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ID
162139
Banca
FCC
Órgão
TCE-AL
Ano
2008
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Propósitos e liberdade

Desde que nascemos e a nossa vida começou, não há
mais nenhum ponto zero possível. Não há como começar do
nada. Talvez seja isso que torna tão difícil cumprir propósitos de
Ano Novo. E, a bem da verdade, o que dificulta realizar qualquer
novo propósito, em qualquer tempo.
O passado é como argila que nos molda e a que estamos
presos, embora chamados imperiosamente pelo futuro.
Não escapamos do tempo, não escapamos da nossa história.
Somos pressionados pela realidade e pelos desejos. Como
pode o ser humano ser livre se ele está inexoravelmente
premido por seus anseios e amarrado ao enredo de sua vida?
Para muitos filósofos, é nesse conflito que está o problema da
nossa liberdade.
Alguns tentam resolver esse dilema afirmando que a
liberdade é a nossa capacidade de escolher, a que chamam
livre-arbítrio. Liberdade se traduziria por ponderar e eleger entre
o que quero e o que não quero ou entre o bem e o mal, por
exemplo. Liberdade seria, portanto, sinônimo de decisão.
Prefiro a interpretação de outros pensadores, que nos
dizem que somos livres quando agimos. E agir é iniciar uma
nova cadeia de acontecimentos, por mais atrelados que estejamos
a uma ordem anterior. Liberdade é, então, começar o
improvável e o impensável. É sobrepujar hábitos, crenças,
determinações, medos, preconceitos. Ser livre é tomar a
iniciativa de principiar novas possibilidades. Desamarrar. Abrir
novos tempos.
Nossa história e nosso passado não são nem cargas
indesejadas, nem determinações absolutas. Sem eles, não
teríamos de onde sair, nem para onde nos projetar. Sem
passado e sem história, quem seríamos? Mas não é porque não
pudemos (fazer, falar, mudar, enfrentar...) que jamais
poderemos. Nossa capacidade de dar um novo início para as
mesmas coisas e situações é nosso poder original e está na raiz
da nossa condição humana. É ela que dá à vida uma direção e
um destino. Somos livres quando, ao agir, recomeçamos.
Nossos gestos e palavras, mesmo inconscientes e
involuntários, sempre destinam nossas vidas para algum lugar.
A função dos propósitos é transformar esse agir, que cria
destinos, numa ação consciente e voluntária. Sua tarefa é a de
romper com a casualidade aparente da vida e apagar a
impressão de que uma mão dirige nossa existência.
Os propósitos nos devolvem a autoria da vida.

(Dulce Critelli. Folha de São Paulo, 24/01/2008)

Está inteiramente correta a pontuação da seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  • na letra D, dois adjuntos adverbiais estão deslocados, portanto, entre vírgulas, antes do "pois", há vírgula, uma vez que há separação de orações e a segundo é explicativa.
  • Pior erro de vírgula: separar o sujeito do verbo. Foi o que mais ocorreu nas alternativas erradas. Analizando a frase na ordem direta ficaria:É, realmente, muito difícil (PREDICADO)cumprir propósitos de Ano Novo, (SUJEITO)pois não há como, de fato, alguém começar algo inteiramente do nada.(ORAÇÃO EXPLICATIVA)Reduzindo: cumpri é difícil, pois não há como começar do nada >>>>> isso é difícil."Reamente" é "advérbio" e está no meio da frase. O uso de vírgulas com advébios no meio da frase é FACULTATIVO (MAS TENHO QUE TIRAR OU COLOCAR AS DUAS VÍRGULAS AO MESMO TEMPO. NÃO POSSO USAR SOMENTE UMA, SENÃO ERRO).CORRIGINDO FICARIA:a) É realmente muito difícil cumprir propósitos de Ano Novo, pois não há como de fato alguém começar algo inteiramente do nada. b) É realmente muito difícil cumprir propósitos de Ano Novo, pois não há como, de fato, alguém começar algo inteiramente do nada. c) É, realmente, muito difícil cumprir propósitos de Ano Novo, pois não há como de fato alguém começar algo inteiramente do nada. d) É, realmente, muito difícil cumprir propósitos de Ano Novo, pois não há como, de fato, alguém começar algo inteiramente do nada. e) É realmente muito difícil cumprir propósitos de Ano Novo, pois não há como de fato alguém começar algo, inteiramente, do nada.
  • Resposta: D