SóProvas


ID
1979914
Banca
AOCP
Órgão
Sercomtel S.A Telecomunicações
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Perdoar e esquecer

Quando a vida se transforma num tango, é difícil não dançar ao ritmo do rancor

                                                                                                                                        Ivan Martins

Hoje tomei café da manhã num lugar em que Carlos Gardel costumava encontrar seus parceiros musicais por volta de 1912. É um bar simples, na esquina da rua Moreno com a avenida Entre Rios, chamado apropriadamente El Encuentro.

Nunca fui fã aplicado de tango, mas cresci ouvindo aqueles que a minha mãe cantava enquanto se movia pela casa. Os versos incandescentes flutuam na memória e ainda me emocionam. Soprado pelo fantasma de Gardel, um deles me veio aos lábios enquanto eu tomava café no El Encuentro: “Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo que has sido...”

Vocês conhecem Mano a mano, não?

Essencialmente, é um homem falando com a mulher que ele ama e que parece tê-lo trocado por uma vida melhor. Lembra, em espírito, o samba Quem te viu, quem te vê, do Chico Buarque, mas o poema de Gardel é mais ácido e rancoroso. Paradoxalmente, mais sutil. Não se sabe se o sujeito está fazendo ironia ou se em meio a tantas pragas ele tem algum sentimento generoso em relação à ex-amante. Nisso reside o apelo eterno e universal de Mano a mano – não é assim, partido por sentimentos contraditórios, que a gente se sente em relação a quem não nos quer mais?

Num dia em que estamos solitários, temos raiva e despeito de quem nos deixou. No outro dia, contentes e acompanhados, quase torcemos para que seja feliz. O problema não parece residir no que sentimos pelo outro, mas como nos sentimos em relação a nós mesmos. Por importante que tenha sido, por importante que ainda seja, a outra pessoa é só um espelho no qual projetamos nossos sentimentos – e eles variam como os sete passos do tango. Às vezes avançam, em outras retrocedem. Quando a gente acha que encontrou o equilíbrio, há um giro inesperado.

Por isso as ambiguidades de Mano a mano nos pegam pelas entranhas. É difícil deixar para trás o sentimento de abandono e suas volúpias. É impossível não dançar ao ritmo do rancor. Há uma força enorme na generosidade, mas para muitos ela é inalcançável. Apenas as pessoas que gostam muito de si mesmas são capazes de desejar o bem do outro em circunstâncias difíceis. A maioria de nós precisa ser amada novamente antes de conceder a quem nos deixou o direito de ser feliz. Por isso procuramos com tanto afinco um novo amor. É um jeito de dar e de encontrar paz.

No último ano, tenho ouvido repetidamente uma frase que vocês já devem ter escutado: Não se procura um novo amor, a gente simplesmente o encontra. O paradoxo é bonito, mas me parece discutível. Supõe que o amor é tão acidental quanto um tropeção na calçada. Eu não acho que seja. Imagina que a vontade de achar destrói a possibilidade de encontrar. Isso me parece superstição. Implica em dizer que se você ficar parado ou parada as coisas virão bater na sua porta. Duvido. O que está embutido na frase e me parece verdadeiro é que não adianta procurar se você não está pronto – mas como saber sem procurar, achar e descobrir que não estava pronto?

É inevitável que a gente cometa equívocos quando a vida vira um tango. Nossa carência nos empurra na direção dos outros, e não há nada de errado nisso. É assim que descobrimos gente que será ou não parte da nossa vida. Às vezes quebramos a cara e magoamos os outros. O tango prossegue. O importante é sentir que gostam de nós, e que nós somos capazes de gostar de novo. Isso nos solta das garras do rancor. Permite olhar para trás com generosidade e para o futuro com esperança. Não significa que já fizemos a curva, mas sugere que não estamos apenas resmungando contra a possibilidade de que o outro esteja amando. Quando a gente está tentando ativamente ser feliz, não pensa muito no outro. Esse é o primeiro passo para superar. Ou perdoar, como costuma ser o caso. Ou esquecer, como é ainda melhor.

No primeiro verso de Mano a mano, Gardel lança sobre a antiga amante a maldição terrível de que ela nunca mais voltará a amar. Mas, ao final da música, rendido a bons sentimentos, oferece ajuda e conselhos de amigo, quando chegar a ocasião. Acho que isso é o melhor que podemos esperar de nós mesmos. Torcer mesquinhamente para jamais sermos substituídos - mas estarmos prontos para aceitar e amparar quando isso finalmente, inevitavelmente, dolorosamente, vier a acontecer.

(Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2016/01/perdoar-e-esquecer.html)

No trecho “Às vezes quebramos a cara e magoamos os outros”, a expressão em destaque expressa

Alternativas
Comentários
  • "Às vezes" - locução adverbial de tempo. 

    Advérbios de Tempo:

    Afinal, agora, amanhã, amiúde (da expressão a miúdo - repetidas vezes, frequentemente), antes, ontem, breve, cedo, constantemente, depois, enfim, entrementes (enquanto isso), hoje, imediatamente, jamais, nunca, sempre, outrora, primeiramente, tarde, provisoriamente, sucessivamente, já.

    Locuções adverbiais de tempo:

    Às vezes, à(de) tarde, à(de) noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

    Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Adv%C3%A9rbio#Locu.C3.A7.C3.A3o_Adverbial

    Boa sorte e bons estudos!

     

  • Temporais: introduzem uma oração que acrescenta uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração principal.

  • adverbios/adjunto adverbiais de tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antes, nunca, então, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, breve, constantemente, imediatamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

  • Robson Pessoa.. e a outra vaga é minha! kkkkkk

  • ROBSON E NAILA então serviremos juntos kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk gaba A!

  • Acredito que o termo 'Às vezes' no contexto tenha maior relação com Frequência do que com Tempo.

    Mas só tinha a opção Tempo, vai ela mesma. kkkk

  • Gab. A

    ROBSON A VAGA É NOSSA, ENTÃO. kkkkkkkkkkkkk

     

  • Letra A

    Pode ser substituida por em alguns momentos, dá ideia de frequência do tempo.

  • Está complicado responder questões da AOCP, cheia de comentario quando vou conferir achando que tem algo util, so tem o povo abestado falando de vaga PMTO. (ninguem quer saber qual concurso você irá fazer ou deixar de fazer, isso aqui não é facebook ou insta para comentarios de vida pessoal e sim um local de estudos. 

    Vamos usar para tal, ou jaja teremos memes e fotos nas postagens também. 

  • Locuções Adverbiais de Tempo

    às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

    simples desse jeito ;)

  • Antigamente eu fazia muita confusão com intensidade e frequência por não entender direito o significado , mas se ajudar alguém , é assim que eu penso:

    Intensidade: seria um grau de medida, por exemplo:  muito , pouco , bastante , etc..

    Frequência (ligada ao tempo): Seria o intervalo de tempo que as coisa acontece: constantemente , raramente , nunca , etc...

     

    Então o "às vezes" está medindo o intervalo de tempo em que essa ação acontece, e não o grau , a força , com que esta ação acontece. 

  • Advérbio de tempo. É só substituirmos a expressão "Às vezes" por "em alguns momentos" que fica ainda mas evidente.

    Às vezes quebramos a cara e magoamos os outros”

    "Em alguns momentos quebramos a cara e magoamos os outros

  • "quebramos a cara e magoamos os outros" - QUANDO? ÀS VEZES

    Portanto, indica TEMPO.