SóProvas


ID
1381705
Banca
FUNCAB
Órgão
SEFAZ-BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No Brasil, podemos não estar na vanguarda tecnológica. Mas, na legislativa, acho que de vez em quando damos mostras de que temos condição, havendo vontade política, de aspirar a uma posição de destaque. Agora mesmo, leio aqui que se encontra em curso, na Câmara de Deputados, um projeto para a regulamentação da profissão de escritor. Já houve uma tentativa anterior, aliás estranhamente apoiada por alguns escritores profissionais, que não vingou. Mas deve ser uma área atraente demais para ainda não estar regulamentada. Claro, nem todas as atividades, ofícios e profissões estão ainda regulamentadas, mas a dos escritores parece ser importante em excesso, para tão prolongado esquecimento gorvenamental.

Não li o projeto, mas é claro que ele não pode ser discriminatório. Para definir o escritor, tem-se que ser o mais abrangente possível. Escreveu, valeu. Valerão, portanto, não só livros como panfletos, discursos, sermões, cartas, bilhetes, diários, memorandos, relatórios, bulas de remédio e - por que não? - um caprichado cardápio de restaurante. Como dizer a um sujeito que escreveu que ele não é escritor? Acusações de preconceito, incorreção política e discriminação se tornarão inevitáveis, se todo aquele que escrever não for classificável como escritor. Bem verdade que, de acordo também com o que li, caberá aos sindicatos de escritores essa árdua tarefa - e também eles terão o mesmo problema para rejeitar pretendentes.

Conhecemos o Brasil, não conhecemos? Finjamos que conhecemos, pelo menos. Que tramas logo entrevemos no futuro, se o projeto for transformado em lei? Posso logo conceber os casos tristes dos aposentados que escrevem regularmente para os jornais (mais um golpe nessa velharia desagradável que não serve para nada, pau neles) e serão, cedo ou tarde, flagrados no exercício ilegal da profissão. Claro, o projeto atual não deve prever isto, mas outros para complementá- lo advirão , principalmente porque assim se gerarão mais burocracia e mais empregos de favor, e os escrevedores de cartas aos jornais ou se filiam ao sindicato ou arrumam um amigo filiado, para coassinar as cartas, na condição de “escritor responsável” . Infortúnio que, aliás, deverá abater-se sobre diversos outros, como síndicos de prédios ou inspetores de obras, ou quem quer que seja obrigado a escrever relatórios. Talvez até placas, quem sabe?[...]

Sei que vocês pensam que eu brinco, mas não brinco. O Brasil tem leis interessantíssimas, que vieram com as melhores intenções e rendem situações intrigantes. Por exemplo, como se sabe, se o sujeito for pego matando uma tartaruga protegida, vai preso sem fiança. Em contrapartida, se encher a cara, sair de carro e matar umas quatro pessoas, paga fiança e vai para casa. No caso da tartaruga, alguém raciocinará que é mais negócio matar o fiscal do Ibama, mesmo com testemunhas. Principalmente se estiver um pouco bêbado, porque aqui é atenuante. É só escapar do flagrante, mostrar ser réu primário, conseguir responder ao processo em liberdade e, com azar, pegar aí seus dois aninhos de cana efetiva (em regime semiaberto). Portanto, se aqui é mais negócio matar um homem do que uma tartaruga, não brinco. Acredito que nos possam perpetrar qualquer absurdo, inclusive esses de que acabo de falar e outros, que não chegaram a me ocorrer, mas são possíveis. Entretanto, há sempre um lado bom. Por exemplo, se algum dia exigirem carteirinha de escritor para eu escrever, não escrevo mais . Será, quiçá, uma boa notícia para alguns. Ou muitos, talvez, ainda não promulgaram uma Lei de Proteção da Literatura Nacional, obrigando todo mundo a gostar de tudo o que o escritor brasileiro escreve. Embora, é claro, eu alimente fundadas esperanças, pois uma boa lei resolve qualquer coisa.

RIBEIRO, João Ubaldo. O Conselheiro Come.Rio: Nova Fronteira,2000,p.48ss.

Preserva-se a concordância do verbo com seu sujeito ao se substituir a forma verbal usada no texto pela que se propõe em:

Alternativas
Comentários
  • Resposta: alternativa E

    Existem duas possibilidades de concordância quando o sujeito composto surge após o verbo : 

    - o verbo fica no plural para concordar com todos os sujeitos;

    - o verbo faz a concordância com o núcleo do sujeito mais próximo.



    Vejamos a alternativa em questão:

    e) "... assim se gerarão mais burocracia e mais empregos de favor." 


    Nesse caso, o verbo gerar apresenta-se no plural por ter estabelecido a concordância com os núcleos dos dois sujeitos existentes (burocracia e empregos).


    "... assim se gerará mais burocracia e mais empregos de favor."


    Já aqui, a concordância ocorreu somente com o núcleo do sujeito mais próximo (burocracia). 

  • fiquei em dúvida entre a letra e e a letra d.qual o erro da letra d?

  • Olá Jéssica Fernandes, com fim  de elucidar vossa dilema, segue o pertinente esclarecimento: 
    No caso em comento temos a impossibilidade de flexão do verbo destacado pelo simples fato que fica impossível a concordância deste termo na flexão singular, uma vez que há diversos termos enumerados ( livros como panfletos, discursos...), impossibilitando a flexão singular na concordância rígida, e sua flexão singular pelo fato do termo próximo  ( livros) está flexionado no plural, impossibilitando a flexão singular na concordância atrativa.

  • Neyde, a impossibilidade da substituição se deve a flexão do verbo caberá regida por: "essa árdua tarefa" e não por: "sindicados de escritores". Invertendo a ordem fica fácil observar:

    "... caberá aos sindicatos de escritores essa árdua tarefa...”

    Essa árdua tarefa caberá (e não caberão) aos sindicatos de escritores.

  • Na letra d, o sujeito é composto, portanto, verbo no plural. Poderia se fazer a concordância verbal atrativa, mas mesmo assim o verbo ficaria no plural, pois o primeiro termo é "livros"

  • Qual é o erro da letra B? 

  • o erro da letra b e que o verbo caberá deve concordar com termo essa árdua tarefa , portante nao se pode trocar por caberal , uma vez q o sujeito esta no singlar 

  • Meu problema nesse tipo de questão é identificar o sujeito. Por meio daquelas velhas perguntinhas ao verbo, ao meu ver seriam o complemento do verbo e não o sujeito. Na letra E p.ex. Li que alguma coisa que está praticando a ação (sujeito) geraria o complemento burocracia e mais empregos. 

    Alguém com alguma dica para sanar casos como esse?

  • Letra E  

    A frase está na voz passiva sintética, passando para a voz passiva analítica temos : 

    Assim, mais burocracia e mais empregos de favor serão gerados. 

    o termo em negrito portanto é o sujeito composto ( burocracia e empregos) da oração.

    No sujeito composto temos uma exceção: quando houver sujeito composto e posposto ao verbo, poderá o verbo concordar com o núcleo do sujeito mais próximo ( concordância atrativa) ex: veio o padre e o sacristão para a missa


    Ou seja: Assim se gerará mais burocracia e mais empregos de favor.

  • Então Gefersson

    Na alternativa E, temos o pronome "Se" atuando como partícula apassivadora (partícula apassivadora ocorre com Verbos Transitivos Diretos) neste caso o Objeto Direto do Verbo: "mais democracia e mais empregos" viram sujeito, e como trata-se de sujeito composto posposto pode tanto ficar no singular como no plural.


  • b) Verbos do tipo : cabe,acontece,basta,compete,consta,cumpre, urge, ocorre,interessa,parece e etc.., são unipessoais( conjugados numa única pessoa- ou 3ª do singular ou 3ª do plural concordando como sujeito, que na frase: Essa árdua tarefa, teria que mudar para o plural para produzir o mesmo efeito.

    d) Como os núcléos do suj. estão pospostos ao verbo, pode ocorrer tanto concordância atrativa( mais próximo, como levar o verbo para o plural. Ocorre que por atração o verbo vai concordar como o núcleo "livros" tendo que ir ao plural.