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ID
1865788
Banca
COMPERVE
Órgão
UFERSA
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Por que acabar com as vagas de rua
PHILIP YANG 
Projeções recentes mostram que, de 2001 a 2030, o aumento da mancha urbana no planeta cobrirá uma área maior que a superfície de todas as cidades criadas em toda a história da civilização até o ano 2000. A demanda urbana por espaço aumenta em função de duas lógicas ligadas à produção de bens e serviços: a economia de escala e a economia de aglomeração. A economia de escala – redução de custos pelo aumento da produção – em geral requer grandes áreas e leva à ocupação extensiva da terra. A economia de aglomeração – aumento de produtividade propiciada pela proximidade de atividades complementares –, ao contrário, se beneficia da ocupação intensiva da terra.

O automóvel favoreceu a ocupação extensiva, no século XX, ao dar liberdade de deslocamento. Distritos residenciais foram erguidos cada vez mais distantes das áreas centrais, onde tradicionalmente estão os postos de trabalho. O movimento pendular entre moradia e emprego tornou-se obrigatório para milhões de habitantes. A lógica favoreceu o isolamento e a exclusão social, em vez de formar tecidos urbanos mistos. Congestionamentos e o aumento do tempo de viagem, em todas as grandes metrópoles, mostram o esgotamento do modelo de espraiamento horizontal das cidades, baseado na hegemonia do automóvel. Mesmo a expansão acelerada na oferta de avenidas, viadutos, túneis e pontes mostra-se insuficiente para absorver o aumento do trânsito. O impacto dos congestionamentos é conhecido por todos. Temos menos horas de lazer e de trabalho. A produção de bens e serviços é menos eficiente.

 Na era da mobilidade, em que o fator tempo é decisivo para o desempenho de tudo e de todos, o Brasil caminha na contramão da história. Políticas de habitação favorecem a moradia cada vez mais distante dos centros de emprego. Incentivamos a compra de automóveis, quando o resto do mundo busca o contrário: maior oferta de transportes públicos, de ciclovias, de moradias próximas à oferta de emprego. O traço comum às iniciativas para melhorar o trânsito é o desincentivo ao uso de carro.

Uma das opções mais aceitas no mundo para reduzir o tráfego é o pedágio urbano. Londres, Estocolmo e Milão cobram pelo acesso a zonas mais congestionadas, como forma de aliviar o trânsito e financiar a melhoria da rede de transportes públicos. Embora inicialmente impopular, o pedágio vem ganhando corações e mentes nessas cidades, pois a fluidez das vias melhorou, e o transporte público pôde absorver os passageiros que preferiram deixar seus carros em casa. No mesmo diapasão, há quem defenda uma sobretaxa aos combustíveis, destinada a financiar o transporte coletivo. Proponho eliminar as vagas de estacionamento ao longo das ruas, nas áreas centrais das cidades, a fim de ceder o espaço para calçadas mais largas.

 Os carros poderiam parar em edifícios-garagem públicos, com gestão privada, erguidos a cada quatro ou cinco quarteirões. As vagas de rua custam caro à sociedade e prestam um serviço ruim para o dono do carro. Ao mesmo tempo, seu baixo custo visível inibe o investimento privado na construção de garagens mais eficientes. Com o fim das vagas de rua, os usuários de automóvel seriam cobrados não pelo direito de circular, mas pelo direito de estacionar. O ajuste adequado do preço dos estacionamentos serviria para desestimular o uso do carro, como já acontece em sociedades mais maduras. A extinção das vagas de rua depende de três atores. O governo ajustaria a legislação e faria desapropriações, ao criar um marco regulatório para a concessão de edifícios-garagem públicos. O setor privado investiria na construção e administração dos edifícios-garagem. Os motoristas passariam a pagar preços de mercado pelo uso das garagens.

Encontrar uma vaga diante da calçada, numa área saturada da cidade, consome tempo de quem quer estacionar e de quem quer apenas passar pela rua. Estudos realizados nos Estados Unidos mostraram que, quando mais de 85% das vagas estão ocupadas, os motoristas passam a rodar em círculos em busca de um espaço vazio. A busca por vagas gera mais trânsito e poluição em vias já saturadas. Sem as faixas de estacionamento na rua, eliminaríamos a busca por vagas e as obstruções ao trânsito causadas pelas manobras de entrar e sair das vagas.

