Outro país que merece destaque em relação à hostilidade do governo frente aos protestos é o Barein, representado pela figura do Rei xeque Hamad bin Isa al-Khalifa. Esse país, diferentemente da Líbia, possui um grande apoio dos países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos. Com isso, mesmo com a dura repressão contra os rebeldes e com vários crimes aos direitos humanos, esse país não sofreu nenhum tipo de intervenção militar estrangeira, fato que fez com que parte da comunidade internacional questionasse a postura da OTAN nas zonas de instabilidade política na região árabe.
Com a proibição das manifestações, a oposição xiita – que forma a maioria no país, mas que é amplamente discriminada pela minoria sunita – foi perdendo gradativamente a força, embora o governo tenha sinalizado algumas ações de flexibilização do poder a fim de estabelecer alguns acordos.
A Síria, por sua vez, é o país onde os conflitos mais se estenderam, demarcando uma longa agonia na região. Isso porque a oposição sunita, influenciada pela eclosão das revoltas no Egito e na Tunísia, também procurou ascender ao poder por meio de uma revolta armada, duramente reprimida pelas tropas do ditador Bashar al-Assad (no poder desde 2000). Além do conflito armado, esse episódio mexeu também com o plano geopolítico internacional.
Nos países vizinhos, Turquia, Iraque, Líbano, Arábia Saudita e, parcialmente, Israel concedem apoio aos rebeldes, pois consideram o regime do ditador xiita sírio como uma ameaça local às suas soberanias. O Irã, por outro lado, vem apoiando o governo do país, uma vez que esse é um importante aliado político. Além do mais, a derrocada do governo de Assad poderia representar uma ameaça à estabilidade política iraniana.
Externamente, as potências ocidentais, com destaque para os EUA, declararam apoio à oposição no país, fornecendo armas e suprimentos, com a clara intenção de derrubar mais um inimigo político na região. Os norte-americanos chegaram inclusive a planejar uma intervenção militar, com o pretexto de o governo sírio estar usando armas químicas, o que é considerado um crime de guerra. No entanto, Rússia e China opuseram-se incisivamente a essa ação, o que gerou uma crise política sem precedentes desde a Guerra Fria. Com isso, acordos foram realizados e a intervenção militar estadunidense, enfim, não ocorreu. O conflito segue ainda sem solução.
Além desses casos principais, a Primavera Árabe atingiu também outros países, como Marrocos, Iêmen, Argélia, Omã e, em menor grau, Arábia Saudita e Jordânia. Em alguns locais, eleições e reformas ocorreram; em outros, os protestos foram estrategicamente contidos. De toda forma, é preciso considerar que a situação da região do Oriente Médio e do Norte da África deflagra, cada vez mais, a impossibilidade de se manter a paz e a harmonia em espaços marcados pelo imperialismo e pela dominação das minorias sobre as massas.
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Primavera Árabe caracterizou uma série de protestos e revoltas ocorrida nos países de língua árabe a partir do final de 2010, em que a população de diferentes lugares foi às ruas com diferentes objetivos, que giraram em torno da derrubada de ditadores, da realização de eleições e da melhoria das condições de vida. Trata-se de um dos principais eventos desse início de século e deflagra a grande instabilidade política existente na região.
Podemos dizer que tudo começou na Tunísia, quando um jovem teve sua banca de frutas e legumes confiscada pela polícia e ateou fogo em seu próprio corpo em protesto às condições de vida a que era submetido. É claro que a revolta no país não foi ocorrida somente por isso, uma vez que esse evento foi somente a “gota d'água”, pois a população estava profundamente insatisfeita com os rumos político-sociais do país e clamava por democracia, exigindo o fim da ditadura de Zine El Abidine Ben Ali, que se encontrava no poder há 23 anos.
Os protestos exigindo a realização de eleições diretas não duraram muito. O início aconteceu em dezembro de 2010 e o término ocorreu no mês seguinte, com a renúncia do ditador, que não ofereceu grandes resistências. Essa rápida reviravolta no país, que passou a ser chamada de Revolução de Jasmim, foi vista e admirada pela população dos países vizinhos que passavam pelas mesmas problemáticas dos tunisianos: governos ineficientes, ditatoriais e que não promoviam esforços para a melhoria das condições de vida do povo. Logo, a onda de protestos espalhou-se como um rápido vírus por todo o norte da África e em boa parte do Oriente Médio.
Em pouco menos de um mês após a derrubada de Ben Ali na Tunísia, foi a vez de Hosni Mubarak, no Egito, também deixar o cargo em função das revoltas populares que exigiam o fim de seu posto no comando do país que ocupara durante 30 anos: era a chamada Revolução de Lótus. A Primavera Árabe expandia-se.
O caso do Egito, porém, reverberou em um novo descontentamento. Isso porque o novo presidente eleito, Mohamed Morsi foi, dois anos mais tarde, alvo de novos protestos no país. Com isso, em julho de 2013, sob a ação do exército egípcio, o governante sofreu aquilo que acusou ter sido um golpe militar.
Na Líbia, em 2011, a Primavera Árabe não tardou chegar. No entanto, esse país foi o primeiro em que as revoltas envolveram uma guerrilha e muito derramamento de sangue. Buscando o fim do regime de Muamar Kadhafi, que permaneceu no poder durante 42 anos, os rebeldes pegaram em armas para combater a resistência organizada pelas tropas leais ao governo.
Com o estabelecimento de um conflito generalizado no país, as potências ocidentais organizaram-se através da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a fim de derrubar o ditador da Líbia e conseguirem uma maior influência em uma região em que se produz muito petróleo para exportação. No final, os rebeldes conseguiram assassinar Kadhafi e dar fim ao regime.
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