- ID
- 1556476
- Banca
- Aeronáutica
- Órgão
- CIAAR
- Ano
- 2013
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto II para responder a questão.
A maldição do esquerdo-direitismo
O esquerdo-direitismo é uma crença semirreligiosa que se tornou a ideologia dominante do mundo no último
século. Esquerdo-direitistas são pessoas que acreditam que todo o bem que existe no mundo provém de apenas
uma fonte. Há dois tipos de esquerdo-direitistas – aqueles que acham que a fonte de todo o bem é o mercado e
aqueles que acham que é o estado. A estes chamamos esquerdistas, aqueles são os direitistas.
No fundo, esquerdistas e direitistas são dois lados de uma mesma coisa. Ambos veem o mundo em apenas
duas dimensões, sem profundidade, dividido entre bons e maus. Não admira que esquerdistas transformem-se em
direitistas e vice-versa com tanta facilidade – alguns dos analistas mais ferrenhos da direita passaram a juventude
militando nas facções mais radicais da esquerda.
Nos últimos [...] meses, os dois maiores ícones desse jeito simplista de ver o mundo morreram: Hugo Chávez
(esquerda) e Margareth Thatcher (direita). Difícil imaginar dois personagens tão representativos desse modo
oitocentista de ver o mundo. Todos os esquerdo-direitistas concordam que, entre os mortos, havia um santo e um
demônio. Eles discordam apenas em relação a qual é qual.
A realidade é que nem Chávez nem Thatcher merecem a canonização. Ambos tiveram seus inegáveis méritos
como líderes carismáticos, mas as duas biografias estão cheias de erros crassos. É que, ao contrário do que eles
acreditavam, o esquerdo-direitismo está errado. A crença compartilhada por esquerdistas e direitistas de que o
mundo está dividido ao meio, entre virtuosos e cretinos, simplesmente não tem lastro na realidade. Há virtudes e
cretinices em cada um de nós e o mundo é muito mais cheio de sutilezas do que imaginavam nossos manuais
ideológicos publicados nos séculos 18 e 19.
Prova disso está numa reportagem de capa recente publicada pela tradicional revista The Economist, a Bíblia
liberal inglesa, que já foi um ícone esquerdo-direitista na época que essas coisas faziam sentido. A matéria de
Economist declara que o novo modelo para o planeta são os países nórdicos. “Se você tivesse que renascer em
algum lugar do mundo com talentos e renda médios, você ia querer ser um viking", diz a revista.
Os países escandinavos, que nas décadas de 1970 e 1980 eram estados inchados, com impostos altíssimos,
baixa competitividade e serviços públicos de estado socialista, quem diria, viraram exemplo para a revista que os
liberais sempre adoraram. Isso porque, nos últimos anos, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia fizeram várias
reformas e se tornaram países incríveis para se viver.
Para começar, o estado racionalizou seus gastos e criou as mais fantásticas políticas de transparência do
mundo, permitindo à população fiscalizar seus governantes e reduzir a gastança. Na Suécia, políticos de alto escalão
moram em quitinetes, lavam a própria louça e usam transporte público ou bicicleta. Além disso, a burocracia caiu
quase a zero e esses países viraram paraísos do empreendedorismo, de fazer inveja ao Vale do Silício com suas
histórias de sucesso (Skype, Angry Birds, Spotify).
Mas isso foi feito sem sucatear o estado nem prejudicar a população. As reformas do estado foram feitas com
um objetivo claro: manter a qualidade do serviço público, ou, se possível, aumentá-la. Essa lógica ajuda a entender o
que aconteceu com a saúde e a educação pública nesses países. O governo continua atuando, provendo serviços de
qualidade, mas empresas privadas também podem entrar na competição. Os cidadãos recebem do governo vouchers
de saúde e educação e podem decidir usá-los em escolas e hospitais públicos ou privados. Na Escandinávia, o
estado continua grande, mas uma coisa fundamental mudou: ele agora funciona.
O sucesso nórdico expõe a grande falácia do esquerdo-direitismo: a crença de que só há um caminho certo.
Para os esquerdistas, criar mais empresas estatais e ter impostos altos é sempre bom. Para os direitistas, é sempre
ruim. A verdade, como costuma ser o caso, está no meio: é possível, ao mesmo tempo, melhorar os serviços e
aumentar a eficiência. Basta para isso focar no cidadão, que é muito mais importante do que empresas e estado.
Essa é a mágica que os países nórdicos operaram nos últimos anos. Enquanto isso, o Brasil faz o contrário: por
aqui conseguimos combinar impostos altos com serviços ruins. E, em vez de focar em reduzir uns e melhorar outros,
continuamos desperdiçando tempo com Thatcher e Chávez.
(Denis Russo Burgierman.Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/mundo- novo/2013/04/15/a-maldicao-do-esquerdodireitismo/ utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super)
Os trechos abaixo tiveram sua pontuação (ou parte dela) alterada. Em qual deles essa alteração de pontuação acarretou problema quanto ao sentido proposto?