SóProvas


ID
162142
Banca
FCC
Órgão
TCE-AL
Ano
2008
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Propósitos e liberdade

Desde que nascemos e a nossa vida começou, não há
mais nenhum ponto zero possível. Não há como começar do
nada. Talvez seja isso que torna tão difícil cumprir propósitos de
Ano Novo. E, a bem da verdade, o que dificulta realizar qualquer
novo propósito, em qualquer tempo.
O passado é como argila que nos molda e a que estamos
presos, embora chamados imperiosamente pelo futuro.
Não escapamos do tempo, não escapamos da nossa história.
Somos pressionados pela realidade e pelos desejos. Como
pode o ser humano ser livre se ele está inexoravelmente
premido por seus anseios e amarrado ao enredo de sua vida?
Para muitos filósofos, é nesse conflito que está o problema da
nossa liberdade.
Alguns tentam resolver esse dilema afirmando que a
liberdade é a nossa capacidade de escolher, a que chamam
livre-arbítrio. Liberdade se traduziria por ponderar e eleger entre
o que quero e o que não quero ou entre o bem e o mal, por
exemplo. Liberdade seria, portanto, sinônimo de decisão.
Prefiro a interpretação de outros pensadores, que nos
dizem que somos livres quando agimos. E agir é iniciar uma
nova cadeia de acontecimentos, por mais atrelados que estejamos
a uma ordem anterior. Liberdade é, então, começar o
improvável e o impensável. É sobrepujar hábitos, crenças,
determinações, medos, preconceitos. Ser livre é tomar a
iniciativa de principiar novas possibilidades. Desamarrar. Abrir
novos tempos.
Nossa história e nosso passado não são nem cargas
indesejadas, nem determinações absolutas. Sem eles, não
teríamos de onde sair, nem para onde nos projetar. Sem
passado e sem história, quem seríamos? Mas não é porque não
pudemos (fazer, falar, mudar, enfrentar...) que jamais
poderemos. Nossa capacidade de dar um novo início para as
mesmas coisas e situações é nosso poder original e está na raiz
da nossa condição humana. É ela que dá à vida uma direção e
um destino. Somos livres quando, ao agir, recomeçamos.
Nossos gestos e palavras, mesmo inconscientes e
involuntários, sempre destinam nossas vidas para algum lugar.
A função dos propósitos é transformar esse agir, que cria
destinos, numa ação consciente e voluntária. Sua tarefa é a de
romper com a casualidade aparente da vida e apagar a
impressão de que uma mão dirige nossa existência.
Os propósitos nos devolvem a autoria da vida.

(Dulce Critelli. Folha de São Paulo, 24/01/2008)

Está correto o emprego de ambos os elementos sublinhados na frase:

Alternativas
Comentários
  • a) errada. Falta crase em àquele; errada também: não podem faltar iniciativas que levem...b) errada. O passado, ao qual/a quem nos moldamos; como a argila, a cuja forma os bonecos se submetem;c) errada. A trama do destino, a quem tantos... iniciativa que viéssemos a tomar;d) errada. Capacidade de escolher, com a qual muitos identificam...e) correta. Também estaria correta com a seguinte redação: Os mesmos fatos ...aos quais estamos atrelados... a umrecomeço, do qual (ou de quem) sempre temos tanta necessidade.
  • Apenas complementando o comentário da colega abaixo:
    "A cuja" é horrível, mas seu uso está correto!
  • Só uma dúvida em relação ao comentário abaixo.

    A alternativa B, não ficaria correto "NA qual muitos identificam"?  Pois pra mim caberia o COM se fosse "com a qual muitos se identificam".

    É só uma dúvida.

     

  • O Joaquim só se equivocou ao informar a letra. Sua dúvida seria sobre a D)
    Concordo com ele.

    [...], NA qual muitos identificam o livre-arbítrio[...]

    Quem identifica, identifica ALGO (o livre arbítrio) EM alguma coisas (NA qual = capacidade de escolher)

    No caso da forma pronominal do verbo identificar, IDENTIFICAR-SE, ele rege a preposição COM
    Quem se identifica, identifica-se COM alguma coisa.
    Não é o caso da questão. Acredito que foi apenas esse o erro da colega do primeiro comentário.

    Só não entendi a nota RUIM do colega Joaquim. Quer dizer que se há uma dúvida, e nesse caso produtiva, ela é RUIM?
    Que é isso pessoal...
  • Acho que o erro da D seria

    A capacidade de escolher não tem a mesma relevância que se reveste a iniciativa de uma ação da qual muitos identificam o livre-arbítrio.

    da qual = de uma ação.

    favor me corrigirem