SóProvas


ID
1585783
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Duque de Caxias - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                 Afinal, quem é louco?

      Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou oito outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.
    Durante mais de 40 anos passei longe deles. Mas o mundo gira, a lusitana roda e Portugal me entortou um bocado a cabeça. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando esta loucura semanal.
      O melhor na terapia é chegar antes, alguns minutos, e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera.Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro, ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer daqui a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura.
      E eu, como escritor, adoro observar as pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta deste brinquedo, no mínimo, criativo.
       E a sala de espera de um consultório médico, como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Herman Hesse como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:
      Na última quarta‐feira, estávamos eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinquenta anos e uma velha gorda. Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual era a loucura de cada um deles. Que motivos os teriam trazido até ali? Qual seria o problema de cada um deles? Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados. Em si mesmos.
      O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá‐lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o casamento, pensei. (...) Notei que o tênis dele estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro.Podia ser perigoso. Afastei‐me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da sua mala assassina.
      E o senhor de terno preto, gravata, meia e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. (...) Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz este meu personagem. Uma hora tirou o lenço, e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Herman Hesse da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. (...)
      Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa! Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. (...) Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem tinha uma prisão de ventre crônica. Tinha cara, também, de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve‐Rainha por ela, se a conhecesse.
      Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu terapeuta. Conto para ele a minha viagem na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu terapeuta:
      – O Ditinho é o nosso office‐boy. O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá do Ipiranga, e passa por aqui uma vez por mês com as novidades. E a gordinha é a dona Dirce, a minha mãe. E você não vai ter alta tão cedo.

                                     (Disponível em: http://marioprata.net/cronicas/afinal_quem‐e‐louco. Adaptado.)

Analise: “... que ele trazia uma mala.” (7º§). Nas frases a seguir, as formas verbais destacadas estão flexionadas em tempos verbais diferentes da frase acima, EXCETO:

Alternativas
Comentários
  • Trazia - Pretérito Imperfeito do Indicativo (trazer)
    Era - Pretérito Imperfeito do Indicativo (ser)
    Seria - Futuro do Pretérito (ser)
    Assou - Pretérito Perfeito (assoar)

    Assoava - Pretérito Imperfeito do Indicativo (assoar)

    Estou - Presente do Indicativo  (estar)
    Estava - Pretérito Imperfeito do Indicativo (estar)

  •  “Tudo que é IMPERFEITO, merece uma VA I NHA, porque já ERA! .

    macete para descobri o preterito imperfeito

     

  • Gabarito A. Pois:

    "...que ele TRAZIA uma mala." ---> Pretérito IMPERFEITO (pois exprime uma noção de passado CONTÍNUO/COSTUME)


     a) “Como era infeliz este meu personagem.” (8º§) - CERTO. Verbo no PRETÉRITO IMPERFEITO (exprime a ideia de PASSADO CONTÍNUO/COSTUME)
     

     b)“Qual seria o problema de cada um deles?” (6º§) - ERRADO. Verbo no FUTURO DO PRESENTE (passa a noção de INCERTEZA)


     c)“… quando ele assoou o nariz violentamente,…” (8º§) - ERRADO. Verbo no PRETÉRITO PERFEITO (expressa a ideia de FATO CONSUMADO,AÇÃO FINALIZADA). 


     d) “... que estou adorando esta loucura semanal.”(2º§) - ERRADA. Verbo no PRESENTE 

  •   Tudo que é IMPERFEITO, merece uma VA IA NHA, porque já ERA!

    MACETE!

  • a banca queria apenas confundir quem pensou nas conjunções: que, se e quando - utilizadas como "macete" nas conjugações verbais (articulações dos tempos dentro dos modos verbais)

  • macete da flavia rita esse da va ia nha pq já era ;-)

  • Alguém poderia explicar melhor esse macete que muitos citaram?

    "Tudo que é IMPERFEITO, merece uma VA IA NHA, porque já ERA!"

    Obrigada!

     

  • Galera põe a dica do "Tudo que é IMPERFEITO, merece uma VA IA NHA, porque já ERA!"

    Tbm não saquei e to penando com verbos kkk

  • É um macete para tentar descobrir a terminação dos verbos no pretérito imperfeito.

    Verbos terminados em –ar: terminação em –va

    Verbos terminados em –er/ir: terminação em –ia (trazer/trazia)

    Verbos ter, pôr, vir e derivados: terminação em -nha/nhe

    Daí o macete: tudo que é imperfeito, merece uma VA IA NHA, porque já ERA.

    O “ERA” refere-se à irregularidade do verbo ser que no Pretérito Imperfeito conjuga-se: eu era, eras, era..

    Portanto “trazia” etsá no Pretérito Imperfeito e “ERA” também. Mas muitos devem pensar que está no pretérito perfeito...

    Tomara que eu tenha conseguido explicar, mas sem assistir as aulas delas é bem difícil entender essa regra.

  • GABARITO A

    TRAZIA ( Pretérito imperfeito do indicativo)

    Para conjugar o pretérito imperfeito as terminações serão :

    verbos de primeira conjugação, base +va 

    verbos de segunda e terceira conjugação, base + ia 

    os verbos ter, por e vir, irregulares, terminação nha 

    e o verbo Ser, terminação Era.

    por isso o Macete, pra lembrar as terminações. "Tudo que é  imperfeito merece uma VA IA NHA porque já ERA".

     

     

  • Obrigada, Rafaela e Priscila!

  • trazia = pretérito imperfeito do indicativo - SEGUNDA CONJUGAÇÃO -TRAZER 

    Era - pretérito imperfeito do indicativo - SEGUNDA CONJUGAÇÃO - SER 

     

  • Estou doida ou este enunciado induz o candidato a erro? Observem: "... que ele trazia uma mala.” (7º§). Nas frases a seguir, as formas verbais destacadas estão flexionadas em tempos verbais diferentes da frase acima, EXCETO"... Ou seja, o enunciado nos diz que as alternativas trazem formas verbais diferentes EXCETO, ou seja, quer a alternativa com a mesma forma verbal?!!? Fiquei procurando uma alternativa que estivesse no pretérito imperfeito como a do enunciado, porém, tinha duas... Alguém também entendeu assim??

  • Taila, fiz essa questão em um pdf, pensei e analisei a questão da mesma forma que você, chutei uma das duas e fiquei surpreso quando vi o gabarito que simplesmente ignora o "EXCETO" do enunciado, muito confuso. Estava procurando alguém que tivesse interpretado da mesma forma que eu kkk

  • Tive o mesmo raciocínio de vcs Taila e Rangel.

    Mas nas alternativas temos apenas a letra A com Pretérito Imperfeito. Impossível manter esse gabarto. 

    A Letra A não gera dúvidas. 

    Esse exceto não pode ser desconsiderado.

    Questão péssima de banca.

  • Só pra dar crédito esse macete que todo mundo tá citando aí nos comentários é da professora Flávia Rita, por sinal, a melhor professora de português que eu já vi.

    Outra coisa: não entendi o porque da dúvida nessa questão, trocando em miúdos, o que a questão quer é a alternativa que tenha verbo no mesmo tempo que do enunciado, ou seja, pretérito imperfeito do inidcativo. A única alternativa é a letra A. Não tem outra possibilidade como eu vi algumas pessoas falando. A letra b está no futuro do pretérito, a letra c no pretérito perfeito do indicativo e a letra d no presente do indicativo.

     

  • Para quem está com dúvida em conjugação eu recomendo o site: www.conjugacao.com.br