SóProvas


ID
1936111
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  O Médico e o monstro

                                                                                     Paulo  Mendes Campos

      Avental branco, pincenê vermelho, bigodes azuis, ei-lo, grave, aplicando sobre o peito descoberto duma criancinha um estetoscópio, e depois a injeção que a enfermeira lhe passa.

      O avental na verdade é uma camisa de homem adulto a bater-lhe pelos joelhos; os bigodes foram pintados por sua irmã, a enfermeira; a criancinha é uma boneca de olhos cerúleos, mas já meio careca, que atende pelo nome de Rosinha; os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos.

      Ela, seis anos e meio; o doutor tem cinco. Enquanto trabalham, a enfermeira presta informações:

      - Esta menina é boba mesmo, não gosta de injeção, nem de vitamina, mas a irmãzinha dela adora.

      O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da boca de Rosinha, pede uma colher, manda a paciente dizer aaá. Rosinha diz aaá pelos lábios da enfermeira. O médico apanha o pincenê, que escorreu de seu nariz, rabisca uma receita, enquanto a enfermeira continua:

      - O senhor pode dar injeção que eu faço ela tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não quiser, NE, vai ficar muito magrinha que até o vento carrega.

      O médico, no entanto, prefere enrolar uma gaze em torno do pescoço da boneca, diagnosticando:

      - Mordida de leão.

      - Mordida de leão, pergunta, desapontada, a enfermeira, para logo aceitar este faz de conta dentro do outro faz de conta; eu já disse tanto, meu Deus, para essa garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho Vermelho...

      Novos clientes desfilam pela clínica: uma baiana de acarajé, um urso muito resfriado, porque só gostava de neve, um cachorro atropelado por lotação, outras bonecas de vários tamanhos, um papai Noel, uma bola de borracha e até mesmo o pai e a mãe do médico e da enfermeira.

      De repente, o médico diz que está com sede e corre para a cozinha, apertando o pincenê contra o rosto. A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento no seu amor de filho e também para preparar-lhe um copázio de vitaminas: tomate, cenoura, maçã, banana, limão, laranja e aveia. O famoso pediatra, com um esgar colérico, recusa a formidável droga.

      - Tem de tomar, senão quem acaba no médico é você mesmo, doutor.

      Ele implora em vão por uma bebida mais inócua. O copo é levado com energia aos seus lábios, a beberagem é provada com uma careta. Em seguida, propõe um trato:

      - Só se você depois me der um sorvete.

      A terrível mistura é sorvida com dificuldade e repugnância, seus olhos se alteram nas órbitas, um engasgo devolve o restinho. A operação durou um quarto de hora. A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa, revidada com a ameaça dum chute. Já estamos a essa altura, como não podia deixar de ser, presenciado a metamorfose do médico em monstro.

      Ao passar zunindo pela sala, o pincenê e o avental são atirados sobre o tapete com um gesto desabrido. Do antigo médico resta um lindo bigode azul. De máscara preta e espada, Mr. Hyde penetra no quarto, onde a doce enfermeira continua a brincar, e desfaz com uma espadeirada todo o consultório: microscópio, estetoscópio, remédios, seringa, termômetro, tesoura, gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão. A enfermeira dá um grito de horror e começa a chorar nervosamente. O monstro, exultante, espeta-lhe a espada na barriga e brada:

      - Eu sou o Demônio do Deserto!

      Ainda sob o efeito das vitaminas, preso na solidão escura do mal, desatento a qualquer autoridade materna ou paterna, com o diabo no corpo, o monstro vai espalhando o terror a seu redor: é a televisão ligada ao máximo, é o divã massacrado sob os seus pés, é um cometa indo tinir no ouvido da cozinheira, um vaso quebrado, uma cortina que se despenca, um grito, um uivo, um rugido animal, é o doce derramado, a torneira inundando o banheiro, a revista nova dilacerada, é, enfim, o flagelo à solta no sexto andar dum apartamento carioca.

      Subitamente, o monstro se acalma. Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo com doçura que conte uma história ou lhe compre um carneirinho de verdade.

      E a paz e a ternura de novo abrem suas asas num lar ameaçado pelas forças do mal.

OBS.: O texto foi adaptado às regras no Novo Acordo Ortográfico. 

A única alternativa em que há verbo na segunda conjugação é:

Alternativas
Comentários
  • Essa questão tá errada cara. Segunda conjugação é terminada em er. Só na letra a que tem isso.
  • Concordo.

     

  • Sorver - infinitivo - 2º conjugação - gab letra A

  • B-A enfermaria dá um grito de horror e começa a chorar nervosamente- UM SUBSTANTIVO E UM VERBO, CONJUGADOÇAO 1, ELE QUE A SEGUNDA

    OBS; HORROR E SUBSTANTIVO

    C-(...) os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos. VEM DO VERBO SAIR, CONJUGADO NA 3

    D-Novos clientes desfilam pela clínica. VEM DO VERBO DESFILAR, CONJUGADO NA 1

    E-

    A operação durou um quarto de hora. VEM DO VERBO DURAR, CONJUGADO 1

    SOMENTE A LETRA A QUE TEM UM VERBO SER REPRESENTADO POR E

    CONJUGAÇAO;

    1-AR

    2-ER E OR

    3-IR

    INSTAGRAM; LEONARDO_BISPPO

  • LETRA A

    trata-se do verbo SER

    A terrível mistura É sorvida com dificuldade e repugnância.

  • Pessoal cuidado, quando ele fala 2 conjugação ele não quer falar 2 pessoa digo isso porque vir um amigo meu erra essa questão por essa confusão.

    1 conjugação- Ar

    2 conjugação-Er e Or

    3 conjugação-Ir

    A

    A terrível mistura é sorvida com dificuldade e repugnância (...). 2 conjugação é=ser

    B

    A enfermaria um grito de horror e começa a chorar nervosamente. 1 conjugação dá=dar CUIDADO: horror é substantivo

    C

    (...) os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos.3 conjugação saem=sair

    D

    Novos clientes desfilam pela clínica (...). desfilam=desfilar 1 conjugação

    E

    A operação durou um quarto de hora. durou=durar 1 conjugação