Fronteiras do pensamento
SÃO PAULO – O livro é um catatau de quase 600 páginas
e traz só uma ideia. Ainda assim, “Surfaces and Essences” (superfícies
e essências), do físico convertido em cientista cognitivo
Douglas Hofstadter e do psicólogo Emmanuel Sander, é uma
obra importante. Os autores apresentam uma tese que é a um
só tempo capital e contraintuitiva – a de que as analogias que
fazemos constituem a matéria-prima do pensamento – e se põem
a demonstrá-la.
Para fazê-lo, eles se valem de um pouco de tudo. A argumentação
opera nas fronteiras entre a linguística, a filosofia, a
matemática e a física, com incursões pela literatura, o estudo
comparativo dos provérbios e a enologia, para enumerar algumas
poucas das muitas áreas em que os autores se arriscam.
A ideia básica é que o cérebro pensa através de analogias.
Elas podem ser infantis (“mamãe, eu desvesti a banana”), banais
(termos como “e” e “mas” sempre introduzem comparações
mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia “vendo”
os satélites de Júpiter como luas), mas estão na origem de
todas as nossas falas, raciocínios, cálculos e atos falhos – mesmo
que não nos demos conta disso.
Hofstadter e Sander sustentam que o processo de categorização, que muitos especialistas consideram a base do pensamento,
não envolve nada mais do que fazer analogias.
Para não falar apenas de flores (mais uma analogia), o livro
ganharia bastante se tivesse passado por um bom editor disposto
a cortar pelo menos uns 30% de gorduras. Algumas das digressões
dos autores são francamente dispensáveis e eles poderiam
ter sido mais contidos nos exemplos, que se contam às centenas,
estendendo-se por páginas e mais páginas, quando meia dúzia
teriam sido suficientes.
A prolixidade e o exagero, porém, não bastam para apagar o
brilho da obra, que definitivamente muda nossa forma de pensar
o pensamento.
(Hélio Schwartsman, Fronteiras do pensamento.
Folha de S.Paulo, 19.05.2013. Adaptado)
No trecho do terceiro parágrafo – Elas podem ser infantis (“mamãe, eu desvesti a banana”), banais (termos como “e” e “mas” sempre introduzem comparações mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia “vendo” os satélites de Júpiter como luas)... – as informações organizam-se de tal forma que acabam por constituir, quanto ao seu sentido global, uma relação de