SóProvas


ID
1678192
Banca
IF-PB
Órgão
IF-PB
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I

Concertos de leitura

Penso que, de tudo o que as escolas podem fazer com as crianças e os jovens, não há nada de importância maior que o ensino do prazer da leitura. Todos falam na importância de alfabetizar, saber transformar símbolos gráficos em palavras. Concordo. Mas isso não basta. É preciso que o ato de ler dê prazer. As escolas produzem, anualmente, milhares de pessoas com habilidade de ler mas que, vida afora, não vão ler um livro sequer. Acredito piamente no dito do evangelho: "No princípio está a Palavra…". É pela palavra que se entra no mundo humano. (...)

As razões por que as pessoas não gostam de ler, eu as descobri acidentalmente muitos anos atrás. Uma aluna foi à minha sala e me disse: "Encontrei um poema lindo!". Em seguida disse a primeira linha. Fiquei contente porque era um de meus favoritos. Aí ela resolveu lê-lo inteiro. Foi o horror. Foi nesse momento que compreendi. Imagine uma valsa de Chopin, por exemplo a vulgarmente chamada "do minuto". Peço que o pianista Alexander Brailowiski a execute. Os dedos correm rápidos sobre as teclas, deslizando, subindo, descendo. É uma brincadeira, um riso. Aí eu pego a mesma partitura e peço que um pianeiro a execute. As notas são as mesmas. Mas a valsa fica um horror: tropeções, notas erradas, arritmias, confusões. O que a gente deseja é que ele pare. Pois a leitura é igual à música. Para que a leitura dê prazer é preciso que quem lê domine a técnica de ler. A leitura não dá prazer quando o leitor é igual ao pianeiro: sabem juntar as letras, dizer o que significam — mas não têm o domínio da técnica. O pianista dominou a técnica do piano quando não precisa pensar nos dedos e nas notas: ele só pensa na música. O leitor dominou a técnica da leitura quando não precisa pensar em letras e palavras: só pensa nos mundos que saem delas; quando ler é o mesmo que viajar. E o feitiço da leitura continua me espantando. Faz uns anos um amigo rico me convidou para passar uns dias no apartamento dele em Cabo Frio. Aceitei alegre, mas ele logo me advertiu: "Vão também cinco adolescentes…". Senti um calafrio. E tratei de me precaver. Fui a uma casa de armas, isto é, uma livraria, escolhi uma arma adequada, uma versão simplificada da Odisséia, de Homero, comprei-a e viajei, pronto para o combate. Primeiro dia, praia, almoço, modorra, sesta. Depois da sesta, aquela situação de não saber o que fazer. Foi então que eu, valendo-me do fato de que eles não me conheciam, e falando com a autoridade de um sargento, disse: "Ei, vocês aí. Venham até a sala que eu quero lhes mostrar uma coisa!". Eles obedeceram sem protestar. Aí, comecei a leitura. Não demorou muito. Todos eles estavam em transe. Daí para a frente foi aquela delícia, eles atrás de mim pedindo que continuasse a leitura. Ensina-se, nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. Fui obrigado a aprender muita coisa que não era necessária, que eu poderia ter aprendido depois, quando e se a ocasião e sua necessidade o exigisse. É como ensinar a arte de velejar a quem mora no alto das montanhas…Nunca usei seno ou logaritmo, nunca tive oportunidade de usar meus conhecimentos sobre as causas da Guerra dos Cem Anos, nunca tive de empregar os saberes da genética para determinar a prole resultante do cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos, nunca houve ocasião que eu me valesse dos saberes sobre sulfetos. Mas aquela experiência infantil, a professora nos lendo literatura, isso mudou minha vida. Ao ler — acho que ela nem sabia disso — ela estava me dando a chave de abrir o mundo. Há concertos de música. Por que não concertos de leitura? Imagino uma situação impensável: o adolescente se prepara para sair com a namorada, e a mãe lhe pergunta: "Aonde é que você vai?". E ele responde: "Vou a um concerto de leitura. Hoje, no teatro, vai ser lido o conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. Por que é que você não vai também com o pai?". Aí, pai e mãe, envergonhados, desligam o Jornal Nacional e vão se aprontar…

(Adaptado de: ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Editorial Loyola, 1996.)

Considere as seguintes passagens:

I. Faz uns anos um amigo rico me convidou para passar uns dias no apartamento dele.

II. Ensina-se, nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira.

No que diz respeito às formas verbais em destaque, é CORRETO o que se afirma em: 

Alternativas
Comentários
  • A- errado, concorda com "muita coisa";

     

    B- Errado, faz, no sentido de tempo transcorrido é invariável;

     

    C- Errado, faz, no sentido de tempo transcorrido é invariável;

     

    D- Errado, faz, no sentido de tempo transcorrido é invariável;

     

    E- CORRETA

     

    Bons estudos.

