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ID
1841299
Banca
COMPERVE
Órgão
Prefeitura do Assú - RN
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                    ANALFABETISMO FUNCIONAL

Alarmante! A dificuldade para interpretar textos e contextos, articular ideias e escrever está presente em seletos ambientes do mundo corporativo e da academia.


                                                                                                        por Thomaz Wood Jr.

A condição de analfabeto funcional aplica-se a indivíduos que, mesmo capazes de identificar letras e números, não conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais elaboradas. Tal condição limita severamente o desenvolvimento pessoal e pro fissional. O quadro brasileiro é preocupante, embora alguns indicadores mostrem uma evolução positiva nos últimos anos.

Uma variação do analfabetismo funcional parece estar presente no topo da pirâmide corporativa e na academia. Em uma longa série de entrevistas realizadas por este escriba, nos últimos cinco anos, com diretores de grandes empresas locais, uma queixa revelou-se rotineira: falta a muitos profissionais da média gerência a capacidade de interpretar de forma sistemática situações de trabalho, relacionar devidamente causas e efeitos, encontrar soluções e comunicá-las de forma estruturada. Não se trata apenas de usar corretamente o vernáculo, mas de saber tratar informações e dados de maneira lógica e expressar ideias e proposições de forma inteligível, com começo, meio e fim.

Na academia, o cenário não é menos preocupante. Colegas professores, com atuação em administração de empresas, frequentemente reclamam de pupilos incapazes de criar parágrafos coerentes e expressar suas ideias com clareza. A dificuldade afeta alunos de MBAs, mestrandos e mesmo doutorandos. Editores de periódicos científicos da mesma área frequentemente deploram a enorme quantidade de manuscritos vazios, herméticos e incoerentes recebidos para publicação. E frequentemente seus autores são pós-doutores!

O problema não é exclusivamente tropical. Michael Skapinker registrou recentemente em sua coluna no jornal inglês Financial Times a história de um professor de uma renomada universidade norte-americana. O tal mestre acreditava que escrever com clareza constitui habilidade relevante para seus alunos, futuros administradores e advogados. Passava -lhes, semanalmente, a tarefa de escrever um texto curto, o qual corrigia, avaliando a capacidade analítica dos autores. Pois a atividade causou tal revolta que o diretor da instituição solicitou ao professor torná-la facultativa. Os alunos parecem acreditar que, em um mundo no qual a comunicação se dá por mensagens eletrônicas e tuítes, escrever com clareza não é mais importante.

O mesmo Skapinker lembra uma emblemática matéria de capa da revista norte-americana Newsweek, intitulada “Why Johnny can't write". Merrill Sheils, autora do texto, revelou à época um quadro preocupante do declínio da linguagem escrita nos Estados Unidos. Para Sheils, o sistema educacional, da escola fundamental à faculdade, desovava na sociedade uma geração de semianalfabetos. Com o tempo, explicou a autora, as habilidades de leitura pioraram, as habilidades verbais se deterioraram e os norte-americanos tornaram-se capazes de usar apenas as mais simples estruturas e o mais rudimentar vocabulário ao escrever, próprios da tevê.

Entre as diversas faixas etárias, os adolescentes eram os que mais sofriam para produzir um texto minimamente coerente e organizado. E o mundo corporativo também acusou o golpe, pois parte de sua comunicação formal exige precisão e clareza, características cada vez mais difíceis de encontrar. Educadores mencionados no artigo observaram: um estudante que não consegue ler e compreender textos jamais será capaz de escrever bem. Importante: a matéria da Newsweek é de 1975!

Quase 40 anos depois, os iletrados trópicos parecem sofrer do mesmo flagelo. Por aqui, vivemos uma situação curiosa: de um lado, cresce a demanda por análises e raciocínios sofisticados e complexos. E, de outro, faltam competências básicas relacionadas ao pensamento analítico e à articulação de ideias. O resultado é ora constrangedor, ora cômico. Nas empresas, muitos profissionais parecem tentar tapar o sol com uma peneira de powerpoints, abarrotados de informação e vazios de sentido.

Na academia, multiplicam-se textos caudalosos, impenetráveis e ocos. Se aprender a escrever é aprender a pensar, e escrever for mesmo uma atividade em declínio, então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais.

Disponível em:  <http://www.cartacapital.com.br>. Acesso em 25 ago. 2014.

