SóProvas


ID
142591
Banca
FCC
Órgão
TRT - 7ª Região (CE)
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Pelas ruas de Gênova, lá vamos nós

Durante os protestos contra o G-8 (grupo que abrange os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia), reunido em Gênova, a imprensa europeia entrevistou políticos da esquerda oficial e veteranos de 1968. Vários aproveitaram a oportunidade para lamentar, nesses novos manifestantes, a falta de "verdadeiros"
projetos de sociedade. "São carentes de propostas políticas, crescerão", disse Mario Capanna, que foi líder do movimento estudantil de Milão em 68. Engraçado: sob a direção de Capanna, o movimento, na época, foi declaradamente stalinista.
Se essa for a "proposta política" que falta, melhor que os "carentes" não cresçam mesmo.
Prefiro evitar as nostalgias e reconhecer que aos manifestantes de Gênova não falta nada. Ao contrário, graças à sua diversidade confusa ou mesmo atrapalhada, talvez eles representem, da melhor maneira possível, o estado de espírito de muitos que estão, hoje, social e politicamente insatisfeitos.
De fato, parece-me que poderia manifestar-me com cada um dos componentes dessa massa contestaria. Os grupos diversos e, às vezes, opostos levaram pelas ruas de Gênova diferentes fragmentos de meus humores reformistas ou revoltados.
Olhe só. O resto de minhas esperanças socialistas desfila com a esquerda clássica italiana, em versão social-democrata. Identifico-me com os ecologistas puros e duros, mais preocupados com o planeta do que com as mazelas dos homens. Posso ter um coração caritativo, animado por paixões missionárias contra a fome e as doenças do mundo. E sobra-me uma raiva que deve valer a dos mais radicais movimentos anarquistas, de pedras na mão.

(Adaptado de Contardo Calligaris, Terra de ninguém)

Está plenamente adequada a correlação entre tempos e modos verbais na seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  •  O pretérito mais-que-perfeito só se junta ao pretérito perfeito.

    Exemplo: Quando cheguei, ele já saíra.

  • Além da observação abaixo levantada, deve-se notar que a palavra "enquanto" denota a idéia de simultaneidade, e o fato dos verbos estarem, o primeiro, no tempo passado imperfeito, e, o segundo, no tempo passado mais-que-perfeito demonstra que ocorreram em momentos diferentes.

  • Carolina, permissa venia, a questão prova o contrário.
    .
    Na letra"b", temos: LIDERARA    +   COBRAVA    +    MANIFESTAVAM
                                             P+Q.P             Pret.Imp.              Pret.Imp. 
    .
    Temos o pretérito mais que perfeito fazendo correlação com o pretérito imperfeito, numa boa!
  • Entendo que:

    Estando o verbo no Pret mais-que-perfeto, exprime acontecimento passado anterior a outro igualmente passado.

    Por esta forma, a letra "b" está correta.

  • Acho que o comentário anterior justifica a resposta.
     A letra A está errada e esse mesmo raciocíno pode ser usado para justificar o erro:
    Pretério mais que perfeito reflete acontecimento no passado ANTERIOR ao do verbo que está no pretérito imperfeito. 
    Enquanto se davam os protestos contra o G-8, a imprensa entrevistara políticos de esquerda cuja atuação marcou o ano de 1968. A frase transmite acontecimentos simultâneos (enquanto), então não comporta o verbo no pretérito mais que perfeito.
    Acho que o correto seria: Enquanto se davam os protestos contra o G-8, a imprensa entrevistava políticos de esquerda cuja atuação marcou o ano de 1968.
  • "Prezado José Maria, estou em disputa com uma colega de trabalho. Em suas peças, ela lança mão do pretérito mais-que-perfeito em toda oportunidade em que caberia a utilização do pretérito perfeito, tornado aquele regra e este exceção (utilizá-lo só diante da necessidade de sucessão de ações no passado). Questiono se essa é uma escolha estilística válida ou se há equívoco na utilização indiscriminada desse tempo verbal."

    envie sua dúvida

     

     

     

    Pretérito mais-que-perfeito

    1) Um leitor relata que uma colega de trabalho, em suas peças jurídicas, usa do pretérito mais-que-perfeito o tempo todo, nos lugares em que o normal seria empregar o pretérito perfeito. E indaga se essa é uma opção estilística válida, ou se há equívoco na utilização indiscriminada desse tempo verbal.

    2) Em termos de fixação de premissas, observe-se que o pretérito perfeito indica uma ação terminada ("Fiz o trabalho"), enquanto o pretérito mais-que-perfeito aponta uma ação passada em relação ao próprio perfeito ("Quando ela chegou, eu já fizera [ou tinha feito] o trabalho".

    3) Para Evanildo Bechara, em seu emprego clássico, o pretérito mais-que-perfeito "denota uma ação anterior a outra já passada"1, e isso se pode observar com facilidade em exemplo de autor inquestionável: "No dia seguinte, antes de me recitar nada, explicou-me o capitão que só por motivos graves abraçara a profissão marítima..." (Machado de Assis).

    4) Em segunda possibilidade de emprego, o pretérito mais-que-perfeito pode, sem correlação com outra ação passada, denotar um fato vagamente situado no passado, como se dá no seguinte exemplo: "Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos" (Monteiro Lobato).

    5) E, para o que interessa aqui, não há outra permissão para emprego do pretérito mais-que-perfeito.

    6) Respondendo de modo mais direto ao leitor, pode-se dizer que, se não ocorre nenhum dos casos citados – (i) nem ação anterior a outra já passada, (ii) nem fato vagamente situado no passado, mesmo sem correlação com outra ação passada – , mas se lança mão do pretérito mais-que-perfeito como simples equivalente do pretérito perfeito, então o que há é um equívoco nesse indiscriminado emprego de tempo verbal.