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ID
1972441
Banca
Aeronáutica
Órgão
CIAAR
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                             Contra a mera “tolerância” das diferenças

      “É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.

      “Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.

      “Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.

      Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegêmonica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.

      Tolerar não deve ser celebrada e buscada nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.

      Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

(QUINALHA, Renan. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/contra-a-mera-tolerancia-das-diferencas/. Acesso em: 30/03/2016. Trecho.)

Julgue as assertivas abaixo, a partir das ideias apresentadas pelo texto.

I. No terceiro parágrafo, o autor faz a defesa de que haja a hierarquização entre os que “toleram” em detrimento dos que são “tolerados”.

II. Nos dois últimos parágrafos, há a explicação, onde é elucidada a relação entre o fato e a ideia defendidas pelo autor do texto.

III. A última oração do texto é melhor compreendida quando o leitor assume uma atitude responsiva ativa diante dela.

Estão corretas as afirmativas

Alternativas
Comentários
  • Alternativa: D

    (I) Errada: O autor faz a defesa contrária do postulado, por meio do recurso de refutação e da comparação. Em verdade, o que
    ele apresenta é o discurso hegemônico e, após, pontua a fragilidade dele com: “Como se este dependesse do
    consentimento daquele para poder existir”.
    (II) Correta: A utilização da “explicação” se baseia em elucidar a relação entre fatos e ideias ou fazer entender a veracidade (ou
    não de alguma ideia, teoria ou fato através de elementos ou argumentos. Considerando, em geral a relação de “causa”
    e “efeito”. Dessa forma, no texto, o autor explana os fundamentos contrários à ideia que defende e argumenta o porquê
    de eles não se sustentarem; ainda, nesse caso, não é possível afirmar que há uma “demonstração”, porque ocorre a
    argumentação (a demonstração ocorreu anteriormente ao penúltimo parágrafo).
    (III) Correta: Na última oração, “isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais”, o autor
    chama ao texto informações do universo extratextual (“mundo marcado por graves desigualdades”), sendo assim, o
    leitor ativo, sob a égide sociocognitva-interacional, deve assumir uma posição responsiva, no sentido de verificar,
    concordar ou não, com a ideia lançada, a partir de seus conhecimentos do mundo.
    Fontes:
    GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna: Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 27. ed. Rio de
    Janeiro: FGV, 2010 (p. 105; 385-6);
    CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza A. Cochar; CILEY, Cleto. Interpretação de textos. Construindo
    competências e habilidades em leitura. 2. ed. São Paulo: Atual Editora, 2012 (p. 115);
    KOCH, Ingedore Vilaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006 (p.
    12).