- ID
- 1627519
- Banca
- FUNDEP (Gestão de Concursos)
- Órgão
- CORECON - MG
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia este trecho do livro Canaã, do escritor
brasileiro Graça Aranha, para responder às questões.
A felicidade de Milkau era perfeita. Tinha limitado o
inquieto desejo, apagado do espírito as manchas da
ambição, do domínio e do orgulho, e deixado que a
simplicidade do coração o retomasse e inspirasse.
Trabalhava mansamente no quinhão de terra que
ocupava. A sua pequena habitação, erguida no silêncio
da mata, era humilde como as outras dos colonos; nada
existia ali que fosse a traição de um gosto refinado, ou
uma pequena volúpia. Apenas, quebrando a uniforme
monotonia rústica, o quarto de dormir de Milkau
impressionava como uma capela ardente de amor, de
veneração e de saudade. Estava povoado de retratos,
como veladores Penates que o homem transporta nas
suas migrações sobre a Terra. Aí se viam pessoas da
família, essa mãe, quase filha, com grandes olhos de
dor e súplica perene, o pai iluminado por um sorriso de
mártir, e a mulher, criança que amara quando ela passou
diante dos seus olhos, transfigurando-se para morrer.
Os mais eram retratos das grandes figuras humanas,
poetas, amorosos, sofredores. Era com essas imagens
que Milkau vivia na comunhão funda e religiosa, que dá
a alegria perpétua e que enche o vazio do isolamento.
(...)
Sem demora, Milkau espraiava-se em relações com
o grupo colonial do Rio Doce. Achava um encanto em
conviver com essa gente primitiva, que o recebia sem
desconfiança, e que se ia deixando infiltrar da sua
cordura e meiguice. Milkau, sem orgulho de inteligência,
conformava-se com todas as lições que lhe davam os
antigos e experientes colonos sobre as coisas da lavoura.
Vendo-o assim atento, mais lhe queriam os camponeses,
que ele não atemorizava com a sua educação, e em sua
presença tinham instintivamente uma atitude cheia de
simpatia e respeito. (...)
ARANHA, Graça. Canaã. 10. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 100.
No trecho: “Achava um encanto em conviver com essa gente primitiva, que o recebia sem desconfiança, e que se ia deixando infiltrar da sua cordura e meiguice.”, a palavra cordura significa