Dois temas pendentes da história brasileira continuam fortemente presentes em nossas inquietações sociais e políticas. O tema da escravidão e o seu tema residual, o da posse da terra. São temas inter-relacionados, relativos às duas grandes questões nacionais, situados em polos cronológicos opostos: a questão do trabalho livre e a questão agrária. Mesmo que enquanto temas não tenham visibilidades equivalentes nem presença com dimensão apropriada no conjunto dos interesses da sociedade, estão ligados entre si porque referem-se a momentos polares de um processo inacabado, que subjaz silencioso em nossa história do presente. É inócuo discutir a questão agrária sem situá-la como incontornável questão residual da solução que, no passado, a sociedade brasileira deu à questão do escravismo.
São justamente os temas que balizam o ritmo de nossa história social e limitam nossos horizontes históricos. Limitam a possibilidade de sairmos dos impasses que nos tolhem e aprisionam nessa estranha modernidade em que o atraso e os problemas do passado se tornam o seu tempero folclórico. Nossa melhor literatura está profundamente marcada por essas persistências. Elas funcionam como um referencial de compreensão da invisibilidade do que somos, de nossa alma perdida no fundo do tempo de uma história sempre inconclusa, sempre por fazer. Mais uma história da espera do que da esperança. São os temas que definem o ritmo inseguro de nossa história lenta.
MARTINS, J.S. Reforma Agrária: O Impossível Diálogo.
Texto com adaptações. 1ª ed. São Paulo: Edusp, 2004.
Analise as assertivas abaixo sobre o texto, considerando as ideias do autor.
I. Não é producente pensar a questão agrária sem considerar o tratamento dado à questão do escravismo.
II. A classificação dos temas como “pendentes”, no início do texto, é coerente com as ideias de impasse e lentidão, mencionadas pelo autor na sequência de seu raciocínio.
III. A resolução rápida da questão agrária — à semelhança do que houve com a questão do escravismo — contribuiria para o combate à lentidão mencionada pelo autor no último parágrafo.
É correto o que se afirma em