SóProvas


ID
1778014
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os segredos da narrativa

    Acumulo uma casa abarrotada, um palácio falsamente reluzente e uma miséria envergonhada. Tenho, entre os dentes, um repertório caótico frente ao qual capitulo entregue à desordem do meu instinto narrativo.
    A seleção que faço da vida é arbitrária. Faltam-me critérios para saber o que vale guardar para os anos vindouros. Como selecionar o que seja, se a própria existência é uma apologia ao banal?
    Aguardo, pois, um tempo futuro que me facilite alcançar o cerne da matéria onde a paixão soçobra e ilumina-se ao mesmo tempo.
    Sou um ser comprometido com o enigma da criação. Aarteé a minha razão de ser. Sua substância é inicialmente desconfortável, mas meu ofício não conhece expurgo. Desconfio que escrevo para alargar o sentido da vida. E que, ao criar à revelia certas metáforas, sirvo ao mistério que reina na minha terra, privo com a intimidade do meu corpo. E cedo entendi que, entre uma história e outra, o ideal é esgotar o que inicialmente se encontra sob o meu domínio, até dar caça de novo ao singular.
    Mal defino, contudo, este enigma a que sirvo, apesar do longo convívio com o fazer literário. Sempre que tentei esclarecer os postulados da arte narrativa, falhei em apreender sua vasta relação com o mundo e os seres. Sei, no entanto, que a escritura é a residência secreta do escritor na terra. E que, confrontado com o mito da criação, seu maior segredo, ele vive e morre em meio às palavras. Sob este mito aloja-se a sua estética, assim como a consciência da arte. Razão de o escritor tentar conceituar a natureza da linguagem, decifrar a escritura que deriva da imaginação e da ilusão. Pretender saber por que ilusão e imaginação, ambas de realidade evanescente, são sanguíneas e apaixonadas, ainda que pairem acima do concreto e do palpável. E apresentem, além do mais, marcas persuasivas, eloquentes, insidiosas, e estejam em todas as partes, atendendo aos ditames coletivos, tornando a arte crédula.
    Mas, graças à arte literária, que convive fundamentalmente com a esperança do inefável e do poético, aceitamos a ilusão do mundo, e dos sentimentos que nos habitam, como premissas para a existência da própria obra de arte. Para, deste modo, acolhermos a existência anímica de Aquiles, de Karamasoff, de Don Quijote, estes seres ilusórios que nos surgem revestidos de carne.

(PINON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 23-24, fragmento.)

“entregue à desordem do meu instinto narrativo."


No fragmento transcrito, do ponto de vista da regência, o emprego do acento indicativo da crase é obrigatório. Das alterações feitas no referido fragmento, o emprego do acento indicativo da crase está em desacordo com as normas de regência em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO C

    crase é proibido antes de pronome demonstrativo (esta, isto, isso, isto.)

  • Também não entendi porque a E esta correta. Indiquei para o professor, aguardemos!

  • Na E O QUE faz papel de pronome demonstrativo...àquela.

  • Na letra e) , o "que" pode ser substituído por aquela e isso significa que ele tem a função deste pronome demonstrativo. Quando juntamos o "a" preposição da regência do verbo entregar com o pronome possessivo aquela, temos crase!

  • Aprendi aqui no QC: na frente do pronome, a crase passa fome!

  • Na verdade, na letra E, o que existe é um "a" preposição + um "a" pronome( que pode ser substituído por aquela). É errado dizer que o "que" pode ser substituído por "aquela". No caso esse "que" seria pronome relativo e estaria se referindo ao pronome "a". "Entregue a aquela que..."

  • Fiquei na dúvida quanto a E também. O QUE não seria um pronome?

  • Acertei a questão sabendo que não se usa crase antes de pronome demonstrativo, no caso do gabarito C. No entanto, na letra A a palavra 'total' é masculina e veio precedida de crase, alguém poderia me explicar melhor o porquê está correta?

  • VI QUE MUITOS COLEGAS ESTÃO COM DUVIDA DA ALTERNATIVA "E"


    entregue à(AQUELE) que foi considerada a desordem do meu instinto narrativo.


    O "a"  É UM PRONOME DEMONSTRATIVO PODENDO SER SUBSTITUINDO POR (AQUELE,AQUELA,AQUILO) MAIS A PREPOSIÇÃO DO VERBO TRANSITIVO INDIRETO(entregar a).


    Os fracos não tentam,os covardes desistem, somente os fortes conquistam.

    BONS ESTUDOS 





  • Duvida na A tambem.palavra total masculina. Porque esta correta?

  • Não entendi a letra A. Alguém poderia explicar? 

  • 1. entregue à total desordem do meu instinto narrativo.

    O sinal indicativo de crase foi corretamente empregado

     

    A palavra "total" está exercendo o papel de um adjetivo uniforme

    expressando uma característica do substantivo feminino "desordem".

     

    Sabemos que os adjetivos concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem.

    No entanto, os adjetivos uniformes têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino.

    Exemplo: Aquele livro é excelente (ótimo) – Aquela revista é excelente (ótima).

     

    Se no lugar de "total" empregássemos a palavra sinônima "absoluto" teriamos duas formas,

    sendo uma para o masculino e outra para o feminino (como um adjetivo biforme):

     

    entregue à absoluta desordem / ao absoluto caos do meu instinto narrativo

     

    2. entregue à idêntica desordem do meu instinto narrativo.

    O sinal indicativo de crase foi corretamente empregado

     

    3. (gabarito) entregue à essa desordem do meu instinto narrativo.

     

     

  • É um grande erro acha que não se leva crase antes de pronome  nem sempre isso ocorre....as vezes estamos muito ligado ao decorreba ai quando foge a regra ai muita gente erra.

  • c) entregue à essa desordem do meu instinto narrativo.

     

    LETRA C - CORRETA -

     

    CASO PROIBIDO DE CRASE

     

    Não se usa crase antes de pronomes demonstrativos não iniciados por A.

     

    FONTE: PROFESSORA FLÁVIA RITA