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ID
1383931
Banca
FCC
Órgão
TJ-AP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            A floresta das parteiras

     Elas nasceram do ventre úmido da Amazônia, do extremo norte do Brasil, do Estado ainda desgarrado do noticiário chamado Amapá. O país não as escuta porque perdeu o ouvido para os sons do conhecimento antigo, a toada de suas cantigas. Muitas desconhecem as letras do alfabeto, mas leem a mata, a água e o céu. Emergiram dos confins de outras mulheres com o dom de pegar menino. Sabedoria que não se aprende, não se ensina nem mesmo se explica. Acontece apenas. Esculpidas por sangue de mulher e água de criança, suas mãos aparam um pedaço do Brasil.

     O grito feminino ecoa do território empoleirado no cocuruto do mapa para lembrar ao país que nascer é natural. Não depende de engenharia genética ou operação cirúrgica, não tem cheiro de hospital. Para as parteiras da floresta, que guardaram a tradição graças ao isolamento geográfico de seu berço, é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela do que aceitar que uma mulher marque dia e hora para arrancar o filho à força. Quase toda a população do Amapá, menos de meio milhão de habitantes, chega ao mundo pelas mãos de setecentas pegadoras de menino.

     Encarapitadas em barcos ou tateando caminhos com os pés, a índia Dorica, a cabocla Jovelina e a quilombola Rossilda são guias de uma viagem por mistérios antigos. Cruzam com Tereza e as parteiras indígenas do Oiapoque. Unidas todas elas pela trama de nascimentos inscritos na palma da mão. “Pegar menino é ter paciência”, recita a caripuna Maria dos Santos Maciel, a Dorica, a mais velha parteira do Amapá, com 96 anos. “Parteira não tem escolha, é chamada nas horas mortas da noite para povoar o mundo.”

(Adaptado de: BRUM, Eliane. O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real. São Paulo: Globo, 2008, p. 19-20)

Quando afirma que, para as parteiras da floresta, é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela do que aceitar que uma mulher marque dia e hora para arrancar o filho à força, a autora destaca a maneira como as parteiras

Alternativas
Comentários
  • Letra B, para aqueles que só podem responder 10 por dia.

  • Questão de interpretação de texto.

    "Para as parteiras da floresta, que guardaram a tradição graças ao isolamento geográfico de seu berço, é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela do que aceitar que uma mulher marque dia e hora para arrancar o filho à força."

    Da leitura do trecho do texto dá para compreender que o conhecimento tradicional está acima do científico para as parteiras.


  • Sinceramente eu fiquei em dúvida com relação a letra "A", alguém poderia me ajudar?

    Obrigada!

  • Natália Oliveira a letra A está errada, porque as parteiras não aprenderam seu ofício por meio de lendas que se perpetuam pela tradição oral de explicar como se faz, mas sim por um hábito que foi passado da mãe delas para elas. Olha essa passagem do texto: Emergiram dos confins de outras mulheres com o dom de pegar menino. Sabedoria que não se aprende, não se ensina nem mesmo se explica. Acontece apenas. Esculpidas por sangue de mulher e água de criança, suas mãos aparam um pedaço do Brasil.

  • Achei que fosse a letra (D) por conta deste período: "Sabedoria que não se aprende, não se ensina nem mesmo se explica. Acontece apenas". 

  • Eu também marquei letra D e errei...

  • Li, reli, li outra vez, e li denovo, e só consegui eliminar as alternativas a) e e), B, C e D, me pareceram certas. preciso de uma boa explicação de alguém ou do comentário do professor. Não marquei a alternativa b) porque na frase "é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela" a palavra fecundar, não tem nada haver com parto, fecundação ocorre 9 meses antes do parto. =P

  • Entendi assim: "é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela (ironia) do que aceitar que uma mulher marque dia e hora para arrancar o filho à força (se referindo ao parto cesariano)". Ou seja, para as parteiras o nascimento deve acontecer naturalmente e não por intervenção humana através do meio cirúrgico (conhecimento científico).