SóProvas


ID
1500367
Banca
CS-UFG
Órgão
AL-GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        A armadilha da aceitação

Existe um lugar quentinho e cômodo chamado aceitação. Olhando de longe, parece agradável. Mais do que isso, é absolutamente tentador: os que ali repousam parecem confortáveis, acolhidos, até mesmo com um senso de poder, como se estivessem tirando um cochilo plácido debaixo das asas de um dragão.

“Elas estão por cima", é o que se pensa de quem encontrou seu espacinho sob a aba da aceitação. Porém, é preciso batalhar para ter um espaço ali. Esse dragão não aceita qualquer um; e sua aceitação, como tudo nesta vida, tem um preço.

Para ser aceita, em primeiro lugar, você não pode querer destruir esse dragão. Óbvio. Você não pode atacá-lo, você não pode ridicularizá-lo, você não pode falar para ou- tras pessoas o quanto seus dentes são perigosos, você não pode sequer fazer perguntas constrangedoras a ele.

Faça qualquer uma dessas coisas e você estará para sempre riscada da lista VIP da aceitação. Ou, talvez, se você se humilhar o suficiente, ele consiga se esquecer de tudo o que você fez e reconsidere o seu pedido por aceitação.

Amelhor coisa que você pode fazer para conseguir aceitação é atacar as pessoas que querem destruir o generoso distribuidor deste privilégio. Uma boa forma de fazer isso é ridicularizando-as, e pode ser bem divertido fingir que esse dragão sequer existe, embora ele seja algo tão monstruosamente gigante que é quase como se sua existência estivesse sendo esfregada em nossas caras.

Reforçar o discurso desse dragão, ainda que você não saiba muito bem do que está falando, é o passo mais importante que você pode dar em direção à tão esperada aceitação.

Reproduzir esse discurso é bem simples: basta que a mensagem principal seja deixar tudo como está - e há várias formas de se dizer isso, das mais rudimentares e manjadas às mais elaboradas e inovadoras. Não dá pra reclamar de falta de opção.

Pode ter certeza que o dragão da aceitação dará cambalhotas de felicidade. Nada o agrada mais do que ver gente impedindo que as coisas mudem.

Uma vez aceita, você estará cercada de outras pessoas tão legais quanto você, todas acolhidas nesse lugar quentinho chamado aceitação. Ali, você irá acomodar a sua visão de mundo, como quem coloca óculos escuros para relaxar a vista, e irá assistir numa boa às pessoas se dando mal lá fora.

É claro que elas só estão se dando tão mal por causa do tal dragão; mas se você não pode derrotá-lo, una-se a ele, não é o que dizem?

O que ninguém diz quando você tenta a todo custo ser aceita é que nem isso torna você imune. Ser aceita não é garantia nenhuma de ser poupada.

Você pode tentar agradar ao dragão, você pode caprichar na reprodução e perpetuação do discurso que o mantém acocorado sobre este mundo, você pode até se estirar no chão para se fazer de tapete de boas-vindas, mas nada disso irá adiantar, especialmente porque esse discurso só foi feito para destruir você.

E aí é que a aceitação se revela como uma armadilha. Tudo o que você faz para ser aceita por aquilo que es- maga as outras sem dó só serve para deixar você mais perto da boca cheia de dentes que ainda vai te mastigar e te cuspir para fora. Pode demorar, mas vai. Porque só tem uma coisa que esse dragão realmente aceita: dominar e oprimir.

Então, se ele sorrir para você, não se engane: ele não está te aceitando. Está apenas mostrando os dentes que vai usar para fazer você em pedaços depois.

                                                                                                      VALEK, Aline. Disponível em: < http://www.cartacapital.com.br/blogs/escrito- rio-feminista/a-armadilha-da-aceitacao-4820.html > .                                                                                                          Acesso: 13 fev. 2015. (Adaptado).

No texto, o uso das palavras “aceita” e “riscada”, no feminino, conduz à inferência de que

Alternativas
Comentários
  • "Esse dragão não aceita qualquer um"  

    dragão = Substantivo próprio inderevido, pois o dragão serve para o feminino e masculino. Certo!

    Aceita = Adjunto Adnominal de dragão, a palavra aceita, não define o genero do dragão, somente concorda com a 2ª pessoa, esse dragão "aceita".

     

    "Riscada da lista"

    Riscada = adjetivo (flexiona de acordo com substantivo) Ex: riscado, "o livro está riscado" / riscada, "a lista está riscada".

    lista = substantivo (não flexiona para feminino ou masculina).

     

    Portanto, as palavras "Aceita" e "Riscada" não infere que o substantivo seja do sexo feminino.

    Não compreendi por quê a resposta é letra C) os interlocutores imediatos do texto são do sexo feminino.

    Vocês poderiam deixa comentario ou opinião, preferencialmente de um professor.

    Grato!

     

  • Pois bem, respondendo à sua pergunta. Só é possível obter essa resposta se verificiarmos onde foi publicada (informação descrita no final do txt). No caso, na revista carta capital, no blog feminista. Essa normalmente é uma pratica da fgv, mas parece estar se propagando.
  • O comando da questão diz que por inferência, ou seja, por aquilo que não está no txt em si, mas que vc precisará deduzir pela nota de rodapé (como nas questões da FGV) VALEK, Aline. Disponível em: < http://www.cartacapital.com.br/blogs/escrito-rio-feminista/a-armadilha-da-aceitacao-4820.html

    Logo, gabarite como C

    ...

    Inferir, quer dizer que vc precisa de conhecimento prévio das coisas para conseguir interpretar outras coisas. Exemplo está na música dos Engenheiros Do Hawai que diz "peguei a BR 101 para lugar nenhum" - pra vc entender essa crítica irônica na totalidade, vc precisaria saber que se trata de uma BR muito esburacada, em péssimas condições, etc.

    Outro exemplo está em Ulysses, livro do escritor James Joyce, que para ser entendido em sua plenitude o leitor precisa de estofo literário (muita leitura, muita bagagem cultural) para entendê-lo. Haja vista, o escritor deixar muitas coisas subentendidas, mas elencadas com outras obras literárias e/ou fatos históricos e/ou tradições de várias regiões e/ou épocas do mundo.

  • Acredito que infere-se to texto o gênero feminino em função da oração que antecede o segundo parágrafo: "Elas estão por cima", haja vista que, no primeiro parágrafo, o texto se refere à um "lugar" do gênero masculino.


    O fato de o texto ser escrito em um editorial, inicialmente voltado ao público feminino, não restringe à autora a escrever apenas à este gênero.


    Obs. posso estar errado...