SóProvas


ID
1491811
Banca
FCC
Órgão
TRE-RR
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Conselhos ao candidato

Certa vez um enamorado da Academia, homem ilustre e aliás perfeitamente digno de pertencer a ela, escreveu-me sondando-me sobre as suas possibilidades como candidato. Não pude deixar de sentir o bem conhecido calefrio aquerôntico, porque então éramos quarenta na Casa de Machado de Assis e falar de candidatura aos acadêmicos sem que haja vaga é um pouco desejar secretamente a morte de um deles. O consultado poderá dizer consigo que “praga de urubu não mata cavalo”. Mas, que diabo, sempre impressiona. Não impressionou ao conde Afonso Celso, de quem contam que respondeu assim a um sujeito que lhe foi pedir o voto para uma futura vaga:

-Não posso empenhar a minha palavra. Primeiro porque o voto é secreto; segundo porque não há vaga; terceiro porque a futura vaga pode ser a minha, o que me poria na posição de não poder cumprir com a minha palavra, coisa a que jamais faltei em minha vida.

Se eu tivesse alguma autoridade para dar conselhos ao meu eminente patrício, dir-lhe-ia que o primeiro dever de um candidato é não temer a derrota, não encará-la como uma capitis diminutio, não enfezar com ela. Porque muitos dos que se sentam hoje nas poltronas azuis do Trianon, lá entraram a duras penas, depois de uma ou duas derrotas. Afinal a entrada para a Academia depende muito da oportunidade e de uma coisa bastante indefinível que se chama “ambiente”. Fulano? Não tem ambiente. [...]

Sempre ponderei aos medrosos ou despeitados da derrota que é preciso considerar a Academia com certo senso de humour. Não tomá-la como o mais alto sodalício intelectual do país. Sobretudo nunca se servir da palavra “sodalício”, a que muitos acadêmicos são alérgicos. Em mim, por exemplo, provoca sempre urticária.

No mais, é desconfiar sempre dos acadêmicos que prometem: “Dou-lhe o meu voto e posso arranjar-lhe mais um”. Nenhum acadêmico tem força para arranjar o voto de um colega. Mas vou parar, que não pretendi nesta crônica escrever um manual do perfeito candidato.

(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993, vol. único, p. 683-684)

*aquerôntico = relativo ou pertencente a Aqueronte, um dos rios do Inferno, atravessado pelos mortos na embarcação conduzida pelo barqueiro Caronte.
*capitis diminutio:expressão latina de caráter jurídico empregada para designar a diminuição de capacidade legal.

Mas vou parar, que não pretendi nesta crônica escrever um manual do perfeito candidato.

Identifica-se, no segmento sublinhado acima,

Alternativas
Comentários
  • Gabarito correto: A


    O segmento sublinhado diz respeito ao motivo do autor parar. Logo, noção de causa.
  • CAUSA: ele não pretende escrever um manual do perfeito candidato. 

    CONSEQUÊNCIA: parar.

  • LETRA A


    Mas vou parar ( VISTO QUE , JÁ QUE , UMA VEZ QUE) não pretendi nesta crônica...

  • Invertendo:


    Já que não pretendi netas crônica escrever uma manual do perfeito candidato, porém vou parar.

  • esse "que" pode ser substituido por "porque",logo ja penso em conjunção causal.

  • O FATO DE...

    CAUSA/MOTIVO.

     

    FEZ/FAZ COM QUE...

    EFEITO/CONSEQUÊCIA.

     

    INICIA ORAÇÃO QUE INDICA CAUSA.

  • eu fiz a substituição e deu certo ( questão de conjunção da FCC só se resolve assim)

     

    Mas vou parar, PORQUE não pretendi nesta crônica escrever um manual do perfeito candidato

    PORQUE = causa.

     

     

    GABARITO ''A''
     

  • SUBSTITUI AÍ POR  :     '' UMA VEZ QUE ''   /   ''JÁ QUE''  /   '' PORQUE ''  /   ''VISTO QUE ''       (...)

     

    FICA PERFETIO

     

    GAB A

  • Mas vou parar, que não pretendi nesta crônica escrever um manual do perfeito candidato.

    Qual o motivo pelo qual eu vou parar?

    Motivo = causa

  • nossa, não consegui enxergar o sentido de "causa" antes de responder errado. aff.