O PADEIRO
Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim
assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem
que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta
do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não
incomodar os moradores, avisava gritando:
- Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
Então você não é ninguém?
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo
de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de
uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa
qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando
quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro:
“não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara
sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu
ainda sorrindo.
(Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana, Crônicas. Editora do autor, Rio de
Janeiro, 1960)
Em “Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo." (5°§), a palavra em destaque pode ser substituída, sem prejudicar o sentido, por: