SóProvas


ID
1352473
Banca
FUNCAB
Órgão
MDA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     No primeiro dia, foi o gesto genial. Era um domingo. Ao se curvar no campo do estádio espanhol, descascar a banana, comê-la de uma abocanhada e cobrar o escanteio, Daniel Alves assombrou o mundo. Não só o mundo do futebol, esse que chama juiz de “veado” e negro de “macaco” . O baiano Daniel, mestiço de pele escura e olhos claros, assombrou o mundo inteiro extracampo. Vimos e revimos a cena várias vezes. “Foi natural e intuitivo” , disse Daniel, o lateral direito responsável pelo início da virada do Barcelona no jogo contra o Vilarreal. Por isso mesmo, por um gesto mudo, simples, rápido e aparentemente sem raiva, Daniel foi pop, simbólico, político e eficaz.
     Só que, hoje, ninguém, nem Daniel Alves, consegue ser original por mais de 15 segundos. Andy Warhol previa, na década de 1960, que no futuro todos seriamos famosos por 15 minutos. Pois o futuro chegou e banalizou os atos geniais, transformando tudo numa lata de sopa de tomate Campbells. A banana do Daniel primeiro reapareceu na mão de Neymar, também vítima de episódios de racismo em estádios. Neymar escreveu na rede em defesa do colega e dele próprio: "Tomaaaaa bando de racistas, #somostodosmacacos e daí? ’’ Uma reação legítima, mas sem a maturidade do Daniel. Natural. Há quase dez anos de estrada de vida entre um e outro.
     Imediatamente a banana passou a ser triturada por milhares de “ selfies " . O casal Luciano Huck -Angélica lançou uma camiseta #somostodosmacacos. Branco, o casal que jamais correu o risco de ser chamado o de macaco apropriou -se do gesto genial , por isso foi bombardeado por ovos e tomates na rede, chamado de oportunista. A presidente Dilma Rousseff, em seu perfil no Twitter, também pegou carona no gesto de Daniel “contra o racismo" e chamou de “ousada” a atitude dele. Depois de ler muitas manifestações, acho que #somostodosbobos, a não ser, claro, quem sente na pele o peso do preconceito.
     “Estou há onze anos na Espanha, e há onze é igual... Tem de rir desses atrasados” , disse Daniel ao sair do gramado no domingo. Depois precisou explicar que não quis generalizar. “Não quis dizer que a Espanha seja racista. Mas sim que há racismo na Espanha, porque sofro isso em campos (de futebol) diferentes. Não foi um caso isolado. Não sou vítima, nem estou abatido. Isso só me fortalece, e continuarei denunciando atitudes racistas” .
     Tudo que se seguiu àquele centésimo de segundo em que Daniel pegou a fruta e a comeu, com a mesma naturalidade do espanhol Rafael Nadal em intervalo técnico de torneios mundiais de tênis, como se fizesse parte do script, tudo o que se seguiu àquele gesto é banal. Os “selfies” , a camiseta do casal 1.000, o tuíte de Dilma, as explicações de Daniel após o jogo, esta coluna. Até a nota oficial do Vilarreal, dizendo que identificou o torcedor racista e o baniu do estádio El Madrigal “para o resto da vida” . Daniel continuou a evitar as cascas de banana. Disse que o ideal, para conscientizar sobre o racismo, seria fazer o torcedor “pagar o mal com o bem” .

AQUINO, Ruth de. Rev. Época: 05 maio 2014.

Em: “... tudo o que se seguiu àquele gesto é banal” . (§ 5), a próclise do pronome átono SE é exigência, no português padrão, da mesma norma que determina a próclise do pronome destacado em:

Alternativas
Comentários
  • No que tange à próclise nesta questão, é utilizada quando houver um fator de atração, no caso, como conjunção subordinativa.

    Letra A: conjunção subordinativa

    Letra B: Advérbio (tudo)

    Letra C: Advérbio (nada)

    Letra D: Evidencia interrogações

    Letra E: próclise facultativa com pronomes pessoais

  • proclise obrigatoria : ocorre quando houver um fator de atração , ou seja, uma palavra ou expressão que atraia o pronome obliquio para antes do verbo : pronomes relativos ou pronomes demontrativos . 

  • Fatores de próclise (atração)

    1 – Advérbios;

    Ex.: Agora se negam a depor.

     

    2 – Palavras negativas;

    Ex.: Não lhe enviei o relatório, nem o orientei devidamente.

     

    3 – Pronomes relativos;

    Ex.: Identificaram duas pessoas que se encontravam desaparecidas.

     

    4 – Pronomes demonstrativos;

    Ex.: Isso me diz respeito.

     

    5 – Pronomes indefinidos;

    Ex.: Poucos lhe deram a oportunidade.

     

    6 – Conjunções subordinativas;

    Ex.: Quando me vi sozinho, chorei.

    Temos mais quatro observações importantes

    7 – Verbos no infinitivo sempre admitem o uso da ênclise.

    Ex.: Não importar-se com o que ocorra.

    Note-se que, devido à presença do verbo no infinitivo, o pronome poderá permanecer após a forma verbal, mesmo que haja fator atrativo. Sem problemas, também poderíamos ter a seguinte construção: “Não se importar com o que ocorra”.

     

    8 – Verbos no particípio e no futuro jamais admitem o uso da ênclise.

    Ex.: Ninguém deve ter se lembrado desses mecanismos.

    Ex.: Tratar-me-ei.

     

    Lembre-se de que a mesóclise só poderá ocorrer com verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito, desde que não haja um fator de próclise, ou seja, uma palavra atrativa. Veja outros exemplos:

    Realizar-se-ia uma nova reunião. (sem fator atrativo)

    Mostrar-lhe-ei outros projetos. (sem fator atrativo)

    Não te enviarei outra proposta. (com fator atrativo)

    Depois se buscaria uma solução melhor. (com fator atrativo)

     

    9 – A expressão “em + verbo no gerúndio” exige a próclise.

    Ex.: Em se tratando desse assunto, Rodrigo é especialista.

     

    10 – Frases exclamativas, interrogativas e optativas (frases que exprimem desejo) exigem a próclise.

    Ex.: Como te julgaram!

    Ex.: Como se chama o presidente do Senado Federal?

    Ex.: Bons ventos o tragam, Lucas Gonçalves.

     

    https://www.aprovaconcursos.com.br/noticias/2015/09/02/10-regras-para-o-perfeito-uso-da-colocacao-pronominal/