SóProvas


ID
1348282
Banca
FGV
Órgão
COMPESA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eu e ele

No vertiginoso mundo dos computadores o meu, que devo ter há uns quatro ou cinco anos, já pode ser definido como uma carroça. Nosso convívio não tem sido muito confortável. Ele produz um texto limpo, e é só o que lhe peço. Desde que literalmente metíamos a mão no barro e depois gravávamos nossos símbolos primitivos com cunhas em tabletes até as laudas arrancadas da máquina de escrever para serem revisadas com esferográfica, não havia processo de escrever que não deixasse vestígio nos dedos. Nem o abnegado monge copiando escrituras na sua cela asséptica estava livre do tinteiro virado. Agora, não. Damos ordens ao computador, que faz o trabalho sujo por nós. Deixamos de ser trabalhadores braçais e viramos gerentes de texto. Ficamos pós-industriais. Com os dedos limpos.

Mas com um custo. Nosso trabalho ficou menos respeitável. O que ganhamos em asseio perdemos em autoridade. A um computador não se olha de cima, como se olhava uma máquina de escrever. Ele nos olha na cara. Tela no olho. A máquina de escrever fazia o que você queria, mesmo que fosse a tapa. Já o computador impõe certas regras. Se erramos, ele nos avisa. Não diz “Burro!”, mas está implícito na sua correção. Ele é mais inteligente do que você. Sabe mais coisas, e está subentendido que você jamais aproveitará metade do que ele sabe. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando estiver sendo programado por um igual. Isto é, outro computador. A máquina de escrever podia ter recursos que você também nunca usaria (abandonei a minha sem saber para o que servia “tabulador”, por exemplo), mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguenta os humanos por falta de coisa melhor, no momento.

Eu e o computador jamais seríamos íntimos. Nosso relacionamento é puramente profissional. Mesmo porque, acho que ele não se rebaixaria ao ponto de ser meu amigo. E seu ar de reprovação cresce. Agora mesmo, pedi para ele enviar esta crônica para o jornal e ele perguntou: “Tem certeza?”

(Luís Fernando Veríssimo)

Há numerosos substantivos da Língua Portuguesa formados por derivação regressiva, ou seja, derivados de verbos.

Assinale o vocábulo que não se encontra nesse caso.

Alternativas
Comentários
  • a pior coisa que tem é você errar uma questão e quando vai ao comentário só tem o gabarito..rsrs..não estou criticando, apenas desabafando

  • Ocorre derivação regressiva quando uma palavra é formada não poracréscimo, mas por redução.

    Exemplos:

    comprar (verbo) beijar (verbo) compra (substantivo)beijo (substantivo)

    Por derivação regressiva, formam-se basicamente substantivos a partirde verbos. Por isso, recebem o nome de substantivos deverbais. Note quena linguagem popular, são frequentes os exemplos de palavras formadas por derivaçãoregressiva. Veja:

    o portuga (de português) 
    o boteco (de botequim)
    o comuna (de comunista)

    Ou ainda:

    agito (de agitar)
    amasso (de amassar)
    chego (de chegar)


    Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf5.php

  • queria saber se convívio não vem de conviver..

  • [Resposta] Ao contrário daquilo que se possa supor, do ponto de vista da língua portuguesa contemporânea, o substantivo convívio não é formado por derivação regressiva do verbo conviver. Numa análise diacrónica, verificamos que este substantivo é uma adaptação do vocábulo latino convivĭumĭi, «participação em banquete, convidado», derivado do verbo latino convīvi, is, vixi, victum, ĕre, que significa «viver com», e que a derivação do mesmo ocorreu ainda em língua latina, sendo que convīvi é formado por derivação regressiva do verbovivĕre (Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001).

  • Conviver > convivência (e não convívio) 

  • Uma palavra formada por derivação regressiva é um substantivo abstrato derivado de um verbo que indica ação. Na passagem do verbo para substantivo, a desinência de infinitivo "r"e a vogal temática do verbo "a", "e" ou "i" são eliminadas, dando lugar a uma vogal temática nominal ("a", "e" ou "o"). Nisso, a palavra regride de tamanho. Exemplos: resgatar > resgate, cantar > canto…

    (A) trabalhar > trabalho

    (B) custar > custo

    ©convívio é palavra primitiva, não deriva de conviver.

    (D) assear > asseio

    (E)processar > processo

    Gabarito C.

  • Eu trabalho - OK

    Eu custo (a fazer alguma coisa) - OK Eu convívio (???) - não dá Eu asseio - OK Eu processo - OK
  • Acho que quem acertou esta questão só acertou pq viu o gabarito antes, ou por pura sorte. Se foi o caso de vc saber uma exceção desta, parabéns mesmo!
    "e que a derivação do mesmo ocorreu ainda em língua latina"
    (leia o comentário do Pami)

  • questão difícil do cão

  • Fui pelo mesmo raciocínio do Ranger Vermelho (rsrs - hora de morfar - rindo à toa).

    Última questão dessa prova e 50% de acerto. :0 (toda prova dessa banca é isso)

    Eu trabalho - OK - Eu custo (a fazer alguma coisa) - OK - Eu convívio (???) - não dá - Eu asseio - OK Eu processo - OK.

    Pode ser que nem tenha nada a ver, mas deu certo, hehehe.

    Bons estudos!

  • Por mais que voces acertem, indiquem TODAS as questoes da fgv de portugues para comentário

  • tb só acertei 50%  dessa prova, desanimador, mas ñ podemos desistir

  • Galera, vamos solicitar comentário do professor!

  • Convívio vem de conviver que, por sua vez, existe sem o prefixo con. Já a palavra convívio só existe ´´em bloco´´, com prefixo e sufixo, logo, trata-se de derivação parassintética.