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ID
1393003
Banca
VUNESP
Órgão
PC-CE
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                       A morte do narrador

    Recentemente recebi um e-mail de uma leitora perguntando a razão de eu ter, segundo ela, uma visão tão dura para com os idosos. O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e vovós, porque estavam todos na academia querendo parecer com seus netos.


    Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece com frequência quando se discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque o próprio termo “velhice" já pede sinônimos politicamente corretos, como “terceira idade", “melhor idade", “maturidade", entre outros.


    Uma característica do politicamente correto é que, quando ele se manifesta num uso linguístico específico, é porque esse uso se refere a um conceito já considerado como algo ruim. A marca essencial do politicamente correto é a hipocrisia articulada como gesto falso, ideias bem comportadas. 


    Voltando à velhice. Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no abandono, e não procurar ser felizes. Mas, quando eu dizia que eles estão fugindo da condição de avós, usava isso como metáfora da mentira (politicamente correta) quanto ao medo que temos de afundar na doença, antes de tudo psicológica, devido ao abandono e à solidão, típicos do mundo contemporâneo. Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e da morte. Sua opção é pela “negação", traço de um dos sintomas neuróticos descritos por Freud. 


        Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que na modernidade o narrador da vida desapareceu. Isso quer dizer que as pessoas encarregadas, antigamente, de narrar a vida e propor sentido para ela perderam esse lugar. Hoje os mais velhos querem “aprender" com os mais jovens (aprender a amar, se relacionar, comprar, vestir, viajar, estar nas redes sociais). Esse fenômeno, além de cruel com o envelhecimento, é também desorganizador da própria juventude. Ouço cotidianamente, na sala de aula, os alunos demonstrarem seu desprezo por pais e mães que querem aprender a viver com eles. 


    Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a combater essa desvalorização dos mais velhos. As ferramentas de informação, normalmente mais acessíveis aos jovens, aumentam a percepção negativa dos mais velhos diante do acúmulo de conhecimento posto a serviço dos consumidores, que questionam as “verdades constituídas do passado". A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a invisibilidade dos mais velhos. Em termos humanos, o passado (que “nada" serve ao mundo do progresso) tem um nome: idoso. Enfim, resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou para as redes sociais. 


(Luiz Felipe Pondé, Somma, agosto 2014, p. 31. Adaptado)

Segundo o autor, sua leitora o interpretou mal ao supor que as críticas feitas em uma de suas colunas estavam direcionadas aos idosos, quando, na verdade, ele contestava

Alternativas
Comentários
  • Segue o meu palpite:

    A contestação do autor revela-se, explicitamente, neste fragmento: "Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e da morte. Sua opção é pela “negação", traço de um dos sintomas neuróticos descritos por Freud. "

    Portanto, a alternativa que melhor se adequa ao trecho acima é a D.

    Bons estudos!

  • Dica importante: Não precisa ler nem uma linha do texto para resolver a questão. É uma simples questão de lógica argumentativa. Leiam o enunciado e leiam as opções. Assim eu acertei. As alternativas erradas simplesmente não poderiam completar o enunciado, pois o texto ficaria incoerente. Você não vai pensar que num concurso com tempo limitado tem que ler esse texto enorme vai?

  • O gabarito esta errado. O gabarito certo é a letra D conforme o gabarito original da prova. 

  • " Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está intimamente associada ao medo do envelhecimento..."; pelo contexto a assertiva correspondente é a D !

  • "...hoje em dia NÃO EXISTIAM MAIS VOVÔS E VOVÓS, PORQUE ESTAVAM TODOS NA ACADEMIA QUERENDO PARECER COM SEUS NETOS."
    "Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece com frequência quando se discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque O PRÓPRIO TERMO “VELHICE" JÁ PEDE SINÔNIMOS POLITICAMENTE CORRETOS, como “terceira idade", “melhor idade", “maturidade", entre outros."
    "Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela CULTUA A JUVENTUDE COMO PADRÃO DE VIDA E ESTÁ INTIMAMENTE ASSOCIADA AO MEDO DO ENVELHECIMENTO, da dor e da morte. Sua opção é pela “NEGAÇÃO", traço de um dos sintomas neuróticos descritos por Freud."
    " Ouço cotidianamente, na sala de aula, OS ALUNOS DEMONSTRAREM SEU DESPREZO POR PAIS E MÃES QUE QUEREM APRENDER A VIVER COM ELES."

    No discorrer de todo o texto o autor aponta a cultura da supervalorização da juventude, ao mesmo tempo o padrão de negação do envelhecimento.

  • "Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela CULTUA A JUVENTUDE COMO PADRÃO DE VIDA E ESTÁ INTIMAMENTE ASSOCIADA AO MEDO DO ENVELHECIMENTO", logo... a sociedade que supervaloriza a juventude e nega o envelhecimento.

  •   Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a combater essa desvalorização dos mais velhos.

  • Assertiva D

    a sociedade que supervaloriza a juventude e nega o envelhecimento.

  • a sociedade que supervaloriza a juventude e nega o envelhecimento