SóProvas


ID
1900255
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Texto: Patíbulos virtuais


      Ainda não tinha doze anos quando assisti a um linchamento. Vi um rapaz a fugir de bicicleta. Um homem começou a persegui-lo, a pé, e de repente já eram cinco, dez, uma turba exaltada, correndo, gritando, jogando pedras. Lembro-me de estar inteiro, de coração, numa angústia enorme, com o rapaz que fugia. Não havia nada que pudesse fazer para o ajudar. Minutos antes eu lia, ao sol, numa varanda. Logo a seguir o rapaz pedalava para salvar a vida, lá embaixo, entre uma estradinha de terra vermelha e um vasto descampado coberto de capim.

      Desde então estou sempre do lado de quem, sozinho, se vê perseguido por uma multidão. Pouco me importa o que fez o rapaz que corre; o homem que ergue a mão para se proteger da pancada; a mulher que enfrenta, chorando, os insultos de um bando de predadores cobardes.

      O surgimento das redes sociais marcou a emergência de um novo patíbulo para os linchadores. Bem sei que a comparação será sempre abusiva. Palavras, por muito aguçadas, por muito duras e pesadas, não racham cabeças. Palavras, por muito venenosas, não são capazes de matar. Em contrapartida, este novo palco tem o poder de juntar em poucos minutos largos milhares de pessoas, todas aos gritos. A estupidez das multidões virtuais é tão concreta quanto a das multidões reais.

      Praticamente todas as semanas há alguma figura pública a sofrer perseguição nas redes sociais. [...]

      Há alguns anos, em Luanda, afirmei, durante uma entrevista, não entender por que o governo insistia em promover a poesia de Agostinho Neto, primeiro presidente angolano, que a mim sempre me pareceu bastante medíocre. Um conhecido jurista e comentador político, João Pinto, deputado do partido no poder, assinou um artigo defendendo a minha prisão. Foi além: defendeu o restabelecimento da pena de morte e o meu fuzilamento. Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma divindade, visto que Agostinho Neto seria um quilamba — ou seja, um intérprete de sereias. Nas semanas seguintes foram publicados muitos outros textos de ódio. Recebi telefonemas com ameaças. Contaram-me que havia pessoas queimando os meus livros. Na altura foi bastante assustador. Hoje olho para trás e rio-me. Recordo o quanto era difícil explicar a jornalistas europeus a acusação de que teria ofendido um intérprete de sereias. Naturalmente, acabei transformando o episódio em literatura.Os europeus e norte-americanos leem aquilo e chamam-lhe realismo mágico.

      Os queimadores de livros têm receio não das ideias que os mesmos defendem, mas da sua própria incapacidade para lhes dar resposta. Aqueles que se juntam a multidões virtuais para ameaçar ou troçar de alguém são quase tão perigosos quanto os que correm pelas ruas, jogando pedras — e ainda mais cobardes.

      Fecho os olhos e volto a ver o rapaz na bicicleta. Uma pedra atingiu-o na cabeça e ele caiu. A multidão mergulhou sobre ele. Naquele dia deixei de ser criança.

               

  •   José Eduardo Agualusa. O Globo, Segundo Caderno, 07/03/2016.
  • Disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/patibulos-virtuais-18817824#ixzz43ah8BwFY 

Quanto ao processo de formação da palavra descampado (primeiro parágrafo), observa-se que é formada por parassíntese, processo mediante o qual acrescenta-se simultaneamente um prefixo e um sufixo ao radical da palavra primitiva. O seguinte vocábulo também é formado por derivação parassintética:

Alternativas
Comentários
  • Nas opções a), b) e c) o processo de formação da palavra foi a derivação prefixal e sufixal. Neste, o prefixo e sufixo são acrescentados simultaneamente ao radical, mas, se qualquer um deles for retirado, o que sobra é uma paravra existente na língua portuguesa. 

     

    Ex: Desalinhado >> Desalinha (sem o sufixo) / Alinhado (sem o prefixo)

     

    Na opção d), o processo de formação é o parassintético, no qual também se inserem prefixo e sufixo, mas não sendo possível a retirada que algum destes. ex: Desalmado (não existe "desalma", nem "almado")

     

    Gabarito: D)

     

    Bons estudos!

  • Despreocupa - Preocupado

    Desvaloriza - Valorizado

    Desalinha - Alinhado

    Desalma(?) - Almado(?)

    A única que não forma palavras é a última opção, logo gabarito D

  • a diferença entre parassintese e derivação prefixal e sufixal simultaneamente, é que , retirando-se o prefixo ou sufixo no caso da parassintese a palavra perde o sentido

     

  • Alguns podem ficar em dúvida em relação a apalavra desalmado. Ha, mais desalmado não poderia ser prefixal/sufixal? Não!!!

    Veja:

    Des-alma-do

    Mais porque não é prefixal/sufixal se começa com um prefixo e termina com um sufixo e alma tem sentido completo? Bom, no prefixo/sufixo a retirada de qualquer um deles a palavra teria sentido. Veja que o que caracteriza uma palavra prefixal/sufixal não necessariamente o fato de existir um prefixo e um sufixo ao mesmo tempo na palavra como ocorre em desalmado, o que caracteriza o prefixo e o sufixo é o fato de que se retiramos o prefixo ou o sufixo (e não ambos) a palavra continua a ter sentido.