 O custo de parar o carro na rua é imprevisível. Talões de estacionamento oficiais da prefeitura, como o Zona Azul, de São Paulo, ou o Vaga Certa, do Rio de Janeiro, cumprem timidamente o papel de regular o uso das vagas. O motorista não sabe quanto terá de gastar com um eventual flanelinha ou com possíveis danos ao carro, guardado em condições de segurança e conservação precárias. Com edifícios-garagem, o cidadão poderia calcular os custos e benefícios de cada alternativa de deslocamento, antes de sair de casa. O preço para estacionar em cada garagem pública seria ajustado conforme a procura, a fim de evitar a falta de vagas e incentivar a busca de transporte alternativo nas áreas mais saturadas da cidade.

A extinção do estacionamento de rua levaria qualidade de vida às cidades, além de aliviar o trânsito. A faixa de asfalto desocupada poderia dar lugar a calçadas mais largas, com ciclovias e árvores, além de baratear o enterramento dos fios e cabos, hoje suspensos em postes. Os edifícios-garagem poderiam ser mais que um mero abrigo de carros. Poderiam reunir átrios para circulação e entretenimento público, redes de comércio e serviços, hotéis e albergues estudantis ou escritórios. As novas calçadas poderiam promover o paisagismo brasileiro, e os edifícios-garagem, em sua versão multifuncional, poderiam se tornar exemplos da arquitetura contemporânea, equilibrando forma e função no tecido urbano. Um sonho alcançável, em ciclo administrativo curto. Ele pode ser abraçado por qualquer grande cidade do Brasil, capaz de aglutinar a cidadania, o mercado e o governo em torno do projeto. 

Disponível em:< http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/10/por-que-acabar-com-bvagas-de-ruab.html>. Acesso em:
07 fev. 2015. 

No último parágrafo do texto, há uma recorrência de verbos no futuro do pretérito que tem como finalidade

Alternativas
Comentários
  • Letra D

    Com relação a letra B, acredito que não há como "assegurar o total comprometimento do autor", pois o futuro do préterito é usado:

    1. Para falar de um acontecimento futuro em relação a outro, já ocorrido.

    2. Para falar sobre um fato que poderá ou não ocorrer, dependendo de determinada condição. Tais sentenças condicionadas vêm sempre acompanhadas de outra, cujo verbo principal é conjugado no imperfeito do subjuntivo.

    3. Para falar sobre fato incerto, fazendo hipóteses ou suposições. --> não há como ter certeza.

    4. Para falar com surpresa ou indignação sobre um evento.

    5. Para dar sugestões e fazer pedidos de maneira mais educada.

  • Alguém pode explicar o por que paralelismo?

  • Questão difícil,neste caso, tem que entrar o macete das palavras inclusivas ou exclusivas, "apenas" 'total" "exclusivamente"...só sobrou a D mesmo!

  • Fanny Avlis, o paralelismo sintático, nada mais é do que a coordenação de elementos cuja natureza gramatical se apresenta de forma similar. No caso do texto ele se refere ao uso dos verbos usados no mesmo tempo verbal (futuro do pretérito): Levaria, Poderia, Poderiam .........

  • Gab. D

    Exatamente Clemildes Santos.

    Opção D = "manter o paralelismo sintático¹ e atenuar o grau de comprometimento do autor com as afirmações apresentadas²"

     

    ¹ Paralelismo sintático já foi comentado pelo colega Brunelly Pontes.

    ² Ser Tênue ou diminuir a intensidade, essa foi a intenção do autor, pois toda a proposta, com relação a "extinção do estacionamento", e logicamente as possíveis melhorias, estão CONDICIONADAS a outros fatos. 

  • isso é dica de interpretação de texto mesmo:

    no enunciado que restringir demais: Apenas, exclusivamente, totalmente... desconfie dele ;) pois há muitas chances de estar errado.

     

     

    GABARITO ''D''

  • Marquei a letra B por pura bobeira. Não acredito. hehehe

    Li a questão. Eliminei as 3 por exclusão e fiquei entre Atenuar e assegurar.

    Como o verbo está no futuro do preterito, na essencia reduz o grau de comprometimento... queria ? não quer? O futuro do preterito realmente dar uma redução, mitigação, enfraquecimento das informações apresentadas.

    Agora, logicamente, se os verbos estivessem no futuro do presente e tivesse coesão e estrutura morfossintática de acordo com a norma ai encaixaria perfeitamente o verbo assegurar.

     

    atenuar podem ser: enfraquecer, mitigar, aliviar, tranquilizar, amenizar, enfraquecer, reduzir, debilitar, minorar, adelgaçar, etc. ... Em inglês, o verbo atenuar pode ser traduzido por attenuate ou mitigate.

     

  • GABARITO ''D''