SóProvas


ID
1919005
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Valença - BA
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  A felicidade é deprimente

                                                                                                 Contardo Calligaris

      É possível que a depressão seja o mal da nossa época.

      Ela já foi imensamente popular no passado. Por exemplo, os românticos (sobretudo os artistas) achavam que ser langoroso e triste talvez fosse o único jeito autêntico de ser fascinante e profundo.

      Em 1859, Baudelaire escrevia à sua mãe: “O que sinto é um imenso desânimo, uma sensação de isolamento insuportável, o medo constante de um vago infortúnio, uma desconfiança completa de minhas próprias forças, uma ausência total de desejos, uma impossibilidade de encontrar uma diversão qualquer”.

      Agora, Baudelaire poderia procurar alívio nas drogas, mas ele e seus contemporâneos não teriam trocado sua infelicidade pelo sorriso estereotipado das nossas fotos das férias. Para um romântico, a felicidade contente era quase sempre a marca de um espírito simplório e desinteressante.

      Enfim, diferente dos românticos, o deprimido contemporâneo não curte sua fossa: ao contrário, ele quer se desfazer desse afeto, que não lhe parece ter um grande charme.

      Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção. Uma vez achado um remédio possível, sempre é preciso propagandear o transtorno que o tal remédio poderia curar. Nessa ótica, a depressão é um mercado maravilhoso, pois o transtorno é fácil de ser confundido com estados de espírito muito comuns: a simples tristeza, o sentimento de inadequação, um luto que dura um pouco mais do que desejaríamos etc.

      De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de sermos felizes.

      Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie de decepção.

      Em agosto de 2011, I. B. Mauss e outros publicaram em “Emotion” uma pesquisa com o título: “Será que a procura da felicidade faz as pessoas infelizes?”. Eles recorreram a uma medida da valorização da felicidade pelos indivíduos e, em pesquisas com duas amostras de mulheres (uma que valorizava mais a felicidade e a outra, menos), comprovaram o óbvio: sobretudo em situações positivas (por exemplo, diante de boas notícias), as pessoas que perseguem a felicidade ficam sempre particularmente decepcionadas.

      Numa das pesquisas, eles induziram a valorização da felicidade: manipularam uma das amostras propondo a leitura de um falso artigo de jornal anunciando que a felicidade cura o câncer, faz viver mais tempo, aumenta a potência sexual – em suma, todas as trivialidades nunca comprovadas, mas que povoam as páginas da grande imprensa.

      Depois disso, diante de boas notícias, as mulheres que tinham lido o artigo ficaram bem menos felizes do que as que não tinham sido induzidas a valorizar especialmente a felicidade.

      Conclusão: na população em geral, a valorização cultural da felicidade pode ser contraprodutiva.

      Mais recentemente, duas pesquisas foram muito além e mostraram que a valorização da felicidade pode ser causa de verdadeiros transtornos. A primeira, de B. Q. Ford e outros, no “Journal of Social and Clinical Psychology”, descobriu que a procura desesperada da felicidade constitui um fator de risco para sintomas e diagnósticos de depressão.

      A pesquisa conclui que o valor cultural atribuído à felicidade leva a consequências sérias em saúde mental. Uma grande valorização da felicidade, no contexto do Ocidente, é um componente da depressão. E uma intervenção cognitiva que diminua o valor atribuído à felicidade poderia melhorar o desfecho de uma depressão. Ou seja, o que escrevo regularmente contra o ideal de felicidade talvez melhore o humor de alguém. Fico feliz.

      Enfim, em 2015, uma pesquisa de Ford, Mauss e Gruber, em “Emotion”, mostra que a valorização da felicidade é relacionada ao risco e ao diagnóstico de transtorno bipolar. Conclusão: cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na nossa saúde mental.

      Como escreveu o grande John Stuart Mill, em 1873: Só são felizes os que perseguem outra coisa do que sua própria felicidade.

Adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/10/1699663-a-felicidade-e-deprimente.shtml Acesso em 10 de março de 2016.

Em relação ao trecho “Conclusão: cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na nossa saúde mental”, sobre a palavra destacada é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • A classificação de verbo de segunda conjugação se explica pelo seguinte:

    A vogal temática, por sua vez, é o elemento que permite a ligação entre o radical e as desinências.

     

    Em português reconhecemos três vogais temáticas:

    -a-, que caracteriza os verbos da primeira conjugação, a exemplo de participar, determinar, ofertar;

    -e-, que caracteriza os verbos da segunda conjugação, a exemplo de entender, surpreender, aquecer. Nesta conjugação incluem-se ainda os verbos que derivam de pôr (supor, compor), visto que sua vogal temática é -e-, cuja origem está na forma arcaica da língua portuguesa poer, do latim ponere;

    -i-, que caracteriza os verbos da terceira conjugação, a exemplo de reagir, partir, sorrir.

  • GABARITO A

     

    Verbo têm que deriva do verbo ter (segunda conjugação terminado em ER) recebe o acento circunflexo diferencial, pois concorda com o sujeito no plural  nossos ideais emocionais.

  • O verbo "ter", no presente do indicativo, assume a forma "têm" (com acento) na terceira pessoa do plural.
    É importante lembrar que a reforma ortográfica não alterou essa regra. Os verbos "ter" e "vir" continuam recebendo o acento circunflexo na terceira pessoa do plural (ele tem/ eles têm; ele vem/ eles vêm). O que mudou foi a regra das formas verbais que terminam em "-eem". Estas perdem o acento: "creem", "leem", "deem" e "veem" (do verbo "ver", não do verbo "vir").
     

