Ô de casa!
Acredito que acabei me adaptando a esse mundo moderno.
Esse mundo de Facebook, Instagram, WhatsApp. Sinto saudade
de quê? De um álbum de retratos com as folhas separadas por
papel celofane, de um envelope verde e amarelo debaixo da porta?
Talvez. Mas saudade de rebobinar uma fita K-7? Nenhuma.
Custei a me adaptar a algumas coisas: escrever direto no
computador, bater fotos sem filme, ter uma agenda eletrônica. Mas
hoje acho tudo isso o máximo, ao ponto de não ter a mínima
saudade da minha máquina de escrever Remington, dos filmes
Ektachrome ou da minha agenda Pombo com capa de couro.
Hoje cedo eu me lembrei da minha mãe à beira do fogão
separando os marinheiros do arroz e tirando as pedras do feijão.
Quando a campainha tocava, ela sempre exclamava: − Quem
será?
O mundo era assim. As pessoas iam à casa das outras sem
avisar, sem hora nem dia marcado. Chegavam de repente, sem
mais nem menos.
Por mais amigo que seja, quem hoje bate na porta do outro
sem avisar? Há três semanas que estou combinando um almoço
com um grande amigo. Quando eu posso, ele não pode. Quando
ele pode, sou eu que não posso. Já trocamos uns cinco e-mails e
uns dez recados pelo celular. E o almoço ainda não aconteceu.
Estou pensando seriamente em sair daqui uma hora
dessas, chegar à casa dele e tocar a campainha. Se não tiver
campainha, vou bater palmas e gritar: − Ô de casa!
(Adaptado de: VILLAS, Alberto. Disponível em: www.cartacapital.com.br/cultura/o-de-casa-8837.html. Acessado em: 05.09.2015)
É correto afirmar que, na opinião do autor,