SóProvas


ID
1899373
Banca
NUCEPE
Órgão
Prefeitura de Teresina - PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                              Lembrança

      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso, eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.

      Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.

      Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: 'olha'. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então eu pensei que meu avô era maior que a tempestade.

      Eu era pequeno, mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.

      Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi, mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que, uma pessoa se cortando, pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo, mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como, eu não sei. Nem por quê.  

      No dia seguinte eu ainda tornei a ver a sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.

                                                (VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. Ed. São Paulo: Ática, 2000.) 

Lembro-me de que ele só usava camisas brancas” A regência do verbo lembrar no período acima é

Alternativas
Comentários
  • Indiquem para comentário. Questão bastante pertinente.

  • dei uma pesquisada rápida e achei isso. 

    "Aproveitando esse aspecto da transitividade, cabe ressaltar acerca de dois pontos relevantes: um deles se refere ao fato de o verbo ser constituído de objeto direto de pessoa e indireto de assunto, ou seja, lembramos alguém (O. D.) de algo (O. I.).

    Gostaria de lembrá-lo de suas obrigações.
                               (O.D)    (O.I.)

    Como também pode ter objeto direto de assunto e indireto de pessoa, ou seja, lembramos algo a alguém.

    Desejamos lembrar-lhes que as reuniões já foram marcadas.
                                  (O. I.)           (O. D.)"

    http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/regencia-verbo-lembrar.htm

    --

    mas eu acho que essa explicação não tira as dúvidas sobre a assertiva acima, pois nos exemplos citados é uma pessoa que lembra a outra(s) de alguma coisa, a gente consegue ver perfeitamento o OD e o OI... mas na assertiva eu n consegui enxergar a mesma estrutura na oração. pois ME diz respeito à própria pessoa que diz a frase. e ela não vai lembrar a ela mesma de que a camisa....

    ela apenas se lembrou.

    também indiquei para comentário ...

  • Pronomes oblíquos (me, te. lhe...) servem como complemento (OI ou OD). o A/O sempre serão OD, e o LHE será OI.

    "Lembro-me de que ele só usava camisas brancas” . ---> "ME" = OD   e  "de que ele só usava camisas brancas"=OI ( tem preposição).

     

     

     

  • Regra :

    Esquecer/lembrar
    Quando não forem pronominais: são usados sem preposição. 
    Quando forem pronominais: são regidos pela preposição “de”.

     

  • Tudo tem um contexto...o verbo lembrar na maoria das vezes é transitivo indireto : Quem lembra, lembra de algo. No entanto, no caso em tela...

     Lembro-me de que ele só usava camisas brancas..

     

    Quem lembra, lembra alguém ( me..."eu") de alguma coisa. Por isso é um verbo transitivo direto e indireto.

     

     

     

    Obs: Essa questão pegou quase todo mundo, inclusive eu.,nunca tinha visto uma pegadinha tão nova e boa.

    GABARITO 'C'

  • Por esse contexto consegui acertar, faz papel bitransitivo. 

    [Gab. C]

    bons estudos!

  • É na verdade,(nesse contexto), TDp(I);  pois é acompanhado de um pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito.

  • Acho que nesse caso o verbo lembrar é pronominal, cujo complemento é iniciado pelo preposição de. Por isso, penso que a regência do verbo seja VTI.

  • Para mim o gabarito ta errado, vejamos:

     

    Esquecer-se e lembrar-se são verbos pronominais, a particula se NÃO tem função sintatica!

     

    Na questão o verbo esta concordando com a primeira pessoa do singular, não podemos dizer "lembrei-se" disso, portanto o SE passa a ser ME e isso causa confusão (inclusive nas bancas kk) portanto o verbo "Lembrei-me" é VTI e o ME não possui função sintatica.

     

     

     

    "Parte integrante do verbo: o pronome faz parte de um verbo pronominal."

    Queixaram-se do excesso de sal na comida. (o verbo é queixar-se)
    Ainda bem que jovem não teve coragem de se suicidar. (o verbo é suicidar-se)

    O mesmo vale para o verbo pronominal "lembrar-se" quem se lembra, se lembra de alguma coisa, portanto VTI.

     

    http://www.infoescola.com/portugues/se-particula-apassivadora-ou-indice-de-indeterminacao-do-sujeito/

     

  • TENHO QUASE CERTEZA QUE E VTI

  • Não entendi .....