    Sabem por que muitos ainda confundem esses dois temas( prefixal/sufixal X parassitética)? simples!!! Porque o primeiro exemplo que dão é da palavra deslealdade!!!!

    Des-leal-dade: Desleal, leal, lealdade!!!

    O fato é que essa palavra é prefixal/sufixal não porque se tirarmos ambos(prefixo/sufixo) ela continuaria a ter sentido, e sim por que se tirarmos DES ela tem sentido!!!! porque se tirarmos DADE ela tem sentido. o que não ocorre em desalmado Por isso  não é prefixal/sufixal.

  • Até entendi as explicações dos colegas, mas consegui fazer por eliminação. Se observarem bem, as três primeiras palavras tem um verbo no meio (preocupar, valorizar e alinhar) e a palavra desalmado não tem verbo no meio (não existe almar). E  como disseram os colegas anteriormente, retirando o prefixo a palavra perde o sentido. Bons estudos!!!

  • O enunciado da questão omitiu uma informação IMPORTANTE sobre a derivação parasintética. Segunda a professora Flávia Rita, o que diferencia "derivação sufixal e prefical" de "parassintética" é que se retirado o prefixo ou o sufixo no segundo caso, a palavra fica "sem sentido".

    DESCAMPADO. Se retirar o DES, existe campado? Não, então se trata de derivação parassintética.

    a) despreocupado

    DES = prefixo

    RADICAL = preocup (pois pode ser formado PREOCUPE, PREOCUPAÇÃO..)

    ADO = sufixo

    Se retirar o DES, existe preocupado? SIM. então se trata de DERIVAÇÃO SUFIXAL E PREFIXAL.

    b) desvalorizado

    DES = prefixo

    VALOR = radical

    IZADO = sufixo

    Se retirar o DES, existe valorizado? SIM, então se trata de DERIVAÇÃO SUFIXAL E PREFIXAL.

    c) desalinhado

    DES = prefixo

    ALINHADO = radical

    Se retirar o DES, existe alinhado? Sim, então se trata de DERIVAÇÃO PREFIXAL E SUFIXAL.

    d) desalmado

    DES = prefixo

    ALM = radical (pois forma alma)

    ADO = sufixo

    Se retirar o DES, existe almado? Não, então se trata de DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA.

  • quando a banca cobrar derivação parassintética, tem 99% de chance da palavra ser desalmado kkk

  • Excelente explicação da Isabela Miranda 

  • GAB D; quando a questão fala palavra primitiva, ou seja não tem mais palavras com radicais iguais ,tentem formar mentalmente outras palavras sem mudar o radical e ver se dar certo, pq se não der certo é essa a palavra primitiva

  • Quanto ao processo de formação da palavra descampado (primeiro parágrafo), observa-se que é formada por PARASSÍNTESE ou PARASSINTÉTICA, processo mediante o qual acrescenta-se simultaneamente um prefixo e um sufixo ao radical da palavra primitiva. O seguinte vocábulo também é formado por derivação parassintética:

    4.    PARASSÍNTESE ou PARASSINTÉTICAACRÉSCIMO simultâneo IRREMOVÍVEL.

    o   Avermelhadoanoiteceremudeceramanhecer.

    GABARITO:

    d) desalmado

    DES = prefixo

    ALM = radical (pois forma alma)

    ADO = sufixo

    Se retirar o DES, existe almado? Não, então se trata de DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA.

     

    FORMAÇÃO DE PALAVRAS EM LÍNGUA PORTUGUESA:

     1) PRIMITIVOSNão são formados a partir de outras palavras da língua.

       I. Justaposição.

    • Sem perda de elementos. Junção de dois ou mais radicais usando o hífen:

    EX: Guarda-chuva, arranha-céu, guarda-noturno, flor-de-lis.

      II. Aglutinação.  

    • Com perda de elementos. Um dos radicais sofre alteração:

    EX: Embora (em + boa + hora) | Fidalgo (filho de algo) |

     2) DERIVADOS: São formados a partir de outra palavra primitiva.

     

    1.    PREFIXAL: ACRÉSCIMO de um prefixo ANTES da raiz da palavra. 

    o   Reforma, anfiteatro, desfazer, reescrever, ateu, infeliz.

    2.    SUFIXALACRÉSCIMO de um sufixo APÓS a raiz da palavra. 

    o   Formalmente, fazimento, felizmente, mocidade, teísmo.

     

    3.    PREFIXAL SUFIXAL: ACRÉSCIMO simultâneo com POSSIBILIDADE DE REMOÇÃO.

    o   Infelizmenteateísmodesordenamento.]

     

    4.    PARASSÍNTESE ou PARASSINTÉTICAACRÉSCIMO simultâneo IRREMOVÍVEL.

    o   Avermelhadoanoiteceremudeceramanhecer.

     

    5.    REGRESSIVA OU DEVERBAL: SUBSTANTIVOS ABSTRATOS NO INFINITIVO (r).

    Ocorre quando uma palavra é formada não por acréscimo de sufixo e/ou prefixo, mas por redução.

    Ex.: “compra”, derivada da palavra primitiva “comprar”

    o   Abalo (“abalar”)

    o   Agito (“agitar”).

    o   Luta (“lutar”)

    o   Fuga (“fugir”).

     

    6.    CONVERSÃO OU IMPRÓPRIA: Alteração classe gramatical.

    o   O jantar – “jantar” é um verbo, mas aqui foi transformado em substantivo.

    o   Um não – “não” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.

    o   O seu sim – “sim” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.