Por: Gustavo Ioschpe. Em 10/07/2011. Adaptado de:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/precisam...
Acesso em 20 de janeiro de 2014.
No fim do artigo do mês passado, lancei aos nossos
congressistas uma sugestão: que façam uma lei
determinando que toda escola pública coloque uma placa
de boa visibilidade na entrada principal com o seu Ideb. A
lógica é simples. Em primeiro lugar, todo cidadão tem o
direito de saber a qualidade da escola que seu filho
frequenta. Hoje, esse dado está "escondido" em um site do
Ministério da Educação. É irrazoável achar que um pai que
nem sabe o que é o Ideb vá encontrar esse site. [...]. Em
segundo lugar, acredito que essa divulgação pode colaborar
para quebrar a inércia da sociedade brasileira em relação
às nossas escolas. Essa inércia está ancorada em uma
mentira: a de que elas são boas. [...] Ninguém se indigna
nem se mobiliza para combater algo que lhe parece estar
bem.
A sugestão desencadeou dois movimentos rápidos,
enérgicos e antagônicos. Por um lado, houve grande
acolhimento da ideia entre os reformistas. [...] Ao mesmo
tempo, a proposta vem sofrendo resistências. As críticas
são interessantes: escancaram uma visão amplamente
difundida sobre os nossos problemas educacionais que não
podemos mais ignorar ou tentar contornar.[...]
Disporia essa visão em três grupos, que postulam o
seguinte: 1. para o aluno pobre, o objetivo principal é estar
na escola; se aprender, é um bônus; 2. a finalidade da
escola deve ser o bem-estar do professor; 3. é impossível
esperar que o aluno pobre, que mora na periferia e vem de
família desestruturada, aprenda o mesmo que o de classe
média ou alta. Claro, ninguém diz isso abertamente, mas é
o corolário do seu pensamento. Vejamos exemplos.
Grupo 1: "o importante não é o Ideb, mas o fato de
ser uma escola inclusiva", pois recebe alunos de áreas de
baixa renda etc. Essa é apenas uma manifestação mais
tosca e descarada de um sentimento que você já deve ter
encontrado em uma roda de conversa quando, por exemplo,
alguém defende a escola de tempo integral porque tira a
criança da rua ou do contato com seus amigos e familiares.
[...] A minha visão de educação é de que a inclusão social
se dará justamente por meio do aprendizado dos conteúdos
e das competências de que esse jovem precisará para ter
uma vida produtiva em sociedade [...]. Muitos educadores
acham que seu papel é suprir as carências - de afeto,
higiene, valores de vida etc. - manifestadas pelos alunos.
Podem não conseguir alfabetizá-los ou ensinar-lhes a
tabuada, mas "a educação é muito mais que isso", e há uma
grande vantagem: o "muito mais que isso" não é mensurável
e ninguém pode dizer se a escola está fracassando ou tendo
êxito nessa sua autocriada missão.
Grupo 2. Ouvimos a todo instante sobre a
necessidade de "valorizar o magistério" e "recuperar a
dignidade do professor", que é um adulto, que escolheu a
profissão que quis trilhar e é pago para exercê-la. Apesar de
o aluno ser uma criança e de ser obrigado por lei a cursar a
escola, nunca vi ninguém falando na valorização do alunado
ou na recuperação de sua dignidade. Por isso, faz-se
necessário dizer o óbvio: a educação existe para o aluno. O
bom professor (assim como o diretor e os demais
funcionários) é uma ferramenta - importantíssima - para o
aprendizado. Mas ele é um meio, não um fim em si. Se o
professor estiver satisfeito e motivado e o aluno ainda assim
não aprender, a escola fracassou. [...]
Mas sem dúvida a oposição mais comum vem dos
membros do grupo 3, que usam a seguinte palavra mágica:
contextualizar. Escreve Pilar Lacerda, secretária da
Educação Básica do MEC: "Divulgar o Ideb é necessário.
Mas o contexto onde está a escola faz muita diferença nos
resultados. Por isso é perigoso (sic) uma comparação 'fria'
dos resultados". [...] Essa visão é caudatária de um mal que
acomete grande parte dos nossos compatriotas: o de achar
que o esforço importa mais que o resultado. [...]É mais difícil
fazer com que esse aluno, nesse contexto, aprenda o
mesmo que outro de boa família? Sem dúvida! O problema
dessas escolas não é como os seus resultados ruins são
divulgados, se serão servidos frios, quentes ou mornos: o
problema são os resultados! [...] Nosso problema não é
termos alunos pobres: é que nosso sistema educacional não
sabe como ensiná-los, e está mais preocupado em
encontrar meios de continuar não enxergando essa
deficiência do que em solucioná-la. [...] precisamos que a
escola dos pobres ensine mais do que a dos ricos. É difícil?
Muito. Mas deve ser a nossa meta. E, se o Brasil como um
todo não melhorar seu nível educacional, jamais chegará ao
Primeiro Mundo. Esse é o non sequitur desse pensamento
dos "contextualizadores": seria necessário nos tornarmos
um país de gente rica para que pudéssemos dar educação
de qualidade a todos. Mas a verdade é que o salto da
educação precisa vir antes: sem educação de qualidade,
não teremos desenvolvimento sustentado. Podemos nos
enganar com um crescimento econômico puxado pela alta
de valor das commodities, mas em algum momento teremos
de encarar a realidade: um país não pode ser melhor, mais
rico e mais bem preparado do que as pessoas que o
compõem.
“Ninguém se indigna nem se mobiliza para combater
algo que lhe parece estar bem." Quanto à colocação
pronominal nesse segmento, analise as proposições a
seguir. Em seguida, assinale a alternativa que contém a
análise correta sobre as mesmas.
I. Há uma ocorrência de próclise que, pela norma
padrão, poderia também estar na forma enclítica.
II. Há uma ocorrência de próclise em razão da presença
de um pronome indefinido que atrai o pronome.
III. Há uma ocorrência de próclise que se justifica pela
presença de palavra de valor negativo que atrai o
pronome.
IV. Há uma ocorrência de próclise em que um pronome
relativo atrai o pronome oblíquo.