à mediocridade, o autor afirma que Chaplin tinha um “extraordinário discernimento psicológico” e que “se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público”.

    b) ERRADA. No texto, o autor não restringe a característica de universalidade à arte cinematográfica. No primeiro parágrafo compara a universalidade da arte de Chaplin  com os heróis das lendas populares e personagens das velhas farsas de mamulengos.

    c)ERRADA. O texto indica que o êxito pode surgir mesmo quando o artista não tem conhecimento das expectativas do público, como afirmado no trecho “Um dos trechos mais característicos da pessoa de Carlito foi achado casual...”. No entanto, o autor não distingue a forma de conhecimento do que é feito para levar ao riso daquela que se refere ao que é “considerado mais sério e profundo”.

    d) ERRADA. O texto não fala sobre artistas herméticos, que desconsidera de todo o gosto do público.

    e. ERRADA. O autor não correlaciona a mudança de roupas e acessórios com a vulgaridade do artista.

    Resposta:A

  • Fiquei em dúvida ente a C e a E. Respondi C porque o autor deixou claro que a causa de a originalidade de Chaplin ter se extremado não foi o fato de ele ter descido até o público - porque muitos autores descem até o público e acabam vulgarizando-se. A causa de ela se ter extremado foi o fato de ele ser um artista sensível, com profundidade e discernimento psicológico; qualidades que o fizeram crescer em originalidade ao descer ao público. Eureca! Espero ter ajudado.

  • A resposta que demonstra o erro da letra E , encontra-se nesse trecho:

    "Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público." 

    Aquilo que diferencia o artista genial (Chaplin) do vulgar é o discernimento psicológico (pensamento, lirismo, ternura, ...), diferente do vulgar que condescendem (se adaptam) ao gosto popular.