  • Pesquisando no link : (http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint16.php) encontrei isso:

     

     Os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos podem ser objeto direto ou indireto. Para determinar sua função sintática, podemos substituir esses pronomes por um substantivo: se o uso da preposição for obrigatório, então se trata de um objeto indireto; caso contrário, de objeto direto.

    Por Exemplo:

     

    Roberto  me viu na escola.(OD)

    Substituindo-se "me" por um substantivo qualquer (amigo, por exemplo), tem-se: "Roberto viu o amigo na escola." Veja que a preposição não foi usada. Portanto, "me" é objeto direto.

     

    Observe o próximo exemplo:

    João me telefonou.(OI)

    Substituindo-se "me" por um substantivo qualquer (amigo, por exemplo), tem-se: "João telefonou ao amigo". A preposição foi usada. Portanto, "me" é objeto indireto.

     

    A grande duvida é , fazendo a devida substituição,o ME da referida questão  seria um objeto direto preposicionado???

     

  • Nao entendi tambem essa questao ......

  • Vamos indicar para comentário.

  • VAMOS INDICAR PARA COMENTÁRIO. NÃO ADIANTA O ACHISMO COMO A MAIORIA ESTÃO DIGITANDO. O PROFESSORES DO QC ESTÃO AQUI PRA ISSO.

  • Não é um verbo bitransitivo. Quem acertou, acertou errado.

    Quem lembra, lembra algo. 

    Quem se lembra, lembra-se DE algo.

    Não existe outra resposta, ou definição, que possa vir a contradizer isso. 

    O verbo, na situação em que se encontra na oração, é transitivo indireto. Logo, o gabarito correto é "B".

    Bons estudos.

     

     

  • Os verbos: esquecer e lembrar serão por regra transitivos diretos, ou seja exigem complemento sem preposição.

    Lembrar algo ------- esquecer algo

    Essa regra muda apenas quando eles são acompanhados por pronomes (-se, -me,etc) e exigem complemento com preposição "de". São, portanto, transitivos indiretos.

  • Questao bastante pertinente . 

    A resposta e a VTI   VERBO TRANSITIVO INDIRETO ?

  • Conforme a aula da Professora Isabel Vega: "Os verbos esquecer e lembrar podem ser pronominais ou não. Caso sejam usados como esquecer-se ou lembrar-se, serão transitivos indiretos."

  • O verbo Lembra é VTD ou VTI

    vai depender muito do contexto. Já errei questão desse tipo e não erro mais.

    Não obstante, na questão em tela, pede-se, apenas, para avaliar esse verbo de acordo com ESSA oração. Então, ele é, realmente, VTI.

  • Quando o verbo é pronominal (lembrar-se), seu complemento é introduzido pela preposição "de".

    Assim: eu me lembro de, ele se lembra de, nós nos lembramos de etc. O mesmo vale para "esquecer-se".

    trecho retirado de: http://educacao.uol.com.br/dicas-portugues/lembrar-direto-ou-indireto.jhtm

     

    Lembro-me de ... (O pronome oblíquo átono "me" é empregado na forma enclítica)

     

    B) (gabarito) transitivo indireto.

  • PEGOU MUITA GENTE QUE NAO PRETOU ATENÇAO AO COMANDO DA QUESTAO ELE QUER SABER EM RELAÇAO AO PERIODO CITADO E NESSE CASO ELE E VTI GABARITO B

  • Letra B

    Gravem: Verbo lembrar quando vier acompanhado de pronome pessoal (exemplo da questão), será precedido de preposição. Assim, torna-se VTI. 

  • Os verbos esquecer/lembrar são transitivos diretos.

    Ex.: Ela lembrou a data da festa./ Ela esqueceu a data da festa.

    Contudo, quando usados na forma pronominal, são transitivos indiretos.

  • lembrar/ esquecer: regiancia VTD

    lembrar: regiancia VTDI- exige a preposição a.

    lembrar-se/ esquecer-se:regiancia VTI- exige a preposição de.

  • LETRA B. CUIDADO COM O QUE O ERIEL FALOU.

    OBJETO INDIRETO.

    Quem lembra, lembra DE ALGO.

    Se tirar o pronome "me", de lembro-me, ficaria sendo OBJETO DIRETO.

    Não tem nada a ver com o que Eriel falou. NÃO É LETRA C.

  • verbo transitivo direto exige um objeto direto, isto é, exige um completo não preposicionado. Já o verbo transitivo indireto demanda um objeto indireto, o que nos mostra que o seu complemento deve ser antecedido por uma preposição.