  • não entendi a letra E...muita coisa é sujeito? por isso ensina-se concorda com ele?  pensei q ñ tinha sujeito.

  • Ana carolina, não sei se posso te auxiliar com toda certeza, contudo, eu resolvi assim:

    Ensina-se -> Partícula apassivadora. 

    Voz passiva: o sujeito recebe, sofre a ação praticada pelo verbo.

     

    O "SE" É PARTÍCULA APASSIVADORA PORQUE O VERBO É TRANSITIVO DIRETO, ASSIM O QUE VEM DEPOIS DELE É O SUJEITO (MUITAS COISAS)

     

    Me corrijam se eu estiver errado!!!

     

     

  •  

    Gab. E

    Trata-se de ocorrência da voz passiva sintética, em que o verbo deverá concordar com o sujeito. Se o sujeito for pluralizado, o verbo também deverá ir para o plural. Vejamos:

     

    II. Ensina-se, nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. 

     

    II. EnsinaM-se, nas escolas, muitaS coisaS que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. 

     

    Na voz passiva analítica, ficaria assim:

     

    Muitas coisas que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira, são ensinadas nas escolas.
     

  • Ensina-se muitas coisas - Voz passiva sintética;

    Nas escolas é ensinado - Voz passiva analítica.

    E.

  • Perfeito, Bruno Barros.

    O raciocínio é este mesmo!

  • i) Haver, fazer ou ir (no sentido de tempo transcorrido): verbo fica no singular.

    ii) Se – partícula apassivadora / pronome apassivador: verbo concorda com o

    sujeito paciente.

     vê explicação de @Bruno Barros

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    Pessoal ativem a notificação, INDICAR PARA COMENTÁRIO, vamos aproveitar, quanto mais respostas/vídeos explicados pelos professores, melhor será para todos.

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  • Muita coisa é ensinada nas escolas...

    Muitas coisas são ensinadas nas escolas

    Ensina-se, nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira.

    Ensina, quem ensina, ensina algo (V.T.D.)

    Se Partícula apassivadora.

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    Verbo transitivo direto acompanhado de partícula apassivadora (Se) irá concordar com o sujeito posposto.

    Clássico exemplo: Vende-se casa na praia.

    Vende (VTD)

    Se (Partícula Apassivadora)

    Verbo irá concordar com o seu sujeito (Casa na praia)

    Clássico exemplo: Vendem-se casas na praia.

    Vendem (VTD)

    Se (Partícula Apassivadora)

    Verbo irá concordar com o seu sujeito (Casas na praia)

  • a) ERRADO. O termo "ensina-se" REGE o termo "nas escolas". (Verbo - objeto indireto)

    b) ERRADO. "Faz" indica tempo transcorrido, logo ele é um verbo impessoal o qual só pode ser conjugado no singular. E "Ensina-se" concorda com o sujeito paciente "muita coisa".

    c) ERRADO. MUITA ATENÇÃO! A expressão "uns amigos ricos" obrigaria a conjugação do verbo "convidar" no plural sim, mas como o comando da questão pede em relação ao termo destacado que é "faz", então não, pois como já dito, ele é verbo impessoal e só deve ser conjugado no singular.

    d) ERRADO. Verbo impessoal só deve ser conjugado no singular.

    e) CERTO. "Muita coisa" é o sujeito paciente da oração e o verbo deve concordar com o sujeito.

  • I. Faz uns anos um amigo rico me convidou para passar uns dias no apartamento dele. 

    II. Ensina-se, nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. 

    A) A expressão “ensina-se", em II, concorda com “nas escolas". ERRADO.

    Ensina-se (VTD - IIS) muita coisa que [...] Ensina-se concorda com muita coisa, se for pro plural a outra também irá.

    Nas escolas, nesse contexto, é um adjunto adverbial intercalado.

    B) Em ambas as ocorrências, os verbos deveriam ser utilizados no plural. ERRADO.

    Haver e fazer indicando tempo decorrido: 3ª pessoa do singular. (verbos impessoais / formam oração sem sujeito)

    C) Em I, a expressão “uns amigos ricos" obrigaria o uso do verbo no plural. ERRADO.

    Haver e fazer indicando tempo decorrido: 3ª pessoa do singular. (verbos impessoais / formam oração sem sujeito)

    D) Em I, a expressão no plural “uns anos" justificaria o uso facultativo de “fazem". ERRADO.

    Haver e fazer indicando tempo decorrido: 3ª pessoa do singular. (verbos impessoais / formam oração sem sujeito)

    E) Se a expressão “muita coisa" estivesse no plural, a forma verbal “ensina-se" também sofreria a mesma alteração. CERTO.

    Ensina-se (VTD - IIS) muita coisa que [...] Ensina-se concorda com muita coisa, se for pro plural a outra também irá.