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ID
1567972
Banca
COSEAC
Órgão
UFF
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

1     (...) a democracia moderna, regime que admite conflitos, também gera um certo teor de conflito que poderia não existir. Quando um cargo é colocado em disputa, no âmbito público, aparecem candidatos. Ora, não é óbvio que sempre haja divergências, justificando candidaturas opostas. Mas é o que acontece. E, desde que os partidos foram considerados pilares da democracia representativa, a tendência deles é se diferenciarem, oporem-se. Então, a democracia não se limita a retratar divergências existentes na sociedade: ela aprofunda algumas, acentua-as, até mesmo as agrava.

2    Crítica parecida, por sinal, foi feita por sucessivos inimigos da “democracia dos partidos", que é a principal forma moderna de democracia – desde os totalitários até o presidente francês de Gaulle e pensadores marxistas não autoritários. Mas o regime democrático também cumpre um papel mais reconhecido, mais alardeado, que é a menina dos olhos de quem o defende: ele aceita um teor de conflito na sociedade. Admite como normal que haja tensões entre pessoas ou grupos. Pela primeira vez na história do mundo, desobriga os humanos de viver num todo harmônico, equilibrado. Porque a harmonia é uma empulhação. Na Ásia, o discurso confuciano, assentado na ideia de que a sociedade se organiza como uma família, leva a entender a discórdia como traição. No Ocidente, a comparação do Estado a um corpo harmônico e saudável autorizou considerar o divergente um membro gangrenado ou doente, que deve ser amputado. Quem não obedece ao amor do príncipe não é apenas um divergente, uma pessoa livre para pensar de outra forma: é um traidor, um ingrato, um infame.

3    Diante dessa representação hipócrita das relações sociais como amorosas e da conversão do amor em autoritarismo – porque quem não retribui o amor do ditador obedecendo-lhe em todas as coisas atrai o castigo –, a democracia simplesmente deixa as coisas acontecerem. Discorda? É um direito seu. Haverá regras para dizer a discordância e, mesmo, submetê-las ao voto. A democracia cria procedimentos para garantir o direito de oposição – que também reduzem o teor dos confrontos. 

4    Isso quer dizer que o conflito político não pode ser excessivo, e geralmente não o é. Primeiro, porque a política é a substituição da guerra. Em vez de armas, brigamos com votos. Eles não matam. O adversário não é inimigo. Não está em jogo, ao contrário do que pretendia Carl Schmidt, a extinção do outro. Pelo menos não se quer sua eliminação física, como na guerra, como com o inimigo. Segundo, porque a política se dá com palavras, que manejam emoções que se expressam no voto. Lembremos o que é “voto": o significado deste termo se vê em “votos de felicidade" ou de “feliz ano-novo". Votos são desejos. Expressamos nosso desejo em palavras, as do debate político, elaborando a decisão de votar em Fulano ou Beltrano.

5   Assim, a democracia representativa de partidos gera necessariamente conflitos, mas não os deixa transbordar para a forma bélica. Ela exige um certo teor de conflito, mas não excessivo. Não vive sem conflitos, mas morre se o conflito se exacerbar.

                                                                               (RIBEIRO, Renato Janine. Rev. Filosofia: set., 2014, p. 82.)



A alternativa em que a conjunção “como” tem, fundamentalmente, o mesmo valor relacional que em: “assentado na ideia de que a sociedade se organiza COMO uma família” (§ 2) é:

Alternativas
Comentários
  • A palavra COMO tem várias funções. No caso da questão acima, COMO tem o seu sentido mais genuíno, que é o de comparação.

     

     “assentado na ideia de que a sociedade se organiza COMO uma família” (§ 2) é:  - compara-se sociedade com família.

    letra C) Mostrava-se tão estudiosa COMO inteligente. - compara-se estudiosa com inteligente. 

     

    As outras alternativas:

    a) Como fazia calor, entreabriu as janelas. - ADVERBIAL CAUSAL (assume a função de por que)

    Ex: Por que fazia calor, entreabriu as janelas.

     

    b)  Como todos devem saber, gosto de literatura. - PALAVRA EXPLICATIVA (tem o sentido de: a saber, assim como, isto é.)

    Ex: Assim como todos devem saber, gosto de literatura.

     

    d) Era, como sempre lhe disse, um bom aluno. - ADVERBIAL CONFORMATIVA (tem valor de conforme)

    Ex: Era, conforme sempre lhe disse, um bom aluno. 

     

    d) Como ele obteve essa nota ninguém sabe. - ADVERBIAL CAUSAL (não tenho certeza dessa).

     

     

     

  • A "D" parece-me conjunção integrante, ligando oração sub. subst..

  •  “assentado na ideia de que a sociedade se organiza COMO uma família” ( comparação).

    C)Mostrava-se tão estudiosa COMO inteligente. (comparação)

  • não vi comparação nessa C.  entendi que a pessoa é estudiosa E inteligente...

  • Conjunções comparativas: Introduzem uma oração que apresenta uma comparação com o acontecimento da oração principal. Exemplos: como; assim como; tal; qual; tanto como; etc