SóProvas


ID
1585789
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Duque de Caxias - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                 Afinal, quem é louco?

      Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou oito outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.
    Durante mais de 40 anos passei longe deles. Mas o mundo gira, a lusitana roda e Portugal me entortou um bocado a cabeça. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando esta loucura semanal.
      O melhor na terapia é chegar antes, alguns minutos, e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera.Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro, ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer daqui a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura.
      E eu, como escritor, adoro observar as pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta deste brinquedo, no mínimo, criativo.
       E a sala de espera de um consultório médico, como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Herman Hesse como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:
      Na última quarta‐feira, estávamos eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinquenta anos e uma velha gorda. Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual era a loucura de cada um deles. Que motivos os teriam trazido até ali? Qual seria o problema de cada um deles? Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados. Em si mesmos.
      O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá‐lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o casamento, pensei. (...) Notei que o tênis dele estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro.Podia ser perigoso. Afastei‐me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da sua mala assassina.
      E o senhor de terno preto, gravata, meia e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. (...) Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz este meu personagem. Uma hora tirou o lenço, e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Herman Hesse da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. (...)
      Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa! Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. (...) Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem tinha uma prisão de ventre crônica. Tinha cara, também, de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve‐Rainha por ela, se a conhecesse.
      Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu terapeuta. Conto para ele a minha viagem na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu terapeuta:
      – O Ditinho é o nosso office‐boy. O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá do Ipiranga, e passa por aqui uma vez por mês com as novidades. E a gordinha é a dona Dirce, a minha mãe. E você não vai ter alta tão cedo.

                                     (Disponível em: http://marioprata.net/cronicas/afinal_quem‐e‐louco. Adaptado.)

Acerca da classificação dos termos grifados a seguir, marque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) “Existem dois tipos de loucos." (1º§) – objeto direto

( ) “O silêncio é uma loucura." (3º§) – predicativo

( ) “Afastei‐me um pouco dele no sofá." (7º§) – adjunto adverbial

( ) “Acho que todo escritor gosta deste brinquedo,..." (4º§) – sujeito

A sequência está correta em:

Alternativas
Comentários
  •  “Existem dois tipos de loucos." (1º§) – objeto direto(ITEM FALSO).............. O que ou quem existem ? R: dois tipos de loucos  (na grande maioria das vezes o sujeito do verbo "existir" vem posposto ao verbo)


     “O silêncio é uma loucura." (3º§) – predicativo(ITEM VERDADEIRO)  ...............verbo "ser" é de ligação, por isso o complemento é predicativo do sujeito ("O silêncio...")

     

     “Afastei‐me um pouco dele no sofá." (7º§) – adjunto adverbial(ITEM VERDADEIRO) ...................no sofá complementa o verbo, adjunto adverbial de lugar


     “Acho que todo escritor gosta deste brinquedo,..." (4º§) – sujeito(ITEM VERDADEIRO).............. Que ou quem gosta deste brinquedo ? R: todo escritor (sujeito do verbo "gostar")

  • Prá mim, esta questão não tem resposta.
    a) FALSO, pois se trata de SUJEITO. Que é que existem? R: dois tipos de loucos.
    b) VERDADEIRO, pois tem-se o verbo de ligação "é" que gera um predicativo.
    c) VERDADEIRO, ADJUNTO ADVERBIAL DE LUGAR.
    d) FALSO, pois o sujeito é elíptico/oculto. "Eu". 
    Será que viajei? Quem puder ajudar...! =]

  • "Eu" é sujeito do verbo achar e "todo escritor" é sujeito do verbo gostar.

  • “Acho que todo escritor gosta deste brinquedo,..." (4º§) – sujeito

    Há o sujeito oculto no verbo "achar" e o termo "todo escritor" é o sujeito do verbo "gostar".

  • Existem dois tipos de loucos.  = Dois Tipos de escritores existem = Sujeito

  • Sabendo que EXISTIR  é verbo intransitivo dava pra saber que a letra está errada, pois Verbo Intransitivo não tem OD

  • CLARI, fiz igual a vc, mas a questao é que tínhamos q separar as oracoes antes, ver os 2 verbos e fazer a analise.Realmente, o gabarito está corretissimo.

  • Eu errei a questão coloquei a letra B e não A por entender que adjunto adverbial é diferente de locução adverbial, para mim seria locução adverbial, mas a banca não diferenciou.