Questão Q577477

Leia o texto para responder à questão.

Uma conhecida convidou os quatro netos pré-adolescentes para lanchar. Queria passar um tempo com eles, como fazem as avós. Sentaram-se numa lanchonete. Pediram sanduíches e refrigerantes. Daí, os quatro sacaram os celulares. Ficaram todo o tempo trocando mensagens com amigos, rindo e se divertindo. Com cara de mamão murcho, a avó esperou alguma oportunidade de bater papo. Não houve. Agora, ela já prometeu:

– Desisti. Não saio mais com meus netos.

Cada vez mais as pessoas “abandonam" os outros para viver num mundo de relações via celular. Às vezes de maneira assustadora.

Em certos almoços, mesmo de negócios, é impossível tratar do assunto que importa. O interlocutor escolhe o prato com a orelha no celular. Quando desliga, abre para verificar e-mails. Responde. Pacientemente espero. Iniciamos o papo que motivou o almoço. O celular toca novamente. Dá vontade de levantar da mesa e ir embora. Não posso, seria falta de educação. Mas não é pior ficar como espectador enquanto a pessoa resolve suas coisas pelo celular, sem dar continuidade à conversa?

Faço cara de paisagem enquanto a pessoa discute algo que nada tem a ver comigo. Penso: seria melhor, muito melhor, não ter marcado reunião nenhuma. Mais fácil seria, sim, me impor através do celular, porque através dele entro na sala de alguém quando quero, sem marcar hora. O aparelhinho invade até situações íntimas. Se fosse só comigo, estaria traumatizado por me sentir pouco interessante. Mas sei de casos em que, entre um beijo e outro, um dos parceiros atende o celular. Para tudo, sai do clima. Quando termina a ligação, é preciso de um tempo para retomar. Mas aí, pode tocar novamente e... enfim, até nos momentos mais eróticos, o aparelhinho atrapalha.

Ainda sou daquele tempo de ter conversas francas e profundas, de olhar nos olhos. Hoje é quase impossível aprofundar-se nos olhos de alguém. Estão fixados na tela de seu modelo de última geração. Conheço algumas raras pessoas que se recusam (ainda!) a ter celular. Cada vez mais, se rendem. A vida ficou impossível sem ele. Eu descobri uma estratégia que sempre funciona, se quero realmente falar com alguém. Convido para jantar, por exemplo. Ela saca o celular. Pego o meu e envio uma mensagem para ela mesma, em frente a mim. Não falha. Seja quem for, acha divertidíssimo. E assim continuamos até o cafezinho. Sem palavras, mas trocando incríveis mensagens pelo celular. Todo mundo acha divertidíssimo.

(Walcyr Carrasco, Má educação e celular. Revista Época. Disponível em: <http://epoca.globo.com>. Acesso em: 27.01.2015. Adaptado)

Assinale a alternativa em que a substituição de palavras por pronomes e a colocação destes na frase está de acordo com a norma-padrão.

Alternativas

Os quatro netos tinham celulares; sacaram-nos para trocar mensagens com os amigos.

Se minha conhecida quisesse passar um tempo com os netos, levaria-os para lanchar.

A avó ficou desanimada com os netos, tendo prometido-lhes não sair mais com eles.

Detesto celular e espero para conversar quando não ouço-o tocar.

Se uma pessoa pega seu celular, logo outras começam a lhe imitar.

Comentários

ALTERNATIVA CORRETA = A.

Analisando as INCORRETAS:

B) O verbo LEVAR está no FUTURO DO PRETÉRITO do modo indicativo, neste caso a MESÓCLISE deveria ter sido empregada:
"Se minha conhecida quisesse passar um tempo com os netos, levá-los-ia para lanchar."

C) O verbo PROMETER está no PARTICÍPIO, neste caso a ÊNCLISE não pode ser empregada, o correto seria o uso da PRÓCLISE:
"A avó ficou desanimada com os netos, tendo lhes prometido não sair mais com eles."

D) Neste caso há presença de partícula atrativa do pronome na frase ("NÃO"), a PRÓCLISE deveria ter sido empregada no lugar da ÊNCLISE:
"Detesto celular e espero para conversar quando não o ouço tocar."

E) O verbo IMITAR é TRANSITIVO DIRETO, que pede um OBJETO DIRETO, isto é, um complemento SEM PREPOSIÇÃO, neste caso, o pronome adequado seria a derivação do O(LO) ou A(LA):
"Se uma pessoa pega seu celular, logo outras começam a imitá-lo."
"Se uma pessoa pega seu celular, logo outras começam a imitá-la"
que sabedoria!
pensei exatamente da mesma forma. show
Parabéns Bruno Truker pela sua belíssima expricação.
A alternativa E tb está errada pq verbo no infinitivo (imitar) é fator de Ênclise e não de Próclise.

Nem precisa levar em consideração a transitividade do verbo para responder essa alternativa.
Com verbo no infinitivo a colocação pronominal é facultativa
Bruno 'Trucker' onde você escreve...

..... O verbo LEVAR está no FUTURO DO PRETÉRITO do modo indicativo, neste caso a MESÓCLISE deveria ter sido empregada:
"Se minha conhecida quisesse passar um tempo com os netos, levá-los-ia para lanchar.

O correto não seria LEVA-LHES-IA? Acho que esse verbo é VTI logo usa-se a preposição LHE, o que acha?
A) Jamais se inicia uma frase utilizando um pronome oblíquo átono depois de ponto e vírgula.
B) O verbo está no futuro do pretérito, o correto seria utilizar mesóclise.
C) Não ocorre ênclise a verbos no particípio.
D) Palavra negativa é caso de próclise.
E) Imitar é VTD, logo não se pode utilizar "lhe".
b) levá-los-ia;

c) lhes prometido;

d) o ouço;

e) imitá-la.
Que delícia quando você olha para uma questão dessa e consegue identificar os erros de cada alternativa. Fui com toda certeza na alternativa A). Depois de tanto tempo de estudo, como sofri para chegar nesse nível, mas ainda tenho muito o que aprender, cometo muitos erros ainda, principalmente nas provas do TJ que é um nível mais extreme hard.
b) Se minha conhecida quisesse passar um tempo com os netos, levaria-os para lanchar.

Erro destacado.

Tá no futuro? Mesóclise nele!

LEVÁ-LOS-IA

Resposta: A.
O erro em destaque na alternativa B, na realidade, é a frase inciando com POA. PROIBIDO!
A) Verbo terminado em som nasal acrescenta-se é caso de ênclise.
B) Futuro do pretérito não admite ênclise.
C) Verbo no particípio não admite ênclise.
D) Palavra negativa atrai pronome.
E) Infinitivo é caso de ênclise.

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