GLOSSÁRIO

MBAs: Master in Business Administration (Mestrado em Administração de Negócios). É um grau acadêmico de pós-graduação destinado a administradores e executores na área de gestão de empresas.

Why Johnny can't write: Por que Johnny não pode escrever.

Considere o trecho reproduzido a seguir: 

Quase 40 anos depois, os iletrados trópicos parecem sofrer do mesmo flagelo. Por aqui, vivemos uma situação curiosa: de um lado, cresce a demanda por análises e raciocínios sofisticados e complexos. E, de outro, faltam competências básicas relacionadas ao pensamento analítico e à articulação de ideias. O resultado é ora constrangedor, ora cômico. [...].

Na academia, multiplicam-se textos caudalosos, impenetráveis e ocos. Se aprender a escrever é aprender a pensar, e escrever for mesmo uma atividade em declínio, então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais

As afirmações a seguir se referem às expressões e às palavras destacadas no trecho.

I      Imprimem tom avaliativo ao que é dito.

II     Apresentam-se em registro de linguagem conotativo.

III    São inadequadas ao gênero do texto em foco.

IV    Exercem a mesma função sintática. 

Das afirmações, estão corretas  

Alternativas
Comentários
  • Resposta: Letra A.

    Analisemos cada alternativa separadamente.

    Proposição I: As expressões utilizadas pelo autor são frequentemente dotados de subjetividade, demonstrando em geral perspectiva negativa sobre o tema. Por conseguinte, a opção é VERDADEIRA.

    Proposição II: As expressões apresentadas demonstram sentido conotativo. Desse modo, iletrados trópicos substitui analfabetos funcionais brasileiros; flagelo, problema; caudalosos, impenetráveis e ocos substituem redundantes, incompreensíveis e desprovidos de sentido; invertebrados intelectuais, seres pensados desprovidos de sustentáculo escrito. Consequentemente, a opção é VERDADEIRA.

    Proposição III: O texto representa artigo de opinião publicado em revista genérica, com o objetivo de criticar o analfabetismo funcional. Desse modo, é perfeitamente adequada a utilização de metáforas, a fim de entreter o leitor e de ampliar as opções de vocabulário, contrastando com o problema denunciado pelo escritor. A opção, desse modo, é FALSA.

    Proposição IV: Evidentemente, as expressões apresentam funções distintas: iletrados trópicos é sujeito; flagelo, objeto indireto; caudalosos, impenetráveis e ocos, adjuntos adnominais; invertebrados intelectuais, adjunto adnominal. Por conseguinte, a opção é FALSA.

    Espero ter contribuído...

    Abraços!

  • Errei. Confesso que a letra A me pareceu meio vaga...Mas enfim, anotar aqui o pensamento da banca.

  • Sabendo que a II está certa, como é bem claro pelas expressões, já matamos C) e D). Também achei a I vaga, mas como as expressões não são inadequadas ao texto, restou a A) mesmo.

  • Confesso que respondi essa questão por eliminação. 

  • ...então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais.

     

    Achei que "invertebrados inteletuais" era complemento nominal de "condição", alguém pode me explicar porque é adjunto adnominal?

  • Marina de Souto, boa noite, vou tentar responder sua dúvida.

    "..então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais."

    Aprendi que para ser adj. adn. o mesmo precisa ter uma idéia de passividade, diferente do complemento nominal que expressa uma idéia ativa de uma ação. Analisando a frase entre aspas em questão:

    invertebrados intelectuais é a condição na qual estamos rumando para. Então talvez todos estejam rumando para a condição de invertebrados intelectuais. (Idéia de passividades, todos rumam a esse estado de invertebrados intelectuais, portanto, Adj. Adn.)

    outra dica legal é verficar que o adj. adnominal tem valor de adjetivo, é um estado ou uma qualidade,muito presente em linguagem conotativa.

    outra dica legal é verificar assim: complemento nominal é necessariamente preposicionado mas o adj. adnominal pode ser preposicionado ou não, perceba que para invertebrados intelectuais ser complemento nominal todos os outros destacados também teriam que ser preposicionados tendo em vista que a assertiva IV fala que exercem a mesma função sintática.

    confesso que também tenho dificuldade de identificar quando é CN e quando é Adj. Adn. sempre é uma luta para diferenciar os 2, mas espero ter ajudado um pouco.

    Atenciosamente

  • GABARITO: A.