SóProvas


ID
1422421
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Camaçari - BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                    Falência múltipla
                                                                        Lya Luft


      Um jornalista comentou recentemente num programa de televisão que pediu a um médico seu amigo um diagnóstico do que está ocorrendo no Brasil: infecção, virose? A resposta foi perfeita: “Falência múltipla dos órgãos”.
      Nada mais acertado. Há quase dez anos realizo aqui na coluna minhas passeatas: estas páginas são minha avenida, as palavras são cartazes. Falo em relações humanas e seus dramas, porém mais frequentemente nas coisas inaceitáveis na nossa vida pública. Esgotei a paciência dos leitores reclamando da péssima educação — milhares de alunos sem escola ou abrigados em galpões e salinhas de fundo de igrejas, para chegarem aos 9, 10 anos sem saber ler nem escrever.
      Professores desesperados tentando ensinar sem material básico, sem estrutura, salários vergonhosos, estímulo nenhum. Universidades cujo nível é seguidamente baixado: em lugar de darem boas escolas a todas as crianças e jovens para que possam entrar em excelentes universidades por mérito e esforço, oferecem-lhes favorecimentos prejudiciais.
      Tenho clamado contra o horror da saúde pública, mulheres parindo e velhos morrendo em colchonetes no corredor, consultas para doenças graves marcadas para vários meses depois, médicos exaustos trabalhando além dos seus limites, tentando salvar vidas e confortar os pacientes, sem condições mínimas de higiene, sem aparelhamento e com salário humilhante.
      Em lugar de importarmos não sei quantos mil médicos estrangeiros, quem sabe vamos ser sensatos e oferecer condições e salários decentes aos médicos brasileiros que querem cuidar de nós?
      Tenho reclamado das condições de transporte, como no recente artigo “Três senhoras sentadas”: transporte caro para o calamitoso serviço oferecido. “Nos tratam como animais”, reclamou um usuário já idoso. A segurança inexiste, somos mortos ao acaso em nossas ruas, e se procuramos não sair de casa à noite somos fuzilados por um bando na frente de casa às 10 da manhã.
      E, quando nossa tolerância ou resignação chegou ao limite, brota essa onda humana de busca de dignidade para todos. Não se trata apenas de centavos em passagens, mas de respeito.
      As vozes dizem NÃO: não aos ônibus sujos e estragados, impontuais, motoristas sobrecarregados; não às escolas fechadas ou em ruínas; não aos professores e médicos impotentes, estradas intransitáveis, medo dentro e fora de casa. Não a um ensino em que a palavra “excelência” chega a parecer abuso ou ironia. Não ao mercado persa de favores e cargos em que transformam nossa política, não aos corruptos às vezes condenados ocupando altos cargos, não ao absurdo número de partidos confusos.
      As reclamações da multidão nas ruas são tão variadas quanto nossas mazelas: por onde começar? Talvez pelo prático, e imediato, sem planos mirabolantes. Algo há de se poder fazer: não creio que políticos e governo tenham sido apanhados desprevenidos, por mais que estivessem alienados em torres de marfim.
      Infelizmente todo movimento de massas provoca e abriga sem querer grupos violentos e anárquicos: que isso não nos prejudique nem invalide nossas reivindicações.
      Não sei como isso vai acabar: espero que transformando o Brasil num lugar melhor para viver. Quase com atraso, a voz das ruas quer lisura, ética, ações, cumprimento de deveres, realização dos mais básicos conceitos de decência e responsabilidade cívica, que andavam trocados por ganância monetária ou ânsia eleitoreira.
      Que sobrevenham ordem e paz. Que depois desse chamado à consciência de quem lidera e governa não se absolvam os mensaleiros, não se deixem pessoas medíocres ou de ética duvidosa em altos cargos, acabem as gigantescas negociatas meio secretas, e se apliquem decentemente somas que poderão salvar vidas, educar jovens, abrir horizontes.
      Sou totalmente contrária a qualquer violência, mas este povo chegou ao extremo de sua tolerância, percebeu que tem poder, não quer mais ser enganado e explorado: que não se destrua nada, mas se abram horizontes reais de melhoria e contentamento.

