SóProvas


ID
1348279
Banca
FGV
Órgão
COMPESA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eu e ele

No vertiginoso mundo dos computadores o meu, que devo ter há uns quatro ou cinco anos, já pode ser definido como uma carroça. Nosso convívio não tem sido muito confortável. Ele produz um texto limpo, e é só o que lhe peço. Desde que literalmente metíamos a mão no barro e depois gravávamos nossos símbolos primitivos com cunhas em tabletes até as laudas arrancadas da máquina de escrever para serem revisadas com esferográfica, não havia processo de escrever que não deixasse vestígio nos dedos. Nem o abnegado monge copiando escrituras na sua cela asséptica estava livre do tinteiro virado. Agora, não. Damos ordens ao computador, que faz o trabalho sujo por nós. Deixamos de ser trabalhadores braçais e viramos gerentes de texto. Ficamos pós-industriais. Com os dedos limpos.

Mas com um custo. Nosso trabalho ficou menos respeitável. O que ganhamos em asseio perdemos em autoridade. A um computador não se olha de cima, como se olhava uma máquina de escrever. Ele nos olha na cara. Tela no olho. A máquina de escrever fazia o que você queria, mesmo que fosse a tapa. Já o computador impõe certas regras. Se erramos, ele nos avisa. Não diz “Burro!”, mas está implícito na sua correção. Ele é mais inteligente do que você. Sabe mais coisas, e está subentendido que você jamais aproveitará metade do que ele sabe. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando estiver sendo programado por um igual. Isto é, outro computador. A máquina de escrever podia ter recursos que você também nunca usaria (abandonei a minha sem saber para o que servia “tabulador”, por exemplo), mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguenta os humanos por falta de coisa melhor, no momento.

Eu e o computador jamais seríamos íntimos. Nosso relacionamento é puramente profissional. Mesmo porque, acho que ele não se rebaixaria ao ponto de ser meu amigo. E seu ar de reprovação cresce. Agora mesmo, pedi para ele enviar esta crônica para o jornal e ele perguntou: “Tem certeza?”

(Luís Fernando Veríssimo)

A pergunta final do computador tem a finalidade de

Alternativas
Comentários
  • Oi Elaine, o que achou deste gabarito. Você tem alguma explicação? Não conseguir entender!!!

  • ?????? FGV

  • Como o autor conduz a crônica por meio da ironia, do humor, a única opção adequada é a letra C, pois a pergunta do computador ("Tem certeza?") tem o objetivo de ironizar o valor da crônica a ser enviada, uma vez que, ao longo do texto, o autor discorre sobre o computador e ele, como se fossem ambos pessoas. É como se o computador perguntasse literalmente se o autor tem o desejo de realmente enviar a crônica.

    Gabarito C.

  • Liu, você devia citar a fonte de seu comentário, pois ele não é seu. Esse comentário é do professor Fernando Pestana. Mesmo que a intensão seja ajudar aos que não tem assinatura, acho que o certo é citar a fonte. 

  • Questões de português da FGV, a dica que eu dou é ao invés de pegar uma gramática e dissecar, tentar descobrir quais os pontos e conceitos que mais são cobrados, e depois disso, fazer muitas questões com muita concentração, voltando a pergunta e ao texto quantas vezes forem necessários, se você se distrair um pouquinho, pode ter certeza que vai errar.

  • 09. C

    “Mesmo porque, acho que ele não se rebaixaria ao ponto de ser meu amigo. E seu ar de reprovação cresce. Agora mesmo, pedi para ele enviar esta crônica para o jornal e ele perguntou: ‘Tem certeza?’”

    A pergunta final do computador tem o objetivo de ironizar o valor da crônica a ser enviada.

    Algumas passagens do texto – “Ele (o computador) é mais inteligente do que você”; “Sabe mais coisas...”; “E seu ar de reprovação cresce” – autorizam essa interpretação. Afinal, com todas essas características, não causa surpresa o computador ironizar o valor da crônica, questionar se ela é digna de ser publicada em um jornal. Daí a pergunta: “Tem certeza?”.

    Dos cinco verbos que iniciam as cinco opções oferecidas pela banca, o que apresenta maior afinidade semântica com “ironizar” – resposta correta – é “debochar”.

    Entretanto, a afirmativa (E)  – debochar da inteligência dos humanos – não é a melhor resposta, devido à sua abrangência.

    Ao examinar o título do texto – Eu e ele – e o trecho “Eu e o computador jamais seremos íntimos. Nosso relacionamento é puramente profissional”, verifica-se que o foco do texto é o relacionamento entre autor e computador. Não entre este e os humanos em geral.

  • q?????????????? Banca do inferno!

    A pergunta está entre aspas, ela foi feita pelo computador, não tem nada a ver com a letra C ou qualquer outra, no máximo a letra A, pois o quando o programa pergunta se quer realmente enviar (o PC busca dar oportunidade para o agente, no caso o cronista, repensar se irá mesmo enviar), isso poderia (bem irrazoável) ser entendido como uma desconfiança do computador (extrapolação total, maaaassss!!!), pois acredito que nem tenha gabarito correto.

    FGV é foda, cada prova é um desespero!

  • "Se eu tô mandando enviar, é para enviar!"

    Quando o computador pergunta se tem certaza, ele não está avaliando conteúdo de nada, pois não atribui nenhum julgamento de valor, simplismente pergunta se vc quer mesmo que envie, o que leva a crer que está "tirando onda" do autor - debochando da inteligência do ser humano... Enfim, caso de inferência, subjetividade...

    Mais uma vez esse tipo de questão subjetiva. Onde se avalia conhecimento nesse tipo de questão???

  • A ironia é alguém que vc quer dizer ao contrário, basicamente isso, correto?! mas ela poder ser acompanhado por "aspas" 

    Exemplo: as crianças parecem um " anjinhos". Isso quer dizer que as crianças perturba, percebe que eu quis dizer algum contrário sobre as crianças e que o anjinhos é acompanhado por aspas. Espero te ajudado.

     

  • as questões de interpretação dessa prova de português da FGV é uma das coisas mais absurdas que já vi

  • É como se o computador estivesse dizendo "tem certeza que deseja enviar isso?" de forma quase debochada.