SóProvas


ID
1907821
Banca
FCC
Órgão
SEDU-ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                           Medo da eternidade

        Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.

      Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.

      Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:

      − Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.

      − Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.

      − Não acaba nunca, e pronto.

      Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual eu já começara a me dar conta. 

      Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.

      − E agora que é que eu faço? − perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.

      − Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.

      Perder a eternidade? Nunca.

      O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.

      − Acabou-se o docinho. E agora?

      − Agora mastigue para sempre.

      Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.

      Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava era aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.

      Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

      − Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

      − Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

      Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.

      Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

                                           06 de junho de 1970

(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo – crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p.289-91)

Um dos elementos mais importantes na organização do texto de Clarice Lispector é o advérbio de tempo, como o que se encontra grifado em:

I. Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. (1°parágrafo)

II. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual eu já começara a me dar conta. (7° parágrafo)

III. – E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver. (9° parágrafo)

IV. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. (16° parágrafo)

Atende ao enunciado APENAS o que consta de

Alternativas
Comentários
  • I Jamais

    III - agora

     

    Alternativa D

  • Em relação ao sentido entendido, qual a diferença entre os advérbios das alternativas: I).  e  IV).

  • São advérbios de tempo as palavras:

    hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, amanhã, cedo, antes, depois, ainda, antigamente, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, afinal, amiúde, breve, constantemente, enfim, entrementes (enquanto isso), hoje, imediatamente, primeiramente, tarde, provisoriamente, sucessivamente, 

    Locuções Adverbiais de Tempo

    às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia. 

    Gabarito: ( D )

    Obs: Quando meus comentários estiverem desatualizados ou errados, mandem-me msgns no privado, por favor, porque irei corrigi-los.

  • Mario, na alternativa IV, trata-se de uma preposição antecedendo um verbo no infinitivo.

  • Colegas, advérbio não teria que estar colado num verbo, num advérbio ou num adjetivo?

    então a frase III " E agora que é....",

    como se explica? alguem poderia me dizer, ou ele mesmo solto seria um advérbio? não importando em que lugar da frase estivesse.

  • O adverbio nao é um termo principal em uma oracao e indica circunstancia, logo voce pode retira-lo.. essa dica ajuda a resolver a questao.

  • IV - "sem parar" é adjunto adverbial de modo.

    IV. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.

    É o modo como ele mastigava

  • J CARVALHO, o termo "agora" está modificando o verbo "fazer"

    III. – E agora que é que eu faço? 

    O que ele faz agora?

  • consegui fazer o item sabendo com certeza os itens II e III.

  • I. Jamais( indica tempo)esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. (1°parágrafo)

    II. E eis-me(indica designação )com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual eu já começara a me dar conta. (7° parágrafo)

    III. – E agora (indica tempo)que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver. (9° parágrafo)

    IV. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem (não é adverbio é preposição)parar. (16° parágrafo)

  • PALAVRA DENOTATIVA =    EIS  QUE  = AQUI ESTÁ

     

    Ex. Eis o verdadeiro culpado de tudo.

     

     

    De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio pode ser de:

     

    Q820259 Q535418

    LUGAR: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, , abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhures, embaixo, externamente, a distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta.

     

     

    TEMPO: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, doravante, NUNCA, então, ora, JAMAIS, agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes, imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

     

    ***         Jamais -   NUNCA = EM TEMPO ALGUM

     

     

    MODO: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em "-mente": calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosamente, generosamente.

     

     

     

     

     

    AFIRMAÇÃO: sim, certamente, realmente, decerto, efetivamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.

     

    NEGAÇÃO: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.

    Q822878 CUDIADO PARA NÃO CONFUNDIR COM PRONOME INDEFINIDO:  NENHUM

     

     

     

    DÚVIDA: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.

     

     

    Q803300

    INTENSIDADE: muito, demais, pouco, tão, em excesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo, extremamente, intensamente, grandemente, BEM rápido (quando aplicado a propriedades graduáveis).

     

     

    EXCLUSÃO: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente, simplesmente, só, unicamente.
    Por exemplo: Brando, o vento apenas move a copa das árvores.

     

    Q596878

    INCLUSÃO: ainda, ATÉ =  INCLUSIVE, mesmo, inclusivamente, também.
     

    Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a adolescência.

     

     

     

     

    ORDEM: depois, primeiramente, ultimamente.
    Por exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus amigos por comparecerem à festa.

     

    Q643168

     

    No contexto da FRASE:   "Jamais" não é considerado um advérbio de negação e sim advérbio de TEMPO, pode ser substituído por "Em tempo algum".

     

    MUITO = UM POUCO/BASTANTE/MEIO  : ADVÉRBIO (INVARIÁVEL)

     

     

    MUITOS, MUITAS  = BASTANTES:  ADJETIVO (VARIÁVEL)

     

    ..........

     

    - aí: advérbio de lugar;


    - ai: interjeição de dor. 

     

    SÓ =  SOMENTE (ADVÉRBIO)

     

    SÓ  =  SOZINHO (ADJETIVO)

     

  • Alternativa D

    sem não é advérbio é preposição.

  • Advérbios de afirmação: sim, perfeitamente, pois sim, positivamente, efetivamente, certamente.

     

    Advérbios de negação: não, nunca, nada, jamais.

     

    Advérbios de modo: bem, mal, melhor, pior, certo, também, depressa, devagar e, em geral, os adjetivos femininos acrescidos do sufixo -mente.

     

    Advérbios de lugar: aqui, ali, lá, além, perto, longe, fora, dentro, onde, acima, adiante.

     

    Advérbios de dúvida: talvez, porventura, provavelmente.

     

    Advérbios de intensidade: muito, pouco, bastante, menos, mais, tão, tanto, todo, completamente, excessivamente.

     

    Advérbios de tempo: agora, já, logo, cedo, tarde, antes, depois, sempre, nunca, jamais, hoje, ontem, amanhã.

     

    Advérbios interrogativos: onde (lugar), quando (tempo), como (modo), por que (causa)

     

    Advérbios de inclusão: até, também.

     

    Advérbios de exclusão: exclusivamente, somente.

     

  • Gabarito letra D.

    No contexto, são advérbios de tempo apenas “jamais” e “agora”.

    A palavra “eis” é denotativa de designação. A palavra “sem” é preposição.

  • Nunca e Jamais são advérbios de tempo.