                                                                              http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/lya-luft/


Em “Que sobrevenham ordem e paz.”, a expressão destacada funciona como

Alternativas
Comentários
  • O que seria partícula de realce?

  • É um termo da oração considerado desnecessário, podendo ser retirado sem qualquer prejuízo para ela. A partícula expletiva é também chamada de partícula de realce.

    Exemplos:

    1) O que que você está lendo?

    O que você está lendo?

    que = partícula expletiva ou de realce

    2) Vejam só o que eu ganhei!

    Vejam o que eu ganhei!

     = partícula expletiva ou de realce

    3) Vou-me embora pra Pasárgada.

    Vou embora pra Pasárgada.

    me = partícula expletiva ou de realce

    Observação:

    Quando os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos) estiverem juntos de verbos intransitivos que possuam sujeito, eles serão considerados partículas expletivas ou de realce.

    Fonte:https://professoramarialucia.wordpress.com/2012/02/23/o-que-e-uma-particula-expletiva/

  • Gente, mas conjunção só se realiza com a presença de duas orações, e não é esse o caso da questão acima. Além disso, para ser conjunção integrante a oração precisa ser subordinada substantiva, pois tem a função de completar a oração principal. Confesso que não conhecia o conceito de "partícula de realce", e só por isso fiquei entre a letra "b" e "e". Marquei a "b", mas também observei que não é um caso de pronome relativo; infelizmente fiquei insegura de marcar a "e". Mas sinceramente, pelo que estudei, não poderia ser a letra "a", de jeito nenhum. Obrigada!  

  • Gabarito A

    Que = conjunção integrante
    Introduz oração subordinada
  • Nossa errei feio, marquei com toda convicção do mundo letra b) Pronome Relativo. se alguém tiver alguma colocação que possa me ajudar, agradeço!

  • Rafael,

    O verbo está oculto e o QUE inicia uma oração subordinada objetiva direta.

    (Eu espero) QUE sobrevenham ordem e paz.

    Quem espera, espera alguma coisa. Por iniciar a oração subordinada objetiva direta o "QUE" é conjunção integrante.

    Espero ter ajudado!

  • Por que é uma conjunção?? 

  • Com todo respeito ao comentário do colega Guilherme Pires, porém, acho, que o sujeito oculto aí não necessariamente seria o da 1ª pessoa do singular, vejam:

    Eles esperam que sobrenham a ordem e a paz.

    Acho que a justificativa para ser conjunção integrante, não seria exatamente a apresentada.

    Não entendi esta...

  • Para descobrir se se trata de uma conjunção integrante (que) é só analisar que antes dele não há um substantivo. Portanto, ele não faz o papel de substituto de nenhum termo. 

  • Tande Mota, o sujeito oculto seria na 1ª pessoa para concordar com o texto, que é todo escrito em 1ª pessoa. Mas ainda sim, achei meio forçosa essa questão. E não tenho certeza que a justificativa para essa alternativa A seria a apresentada pelo colega Guilherme Pires, pois não consigo ver a oração como subordinada. Aguardemos o comentário do Professor!

  • Não existe sujeito oculto na 3º pessoa, no caso a questão é sujeito indeterminado, o problema é saber pq é conjunção integrante kkkkkkk

  •  

    (Eu espero) QUE sobrevenham ordem e paz. (Eu espero ISSO).

    Quando o que pode ser trocado por ISSO, será conjunção integrante.

     

  • O "que" é uma conjunção integrante.

    A frase é do tipo optativa.

    Está implícita a oração principal: Espero que sobrevenham ordem e paz.

    – Prof. Fernando Pestana.

  • e eu, que fui de partícula de realce... rsrsrsrs


  • Se vcc não ler o texto não vai entender...ideia implícita.

  • O FATO É QUE TERÍAMOS QUE VER TODO O CONTEXTO DESSA ORAÇÃO DENTRO DO TEXTO. QUE FEZ SÓ A LEITURA , FORA DE CONTEXTO, CERTAMENTE ERROU. ESSE TIPO DE QUESTÃO QUE PEDE A FUNÇÃO DO QUE NO INÍCIO PODE GERAR PROBLEMA

  • A alternativa E é a "casca de banana" dessa questão;.