SóProvas


ID
1767052
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
CGM - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Texto: A civilização contra o porrete

      Recentemente, a 20 quilômetros da cidade de Frankfurt, Alemanha, pesquisadores encontraram um sítio arqueológico de sete mil anos, onde uma aldeia inteira teria sido exterminada por vizinhos inimigos enquanto dormia. Além dos golpes fatais na cabeça de cada um, havia, nesses restos mortais, sinais de torturas variadas espalhados pelos corpos das vítimas. Para começar, todos tinham as pernas quebradas, provavelmente para que não pudessem escapar à tortura.

      Como os agrupamentos humanos do neolítico não passavam de algumas dezenas de pessoas, o número de mortos massacrados a porrete, incluindo crianças, seria equivalente a algo em torno de 40 milhões de brasileiros, se sofrêssemos hoje um ataque das mesmas proporções. Diante disso, Hiroshima e Nagasaki não teriam passado de um entrevero desimportante, sem maiores pretensões e consequências.

      Não deve ser, portanto, verdade que o homem nasce bom e se torna mau, que nasce puro e a sociedade o corrompe com seus hábitos, com seu desenvolvimento e progresso. Mesmo que não existisse o semelhante, o homem encontraria onde exprimir sua violência. O bon sauvage que Jean-Jacques Rousseau, um precursor da democracia moderna, anunciou no século XVIII, nunca existiu. O homem sempre foi violento e essa violência nunca foi provocada apenas por necessidades incontroláveis como a fome. Na verdade, a violência apenas como fruto de necessidades é, ao contrário, uma característica dos outros animais.

      A violência é uma perversão da natureza humana. Ela está na origem da espécie, em sua luta pela sobrevivência, mas também no desejo de se impor ao outro. O homem é, por exemplo, o único animal capaz de torturar um seu igual, o único a fazer da violência uma manifestação cultural.

      Grande parte dos crimes cometidos em nossas ruas é provocada por um desejo incontrolável produzido por nós mesmos, sem que a vítima tenha nada a ver com isso. Na maior parte das vezes, esse desejo tem origem em nosso exibicionismo, na necessidade de conquistarmos o que o outro já tem, fruto da propaganda que nos fala todo dia das maravilhas que não estão a nosso alcance. Só a educação pode evitar essa prática criminosa do desejo. Ou a civilização.

      A civilização, ao contrário do que certos naturistas querem, inclusive alguns pais do Iluminismo, como o próprio Rousseau, é um conjunto de arranjos impostos às relações humanas para evitar a inevitável violência que não temos individualmente forças para conter. É como se fossem regras restritivas e sucessivas, criadas pela consciência humana por medo de sua própria violência. Um jeito de conviver com seu semelhante, sem necessidade de se impor pelo porrete.

      É provável que nunca consigamos extinguir a violência entre os homens; mas essa fatalidade não justifica sermos solidários ou mesmo complacentes com ela. O papel da civilização será sempre o de domesticar a violência, criar condições para que ela não seja admissível e muito menos indispensável, seja na forma de guerras coletivas, seja na de conflitos individuais. Nenhum de seus formatos é justo, mesmo que exercido em nome de ideologias, de programas políticos, de lutas pelo poder. Se as ideias exigem violência para se concretizarem, elas devem estar erradas.

                                                                 Cacá Diegues. O Globo, 30/08/2015. Fragmento.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/opiniao/a-civilizacao-contra-porrete-17344948#ixzz3kiZVuJ3E 

incorreção quanto à correção gramatical e à coerência, na seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  • Apesar de a letra A não fazer sentido, a incorreta é a letra B.

    O apelo midiático ao consumo ocasiona frustração; contudo, quanto maior for a fragilidade e a insegurança do indivíduo, maiores as possibilidades de se gerar manifestações violentas.
    As possibilidades são maiores.
  • Eu acredito que o erro da letra B esteja na conjunção. Contundo é conjunção adversativa e faz com que a frase perca o sentido. o correto seria:

    O apelo midiático ao consumo ocasiona frustração; tanto que, quanto maior for a fragilidade e a insegurança do indivíduo, maior as possibilidades de se gerar manifestações violentas.

    Tanto que é conjunção consecutiva.

  • Ola amigos do Qc, respeitando as opnioes dos colegas, mas tenho uma outra oberservacao para o erro da assertiva B.

    O apelo midiático ao consumo ocasiona frustração; contudo, quanto maior for a fragilidade e a insegurança do indivíduo, maior as possibilidades de se gerar(gerarem) manifestações violentas.

    abs.

  • Letra B:

     

    "maior as possibilidades de se gerar manifestações violentas." -> Maior a possibilidade de que? de as manifestações violentas serem geradas. portanto se trata de um VTD+SE que deve concordar com seu sujeito (manifestações).

     

    maior as possibilidades de se gerarem manifestações violentas. 

  • Quando faz referência ao que já foi citado no discurso, ESSE é o pronome que faz referência àquilo que está distante da frase. ESTE, por sua vez, é utilizado para indicar aquilo que está próximo.

  • Em relação aos pronomes demonstrativos na A) e na D) estão corretos, é preciso compreender a diferença entre RETOMADA e REFERENCIAÇÃO.

    A) Aqui “esta” é uma retomada, ou seja, se refere a um termo especifico (possivelmente enumerado). Está correto.

    .

    “(…) Maria, Tiago e Sônia. Esta de matemática, esse de história e aquela de biologia.” 

    .

    B) “quanto maior for a fragilidade e a insegurança do indivíduo”

    No caso do sujeito composto posposto ao verbo, passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do sujeito mais próximo. Convém insistir que isso é uma opção, e não uma obrigação.

    Por Exemplo:

    Faltaram coragem e competência.

    Faltou coragem e competência.

    “maior as possibilidades de se gerar (gerarem) manifestações violentas.”

    gerarem-se manifestações violentas” – Voz Passiva Sintética (Deve concordar com o Núcleo do Sujeito Paciente)

    .

    C) Subordinação Adjetiva, Pronome Relativo... Tudo certo

    .

    D) “isso” é usado como anáfora, retomando a ideia anterior:

    “quando [o convívio baseado em compartilhar] vai sendo progressivamente substituído [pelo convívio baseado em] competir, multiplicam-se os índices de intolerância e violência.”

    GABARITO B

    .

    .

    .

    Em relação aos ponto e vírgulas separando orações coordenadas:

    ·        O ponto e vírgula é utilizado para evitar o excesso de vírgulas que prejudica a leitura do enunciado, nomeadamente para separar orações em períodos longos quando já houver muitas vírgulas no meio das orações ou quando houver a omissão de um verbo já marcada pela vírgula.

    Exemplos:

    ·        “Prefiro matemática; meu irmão, português; minha irmã, ciências.”

    ·        “Milena gosta de sorvete de doce de leite; eu, de chocolate.”

    ·        “Este verbo indica o ato de estabelecer diferenças, ou seja, distinguir, diferenciar, separar; o ato de especificar, listando, descrevendo ou relacionando; o ato de separar, segregar e marginalizar.”

    O ponto e vírgula permite alongar ligeiramente a pausa existente antes das conjunções adversativas.

    Exemplos:

    ·        “Todos acreditamos que tudo ficaria resolvido; contudo, não foi possível.”

    ·        “Pode contar com a nossa ajuda e orientação; porém, não se esqueça de fazer o seu melhor.”