Miró
Para atingir sua expressão fontana 
Miró precisava de esquecer os traços e as doutrinas 
que aprendera nos livros. 
Desejava atingir a pureza de não saber mais nada. 
Fazia um ritual para atingir essa pureza: ia ao fundo 
do quintal à busca de uma árvore.
E ali, ao pé da árvore, enterrava de vez tudo aquilo
E ali, ao pé da árvore, enterrava de vez tudo aquilo
que havia aprendido nos livros. 
Depois depositava sobre o enterro uma nobre 
mijada florestal. 
Sobre o enterro nasciam borboletas, restos de 
insetos, cascas de cigarra etc.
A partir dos restos Miró iniciava a sua engenharia 
de cores. 
Muitas vezes chegava a iluminuras a partir de um 
dejeto de mosca deixado na tela.
Sua expressão fontana se iniciava naquela mancha
Sua expressão fontana se iniciava naquela mancha
escura.
O escuro o iluminava.
(Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 385)
No poema, o sentido de “expressão fontana” equivale, em linhas gerais,
        
    O escuro o iluminava.
(Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 385)
No poema, o sentido de “expressão fontana” equivale, em linhas gerais,