SóProvas


ID
1801186
Banca
FURB
Órgão
ISSBLU - SC
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

SOLIDARIEDADE

   O gesto não precisa ser grandioso nem público, não é necessário pertencer a uma ONG ou fazer uma campanha. Sobretudo, convém não aparecer.
   O gesto primeiro devia ser natural, e não decorrer de nenhum lema ou imposição, nem convite nem sugestão vinda de fora.
   Assim devíamos ser habitualmente, e não somos, ou geralmente não somos: cuidar do que está do nosso lado. Cuidar não só na doença ou na pobreza, mas no cotidiano, em que tantas vezes falta a delicadeza, a gentileza, a compreensão; esquecidos os pequenos rituais de respeito, de preservação do mistério, e igualmente da superação das barreiras estéreis entre pessoas da mesma casa, da família, das amizades mais próximas.
   Dentro de casa, onde tudo deveria começar, onde se deveria fazer todo dia o aprendizado do belo, do generoso, do delicado, do respeitoso, do agradável e do acolhedor, mal passamos, correndo, tangidos pelas obrigações. Tão fácil atualmente desculpar-se com a pressa: o trânsito, o patrão, o banco, a conta, a hora extra... Tudo isso é real, tudo isso acontece e nos enreda e nos paralisa.
   Mas, por outro lado, se a gente parasse (mas parar pra pensar pode ser tão ameaçador...) e fizesse um pequeno cálculo, talvez metade ou boa parte desses deveres aparecesse como supérfluo, frívolo, dispensável.
   Uma hora a mais em casa não para se trancar no quarto, mas para conviver. Não com obrigação, sermos felizes com hora marcada e prazo pra terminar, mas promover desde sempre a casa como o lugar do encontro, não da passagem; a mesa como lugar do diálogo, não do engolir quieto e apressado; o quarto como o lugar do afeto, não do cansaço.
   Pois se ainda não começamos a ser solidários dentro de nós mesmos e dentro de nossa casa ou do nosso círculo de amigos, como querer fazer campanhas, como pretender desfraldar bandeiras, como desejar salvar o mundo − se estamos perdidos no nosso cotidiano?
   Como dizer a palavra certa se estamos mudos, como escutar se estamos surdos, como abraçar se estamos congelados?
   Para mim, a solidariedade precisa ser antes de tudo o aprendizado da humanidade pessoal.
   Depois de sermos gente, podemos − e devemos − sair dos muros e tentar melhorar o mundo. Que anda tão, tão precisado.
(LUFT Lya. São Paulo, 2001.)

Em “O gesto primeiro devia ser natural, e não decorrer de nenhum lema ou imposição, [...]" (segundo parágrafo), a vírgula colocada antes do “e" se justifica pelo mesmo motivo que a(s) colocada(s) no seguinte período: (Assinale a alternativa correta.)

Alternativas
Comentários
  • O uso da vírgula no interior de orações:

    • Separar elementos que exercem a mesma função sintática.
    Ex: “Tivera pai, mãe, marido, dois filhos. Todos aos poucos tinham morrido.” (nesse exemplo a vírgula separa uma série de objetos diretos do verbo “ter”.)

    Quando elementos que têm mesma função sintática aparecem unidos pelas conjunções e, nem e ou, não se usa vírgulas, a não ser que as conjunções apareçam repetidas:
    Ex: Tenho muito cuidado com meus livros e meus CD’s. 
     Ou você, ou sua esposa deve comparecer à escola de seu filho.

    • Para indicar que uma palavra, geralmente verbo, foi suprimida.
    Ex: Patrícia, a todos os seus irmãos, deu um presente de Natal; ao marido, apenas um beijo. (A vírgula após “marido" está indicando a supressão do verbo “dar”.)

    • Isolar vocativo.
    Ex: - E agora, meu marido, aceito ou não o emprego?

    • Isolar aposto.
    Ex: Goiânia, capital de Goiás, é uma cidade que tem belas mulheres.

    • Isolar complemento verbal ou nominal antecipados.
    Ex: Um medo terrível, eu senti naquele momento. (inversão do objeto direto)
    De cobra, eu morro de medo! (inversão do complemento nominal)

    • Isolar adjunto adverbial antecipado.
    Ex: “Dizem muito que, no Brasil, os corruptos ficam soltos enquanto os ladrões de galinha vão para a cadeia.”

    • Isolar nome de lugar, quando se transcrevem datas.
    Ex: Goiânia, 21 de janeiro de 2001.

    • Isolar conjunções intercaladas.
    Ex: A ferida já foi tratada. É preciso, porém, cuidar para que não infeccione.

    • Intercalar expressões como “em suma”, “isto é”, “ou seja”, “vale dizer”, “a propósito”.
    Ex: Preciso dar uma maquiada no texto, ou seja, subentender algumas idéias.


    Uso da vírgula entre orações

    • Separar as orações coordenadas assindéticas e as sindéticas que não sejam introduzidas pela conjunção e:
    Ex: Cheguei, peguei o livro, voltei correndo para o curso.
      Há aqueles que se esforçam muito, porém nunca são reconhecidos.

    • É aconselhável usar a vírgula quando a conjunção e:

    - aparece repetida no período:
    Ex: Passaram aqui para perguntar, e questionar, e amolar, e comprometer.

    - aparece entre orações de sujeitos diferentes:
    Ex: O tempo estava nublado, e o piloto desistiu do vôo.

    - não tem sentido de adição:
    Ex: A senhora apertou a campainha, e ninguém veio atender. ( o e tem valor de conjunção adversativa)

    • Isolar orações intercaladas.
    Ex: E o ladrão, perguntei eu, foi condenado ou não?

    • Isolar orações adjetivas explicativas.
    Ex: As frutas, que estavam maduras, caíram no chão.

    • Isolar orações adverbiais.
    Ex: “Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão.”

    • Isolar orações reduzidas.
    Ex: “Para serenar a roda, propus novo chope.”

  • Excelente comentário, Marcelo V.

  • O gesto primeiro devia ser natural, (e = mas ) não decorrer de nenhum lema ou imposição,

    Neste caso, a conjunção "e" possui matiz semântica de adversidade.

    Neste caso, a oração coordenada sindética vai vim separada de sua oração principal por vírgula.

    Essa regra ocorre também na seguinte opção:

    a) Encontrou a pessoa especial de sua vida, (e = mas) a deixou escapar.

  • Não consigo ver nenhum valor de adversidade no enunciado da questão, como ocorre na letra a. Eu ainda pensei em responder a, pq estava difícil ver algo nas outras alternativas. Na verdade quem escreveu o texto cometeu um erro de pontuação, pq o caso é de orações coordenadas aditivas, não poderia ser usado vírgula.

    e=mas tem que ter um ideia de quebra na construção, por isso se usa vírgula. como no caso "Encontrou a pessoa especial de sua vida, e a deixou escapar." No trecho da questão, em momento algum há uma quebra do pensamento, e , sim, uma ideia de complementação.