    BONS ESTUDOS

    GABARITO A 

  • Complementando as repostas dos amigos e para quem não se lembra:

    1º Conjugação: verbos terminado em –AR.

    2º Conjugação: verbos terminado em –ER.

    3º Conjugação: verbos terminado em –IR.

  • Verbos ter e vir no indicativo:
    1 - Terceira pessoa do singular: não recebem acento:
    Ex: João tem um carro
           Carlos vem amanhã a Brasilia
    2 - Terceira pessoal do plural: recebem acento circunflexo:

    Ex: João e Maria têm um carro
           Carlos e Fernando vêm amanhã a Brasilia

     

  • a)

    trata-se de um verbo da segunda conjugação da língua portuguesa, que aparece conjugado na terceira pessoa do plural e concorda com o sujeito da oração.

  • CONJUGAÇÃO VERBAL

    1° conjugação: final “AR” cantar                                                                                                                                               2°conjugação final“ER” comer                                                                                                                                                                 3° conjugação final “IR” partir

    Presente do indivativo 

     

    EU tenho                                                                                                                                                                                                     TU tens                                                                                                                                                                                                       ELE tem                                                                                                                                                                                                       NÓS temos                                                                                                                                                                                                   VÓS tendes                                                                                                                                                                                               ELES têm Gabarito Letra A 

                                                                                                                                                                                               

  •  a) trata-se de um verbo da segunda conjugação da língua portuguesa, que aparece conjugado na terceira pessoa do plural e concorda com o sujeito da oração. (Correto)

     

    1 - Têm vem do verbo Ter ( 2º Conjugação: verbos terminado em –ER);

     

    2 - Está na terceira pessoa do plural:

    Eu tenho (1° pessoa do singilar)

    Tu tens  (2° pessoa do singular)

    Ele tem (3° pessoa do singular)

    Nós temos (1° pessoa do plural)

    Vós tendes  (2° pessoa do plural)

    Eles têm (3° pessoa do plural)

     

    3 - Conclusão: cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na nossa saúde mental.

    O verbo têm está concordando com o sujeito nossos ideais emocionais.

     

     

     b) foi indevidamente acentuada, considerando-se a correta conjugação do verbo “ter” e as regras de acentuação das palavras em língua portuguesa. (Errada)

     

    Podemos escrever o verbo TER, no presente do indicativoCOM ou SEM o acento circunflexo, mas em situações distintas. Isso significa que as duas formas estão corretas, apenas estão conjugadas em diferentes pessoas do discurso.

    TEM: Escrevemos o verbo TER no presente do indicativo SEM o acento circunflexo (TEM) quando o conjugamos na 3ª pessoa do SINGULAR: Ele tem.

    TÊMEscrevemos o verbo TER no presente do indicativo COM o acento circunflexo (TÊM) quando o conjugamos na 3ª pessoa do PLURAL: Eles têm.

     

     c) trata-se de um verbo intransitivo que sintaticamente não necessita de objeto como complemento verbal. (Errada)

     

    Conclusão: cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na nossa saúde menta

    O verbo ter é um verbo transitivo,  os verbos transitivos são aqueles que necessitam de complemento por possuírem o sentido incompleto. Tais verbos transitam e precisam de um complemento para que a ação verbal tenha sentido.

    Quem tem, tem alguma coisa, não é? Tenho o quê? uma função crítica na nossa saúde mental é o objeto direto do verbo têm, logo o verbo Têm é transitivo direto.

     

     

     d) trata-se de um verbo da primeira conjugação cujo acento circunflexo diferencia a terceira pessoa do singular e do plural. (Errada)

     

    Têm vem do verbo Ter ( 2º Conjugação: verbos terminado em –ER), e o acento circunflexo diferencia a terceira pessoa do singular (Ele tem) e terceira pessoa do plural (Eles têm)

    1º Conjugação: verbos terminado em –AR.

    2º Conjugação: verbos terminado em –ER. 

    3º Conjugação: verbos terminado em –IR

     

     e) apresenta acento circunflexo facultativo, conforme as regras ortográficas da língua portuguesa, de modo que poderia ser substituída pela forma “tem” (sem acento) e manter a concordância verbal. (Errada)

     

    Acento circunflexo obrigatório pois diferencia o verbo ter no singular (tem) do verbo ter no plural (têm)

  • Letra A – CERTA – De fato! Trata-se de flexão do verbo TER, de final ER, o que configura a 2ª conjugação. A forma verbal apresenta acento diferencial circunflexo para indicar flexão de plural, estabelecendo concordância com o sujeito “nossos ideais emocionais”.

    Letra B - ERRADA – O acento é necessário, para que haja concordância com o sujeito de núcleo plural “nossos ideais emocionais”.

    Letra C – ERRADA – O verbo “ter” se apresenta como transitivo direto e tem como objeto direto o termo “uma função crítica...”.

    Letra D – ERRADA - Trata-se de flexão do verbo TER, de final ER, o que configura a 2ª conjugação

    Letra E – ERRADA – O acento diferencial se torna necessário, para que haja concordância com o sujeito de núcleo plural “nossos ideais emocionais”.

    Resposta: A