- ID
- 1542634
- Banca
- CONSULPLAN
- Órgão
- Prefeitura de Juatuba - MG
- Ano
- 2015
- Provas
-
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Artes
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Educação Básica I
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Educação Básica II
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Educação Física
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Geografia
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de História
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Inglês
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Matemática
- CONSULPLAN - 2015 - Prefeitura de Juatuba - MG - Professor de Português
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto
Os pobres homens ricos
Um amigo meu estava ofendido porque um jornal o chamou de boa‐vida. Vejam que país, que tempo, que situação!
A vida deveria ser boa para toda gente, o que é insultuoso é que o seja apenas para alguns.
“Dinheiro é a coisa mais importante do mundo.” Quem escreveu isso não foi nenhum de nossos estimados agiotas.
Foi um homem que a vida inteira viveu de seu trabalho, e se chamava Bernard Shaw. Não era um cínico, mas um homem
de vigorosa fé social, que passou a vida lutando, a seu modo, para tornar melhor a sociedade em que vivia – e em certa
medida o conseguiu. Ele nos fala de alguns homens ricos:
“Homens ricos e aristocratas com um desenvolvido senso de vida – homens como Ruskin, Willian Morris, Kropotkin –
têm enormes apetites sociais… não se contentam com belas casas, querem belas cidades… não se contentam com esposas
cheias de diamantes e filhas em flor; queixam‐se porque a operária está malvestida, a lavadeira cheira a gim, a costureira é
anêmica, e porque todo homem que encontra não é um amigo e toda mulher não é um romance… sofrem com a
arquitetura do vizinho…”
Esse “apetite social” é raríssimo entre os nossos homens ricos; a não ser que “social” seja tomado no sentido de
“mundano”. E nossos homens de governo têm uma pasmosa desambição de governar.
Vi, há tempo, um conhecido meu, que se tornou muito rico, sofreu horrorosamente na hora de comprar um quadro.
Achava o quadro uma beleza, mas como o pintor pedia tantos contos ele se perguntava, e me perguntava, e perguntava
a todo mundo se o quadro “valia” mesmo aquilo, se o artista não estaria pedindo aquele preço por sabê‐lo rico, se não
seria “mais negócio” comprar um quadro de fulano.
Fiquei com pena dele, embora saiba que numa noite de jantar e
boate ele gaste tranquilamente aquela importância, sem que isso lhe dê nenhum prazer especial. Fiquei com pena
porque realmente ele gostava do quadro, queria tê‐lo, mas o prazer que poderia ter obtendo uma coisa ambicionada
era estragado pela preocupação do negócio. Se não fosse pelo pintor, que precisava de dinheiro, eu o aconselharia a
não comprar.
Homens públicos sem sentimento público, homens ricos que são, no fundo, pobres‐diabos – que não descobriram
que a grande vantagem real de ter dinheiro é não ter que pensar a todo momento, em dinheiro…
(BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas. 31ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010.)
“Um amigo meu estava ofendido porque um jornal o chamou de boa-vida.”
(1º§) A palavra sublinhada na frase anterior faz o plural da mesma forma que