SóProvas


ID
1811401
Banca
FUNCAB
Órgão
FUNASG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder a questão.

133. “Não pensar mais em si" 

    Seria necessário refletir sobre isso seriamente: por que saltamos à água para socorrer alguém que está se afogando, embora não tenhamos por ele qualquer simpatia particular? Por compaixão: só pensamos no próximo — responde o irrefletido. Por que sentimos a dor e o mal-estar daquele que cospe sangue, embora na realidade não lhe queiramos bem? Por compaixão: nesse momento não pensamos mais em nós — responde o mesmo irrefletido. A verdade é que na compaixão — quero dizer, no que costumamos chamar erradamente compaixão — não pensamos certamente em nós de modo consciente, mas inconscientemente pensamos e pensamos muito, da mesma maneira que, quando escorregamos, executamos inconscientemente os movimentos contrários que restabelecem o equilíbrio, pondo nisso todo o nosso bom senso. O acidente do outro nos toca e faria sentir nossa impotência, talvez nossa covardia, se não o socorrêssemos. Ou então traz consigo mesmo uma diminuição de nossa honra perante os outros ou diante de nós mesmos. Ou ainda vemos nos acidentes e no sofrimento dos outros um aviso do perigo que também nos espia; mesmo que fosse como simples indício da incerteza e da fragilidade humanas que pode produzir em nós um efeito penoso. Rechaçamos esse tipo de miséria e de ofensa e respondemos com um ato de compaixão que pode encerrar uma sutil defesa ou até uma vingança. Podemos imaginar que no fundo é em nós que pensamos, considerando a decisão que tomamos em todos os casos em que podemos evitar o espetáculo daqueles que sofrem, gemem e estão na miséria: decidimos não deixar de evitar, sempre que podemos vir a desempenhar o papel de homens fortes e salvadores, certos da aprovação, sempre que queremos experimentar o inverso de nossa felicidade ou mesmo quando esperamos nos divertir com nosso aborrecimento. Fazemos confusão ao chamar compaixão ao sofrimento que nos causa um tal espetáculo e que pode ser de natureza muito variada, pois em todos os casos é um sofrimento de que está isento aquele que sofre diante de nós: diz-nos respeito a nós tal como o dele diz respeito a ele. Ora, só nos libertamos desse sofrimento pessoal quando nos entregamos a atos de compaixão. [...] 

NIETZSCHE, Friedrich. Aurora. Trad. Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2007. p. 104-105

Sobre os elementos da oração “diz-nos respeito a nós", pode-se afirmar corretamente que há nela: 

Alternativas
Comentários
  • O objeto pleonástico ocorre só em objetos diretos? Não. Ele pode também pode aparecer em orações cujo objeto seja indireto. Leia a frase a seguir, de Dalton Trevisan:

    Às violetas, na janela, não lhes poupei água”.

    O verbo poupar é transitivo direto e indireto, já que fazemos duas perguntas a ele: “não poupei o quê a quem?”. Logo, "às violetas"  respondem a pergunta “a quem?” (objeto indireto). O pronome lhes refere-se também às violetas. Percebe-se que o escritor teve a intenção de dar ênfase ao objeto indireto. Portanto, tem-se aqui expresso um objeto indireto pleonástico.

    Para se identificar facilmente a presença de um objeto pleonástico, lembre-se sempre de verificar primeiro a presença do objeto. Caso haja um pronome átono que se refira a esse mesmo objeto, trata-se de um objeto pleonástico. Agora, se ele é direto ou indireto, você já sabe! É só verificar a presença (ou não) da preposição.

    REFERÊNCIAS
    MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 421-2.
    SAVIOLI, Francisco de Platão. Gramática em 44 lições. 15. ed. São Paulo: Ática, 1989, p. 30.

  • GABARITO - B

     “diz-nos respeito a nós", 

    Diz respeito a alguém ( A nós / nos ) =Objeto indireto

    Objeto Indireto Pleonástico", "Enfático" ou "Redundante" é apenas um objeto Indireto sob a forma pronominal. Ele é usado quando queremos dar destaque ou ênfase à ideia contida no objeto direto, por isso, o colocamos no início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do pronome oblíquo.

    Bons estudos!