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ID
1383934
Banca
FCC
Órgão
TJ-AP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            A floresta das parteiras

     Elas nasceram do ventre úmido da Amazônia, do extremo norte do Brasil, do Estado ainda desgarrado do noticiário chamado Amapá. O país não as escuta porque perdeu o ouvido para os sons do conhecimento antigo, a toada de suas cantigas. Muitas desconhecem as letras do alfabeto, mas leem a mata, a água e o céu. Emergiram dos confins de outras mulheres com o dom de pegar menino. Sabedoria que não se aprende, não se ensina nem mesmo se explica. Acontece apenas. Esculpidas por sangue de mulher e água de criança, suas mãos aparam um pedaço do Brasil.

     O grito feminino ecoa do território empoleirado no cocuruto do mapa para lembrar ao país que nascer é natural. Não depende de engenharia genética ou operação cirúrgica, não tem cheiro de hospital. Para as parteiras da floresta, que guardaram a tradição graças ao isolamento geográfico de seu berço, é mais fácil compreender que um boto irrompa do igarapé para fecundar moça donzela do que aceitar que uma mulher marque dia e hora para arrancar o filho à força. Quase toda a população do Amapá, menos de meio milhão de habitantes, chega ao mundo pelas mãos de setecentas pegadoras de menino.

     Encarapitadas em barcos ou tateando caminhos com os pés, a índia Dorica, a cabocla Jovelina e a quilombola Rossilda são guias de uma viagem por mistérios antigos. Cruzam com Tereza e as parteiras indígenas do Oiapoque. Unidas todas elas pela trama de nascimentos inscritos na palma da mão. “Pegar menino é ter paciência”, recita a caripuna Maria dos Santos Maciel, a Dorica, a mais velha parteira do Amapá, com 96 anos. “Parteira não tem escolha, é chamada nas horas mortas da noite para povoar o mundo.”

(Adaptado de: BRUM, Eliane. O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real. São Paulo: Globo, 2008, p. 19-20)

Conclui-se que a sabedoria das parteiras do Amapá é pouco valorizada no Brasil, porque

Alternativas
Comentários
  • Letra E, para quem só pode responder 10 por dia.

  • letra E para quem não sabe justificar e só quer ganhar pontos..

  • Explicações sobre a interpretação da questão. Gente minha dica em questões de interpretação é que analisem o que é pedido pela questão, ou seja o tema central/focal do que se quer. Vamos lá, ela quer saber porque a sabedoria das parteiras do Amapá é pouco valorizada no Brasil.

    Letra A errada. A sociedade brasileira ainda tem preconceito contra mulheres que trabalham, o que se percebe no trecho:Unidas todas elas pela trama de nascimentos inscritos na palma da mão. (3o parágrafo). Em nenhum momento do texto é colocado que se existe preconceito contra mulheres que trabalham.

    Letra B errada. A atividade que elas realizam não produz frutos visíveis para a sociedade, o que se nota no trecho: “Parteira não tem escolha, é chamada nas horas mortas da noite para povoar o mundo.” (3o parágrafo). O erro está em dizer que não se produz frutos visíveis, pois olha essa passagem do texto: quase toda a população do Amapá, menos de meio milhão de habitantes, chega ao mundo pelas mãos de setecentas pegadoras de menino. Quase 500 mil pessoas é muita visibilidade não é não rsrrs.

    Letra C errada.

    Elas partilham um conhecimento demasiadamente teórico e difícil de compreender, o que se observa no trecho: Sabedoria que não se aprende, não se ensina nem mesmo se explica. Acontece apenas. (1oparágrafo). Gente esse conhecimento que elas partilham não é teórico, mas por uma tradição familiar.

    Letra D errada. Seu trabalho é restrito a comunidades indígenas isoladas na Floresta Amazônica, o que se verifica no trecho:Esculpidas por sangue de mulher e água de criança, suas mãos aparam um pedaço do Brasil. (1o parágrafo). Como o trabalho delas é restrito a comunidades indígenas se elas trazem ao mundo quase toda a população do Amapá, tenho certeza que esse povo todo não só é de índios.

    Letra E certa/mesmo porque né gente só sobrou ela. Olha o tema central pedido da questão está aqui. Os brasileiros já não se interessam pela tradição, o que se evidencia no trecho: O país não as escuta porque perdeu o ouvido para os sons do conhecimento antigo. (1o parágrafo).




  • Beatriz Barbosa, extremamente esclarecedor seu comentário, ajudou e muito. Obrig

  • Beatriz Barbosa, excelente comentário, marquei a D, depois de sua análise me toquei, obrigada.