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ID
162124
Banca
FCC
Órgão
TCE-AL
Ano
2008
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Propósitos e liberdade

Desde que nascemos e a nossa vida começou, não há
mais nenhum ponto zero possível. Não há como começar do
nada. Talvez seja isso que torna tão difícil cumprir propósitos de
Ano Novo. E, a bem da verdade, o que dificulta realizar qualquer
novo propósito, em qualquer tempo.
O passado é como argila que nos molda e a que estamos
presos, embora chamados imperiosamente pelo futuro.
Não escapamos do tempo, não escapamos da nossa história.
Somos pressionados pela realidade e pelos desejos. Como
pode o ser humano ser livre se ele está inexoravelmente
premido por seus anseios e amarrado ao enredo de sua vida?
Para muitos filósofos, é nesse conflito que está o problema da
nossa liberdade.
Alguns tentam resolver esse dilema afirmando que a
liberdade é a nossa capacidade de escolher, a que chamam
livre-arbítrio. Liberdade se traduziria por ponderar e eleger entre
o que quero e o que não quero ou entre o bem e o mal, por
exemplo. Liberdade seria, portanto, sinônimo de decisão.
Prefiro a interpretação de outros pensadores, que nos
dizem que somos livres quando agimos. E agir é iniciar uma
nova cadeia de acontecimentos, por mais atrelados que estejamos
a uma ordem anterior. Liberdade é, então, começar o
improvável e o impensável. É sobrepujar hábitos, crenças,
determinações, medos, preconceitos. Ser livre é tomar a
iniciativa de principiar novas possibilidades. Desamarrar. Abrir
novos tempos.
Nossa história e nosso passado não são nem cargas
indesejadas, nem determinações absolutas. Sem eles, não
teríamos de onde sair, nem para onde nos projetar. Sem
passado e sem história, quem seríamos? Mas não é porque não
pudemos (fazer, falar, mudar, enfrentar...) que jamais
poderemos. Nossa capacidade de dar um novo início para as
mesmas coisas e situações é nosso poder original e está na raiz
da nossa condição humana. É ela que dá à vida uma direção e
um destino. Somos livres quando, ao agir, recomeçamos.
Nossos gestos e palavras, mesmo inconscientes e
involuntários, sempre destinam nossas vidas para algum lugar.
A função dos propósitos é transformar esse agir, que cria
destinos, numa ação consciente e voluntária. Sua tarefa é a de
romper com a casualidade aparente da vida e apagar a
impressão de que uma mão dirige nossa existência.
Os propósitos nos devolvem a autoria da vida.

(Dulce Critelli. Folha de São Paulo, 24/01/2008)

Nossos gestos e palavras, mesmo inconscientes e involuntários, sempre destinam nossas vidas para algum lugar.

A palavra sublinhada na frase acima está empregada com função e sentido diferentes em:

Alternativas
Comentários
  • Nossos gestos e palavras, mesmo (até) inconscientes e involuntários, sempre destinam nossas vidas para algum lugar.
    b) Não me submeto ao destino, mesmo (até) quando intimidado pelos fatos.
    c) Mesmo (até) submetido a fortes pressões, ele não hesita em abrir caminhos.
    d) Mesmo (até) sabendo que não serão cumpridos, vivemos formulando novos propósitos.
    e) Crê na mão que conduz o destino mesmo (até) quem reconhece que isso leva à extrema passividade.

    ADVÉRBIOS (são invariáveis, não poderiam ser substituídos por "mesma", nem se depois viesse palavra feminina)



    a) RESPOSTA: É comum que o mesmo homem (A mesmA MULHER) que enuncia novos propósitos logo renuncie a eles.
    ADJETIVO
    variável, se refere a um substantivo, que, se for feminino, vai fazer com que o adjetivo passe para o feminino também)

  • acredito que o a expressão sublinhada equivale a AINDA, observem o por quê:

                       a) É comum que o mesmo homem que enuncia novos propósitos logo renuncie a eles.(certa, pois o ainda não se excaixaria bem aqui)  
    • b) Não me submeto ao destino, mesmo(ainda) quando intimidado pelos fatos.
    • c) Mesmo(ainda que) submetido a fortes pressões, ele não hesita em abrir caminhos.
    • d) Mesmo(ainda) sabendo que não serão cumpridos, vivemos formulando novos propósitos.
    • e) Crê na mão que conduz o destino mesmo(AINDA, que deverá vir entre virgulas) quem reconhece que isso leva à extrema passividade.
  • Acredito que esse "mesmo" da questão é conjunção concessiva!? Alguém consegue esclarecer melhor?